Aprendendo arte com o coração: Conheça a história de Xadalu
SOBRE XADALU TUPÃ JEKUPE
Artista mestiço e nascido em Alegrete no ano de 1985, Xadalu tem sua origem ligada aos indígenas que habitavam as margens do Ibirapuitã. Era na beira desse rio que sua avó Dalva morava, em uma casa de barro e capim, vivendo da pesca. Foi com ela e a mãe, Maria Catarina, que Xadalu chegou a Porto Alegre, em 1996, quando a família decidiu tentar a vida na capital gaúcha.
Foto: Xadalu. Crédito: Vagner Damasceno.
Por falta de emprego e dinheiro, acabaram morando na periferia da cidade, na Vila do Funil. Com a mãe ele começou a juntar latinhas para sobreviver. Mais tarde, trabalhou como gari. Chegou a morar na rua, até conseguir um emprego em que aprendeu a fazer serigrafia. A partir daquele momento, sua vida começou a mudar.
Ao desenvolver esse novo ofício, criou o adesivo do indiozinho Xadalu, que colava com vontade e velocidade pelas ruas e paredes de Porto Alegre – ele próprio se refere ao personagem como “indiozinho”. O artista acabou incorporando o nome de seu personagem, que é inspirado em Shadaloo, do game Street Fighter. A alcunha não poderia ser mais perfeita, já que ele é um guerreiro das ruas, por sua trajetória como sem-teto, gari e artista visual.
Foto: Indiozinho sendo colado nas ruas de Paris, na França. Crédito: Reprodução Facebook Xadalu - Movimento Urbano.
STICKER ART
Após uma foto postada por Xadalu numa rede social viralizar, na qual apareciam seus adesivos, um verdadeiro fenômeno aconteceu. Artistas de diferentes países entraram em contato com ele, iniciando um grande intercâmbio com pessoas de todo o mundo. Trocava seus adesivos com os de outros artistas. Então se deu conta de que fazia – sem mesmo saber disso – a sticker art (em tradução livre, arte de adesivo).
Há neste movimento uma grande amizade e camaradagem, em que um ajuda o outro, espalhando adesivos e cartazes mundo afora. Com essa rede de amigos, a imagem do pequeno indígena se multiplicou pelo planeta, chegando às ruas de países como França, Cuba, Argentina, Angola, Japão, China, Estados Unidos, Austrália, Holanda e Guatemala.
TERRITÓRIO INDÍGENA
Se tudo começou com a imagem de um indiozinho, Xadalu continuou criando imagens que comunicavam a realidade dos povos originários. Usando serigrafia, estêncil, pintura, fotografia e objetos, ele cria arte inspirado no que aprendeu com os sábios ao redor da fogueira. Quando buscou resgatar sua própria ancestralidade junto à comunidade Guarani Mbyá, descobriu também seu rumo dentro da arte.
Em alguns dos momentos mais difíceis de sua vida, descobriu nas ruas a realidade desigual em que vivemos e dela nasceu sua linguagem artística. Consolidou seu nome como artista urbano antes de migrar para os museus e as galerias – e é nas ruas que ele busca comunicar-se diretamente com o seu público. Para ele, a cidade é um grande museu a céu aberto.
Em sua obra, Xadalu retrata muitos bichos e se aproxima da estética gráfica pop. Quer mostrar ao mundo a importância da preservação da natureza. Como ativista, usa sua arte para mostrar a invisibilidade dos povos indígenas e defender a ocupação igualitária de espaços.
Pensando nisso, em 2004 ele criou um cartaz em que escreveu "área indígena", em verde, amarelo e azul, e espalhou cerca de mil deles pelas ruas de Porto Alegre. Com essa obra, nos fez lembrar que o homem branco invadiu terras ancestrais e dizimou boa parte da população indígena. Despertando a sociedade para esse fato histórico, Xadalu causa incômodo. Desconforto este que faz parte do papel do artista contemporâneo.
Foto: Parede da série Área Indígena. Crédito: Cristiano Lindenmeyer Kunze. Reprodução: Facebook de Xadalu - Movimento Urbano.
GANHANDO O MUNDO
Xadalu e sua arte hoje pertencem também a museus, galerias e instituições culturais. Ele já participou de mais de 15 exposições coletivas e mais de dez individuais em cidades como Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo e também em países como Alemanha e França. Entre os prêmios que conquistou, destaca-se o primeiro lugar no Prêmio Aliança Francesa de Arte Contemporânea de 2020, que lhe rendeu uma residência artística de dois meses no Centre Intermondes, na cidade francesa de La Rochelle.
Foto: Fauna Guarani marcando presença em Firenze, na Itália. Crédito: Reprodução Facebook Xadalu Tupã Jekupé.
XADALU E AS CRIANÇAS
O artista está acostumado a ensinar e a aprender com as crianças. Primeiramente, com as indígenas, dentro de sua própria comunidade. Com os pequenos, promove uma grande troca de informações, energia e afeto, levando a importante mensagem de respeito à natureza e aos povos ancestrais.
Foto: Abertura da exposição Antes que se apague territórios flutuantes na Fundação Iberê - Crédito Nilton Santolin.
Ele vê nessas atividades uma oportunidade de ajudar na construção da educação infantil, despertando o interesse das crianças pelo mundo natural. Quer que as gerações futuras compreendam mais sobre os temas que defende e assim participem da sociedade de maneira mais consciente e ativa.
Atualmente cursando licenciatura em artes visuais com foco em aldeias indígenas, Xadalu desenvolveu junto a instituições e escolas uma série de programas lúdicos, como oficinas de arte e educação, além de contação de histórias. Ele garante que nessas atividades aprende muito com o olhar sensível das crianças.
Foto: Xadalu mostrando obra inspirada em contos indígenas, exposta na Fundação Iberê. Crédito: Nilton Santolin.
DICAS DO LING
Existem vários vídeos interessantes à disposição na internet para quem quer aprender mais sobre este importante artista visual gaúcho. Aqui você pode ter um panorama sobre a arte e a história de Xadalu.
Ficou curioso sobre a sticker art? Você descobre como essa forma de expressão surgiu na vida do artista neste vídeo. E no documentário de curta duração Sticker Connecion você acompanha como começou o intercâmbio de Xadalu com artistas de diversos países.
Para quem ficou interessado e quer entender mais sobre as técnicas aplicadas pelo artista, confira a explicação dele sobre o estêncil e a serigrafia.
Aos que preferem podcasts, a dica é ouvir o Visões de uma cosmovisão, com Xadalu Tupã Jekupé, que é uma produção do Sesc Cultura.
Confira as imagens da exposição Uma Experiência Compartilhada, que aconteceu no início de 2022, no Instituto Ling, e contou com obras de importantes artistas, incluindo uma gravura criada por Xadalu. No material, você encontra também um verbete sobre diferentes técnicas de gravura.
REFERÊNCIAS
ALVES, Cauê. Antes que se apague. Texto do catálogo de exposição da Fundação Iberê Camargo.
HERKENHOFF, Paulo. Disponível em: https://www.xadalu.com/
NUNO, Aldones. Nhemongarai: um corpo além do tempo. Disponível em: https://www.premiopipa.com/wp-content/uploads/2022/04/Nhemongarai_-um-corpo-ale%CC%81m-do-tempo.docx.pdf