Haydn-Mozart: conectados pelo classicismo e recíproca admiração
Franz Joseph Haydn é o primeiro nome da tríade dos mais importantes compositores do período clássico, seguido de Mozart e Beethoven. Foi considerado o “pai da sonata”, uma das formas mais características do classicismo.
Nasceu em Rohrau, na Áustria, em 31 de março de 1732. Afeito à música folclórica, Mattias Haydn, pai de Haydn, foi seu principal incentivador. Com seis anos, cantava e tocava diversos instrumentos, predicados que possibilitaram que fosse convidado por Johann Matthias Franck, mestre de capela em Hainburg, a partir para Viena, onde estudou cravo e violino. Após ter sido demitido do coro de meninos da Catedral de Santo Estêvão, aos 17 anos, atuou como musicista autônomo. Ministrou aulas, tocou em igrejas, bailes e tavernas. Neste mesmo período, conheceu o compositor italiano Niccolò Porpora e foi com ele que conheceu os principais fundamentos da composição.
À medida que sua notabilidade aumentava, passou a ocupar cargos importantes. Foi diretor musical da câmara do conde Karl von Morzin e mestre de capela. Em 1784, Haydn conhece o jovem Mozart, com quem inicia uma sólida amizade. Embasamentos teóricos dão conta de que foi por causa da genialidade de Mozart em composições para ópera e concertos que Haydn deixou de compor estas duas formas.
Em carta enviada por Haydn a Franz Roth, em 1787, ele esclarece como a relação com a forma mudou após ter conhecido Mozart.
“Você me pede uma ópera buffa… Envio com todo prazer, se você quiser ter uma das minhas composições vocais para sua coleção pessoal. Mas se você pretende apresentá-la em Praga, não posso corresponder ao seu desejo, pois todas as minhas óperas são muito ajustadas ao nosso gosto local e, além disso, elas não produziriam o efeito apropriado em Praga. Seria outra coisa se eu tivesse a sorte de compor com novo libreto para o seu teatro. Mas, mesmo assim, eu estaria arriscando um ótimo contrato, pois dificilmente qualquer homem pode ser comparado ao grande Mozart. Se eu pudesse imprimir na alma de cada amante da música, e nas grandes personalidades em particular, o quão inimitável são as obras de Mozart, o quão profundas, o quão musicalmente inteligentes, o quão extraordinariamente sensíveis (pois é assim que as percebo, como eu as sinto), então as nações competiriam umas com as outras para possuir essa joia dentro de suas fronteiras. Praga deve segurar logo esse grande homem – mas deve recompensá-lo também… Irrita-me pensar que este Mozart incomparável ainda não está contratado por nenhuma corte real ou imperial! Perdoe-me se perdi minha cabeça: mas eu amo esse homem tão querido.”
Eva Badura-Skoda, professor do Mozarteum - fundação criada em 1880 em Salzburgo, Áustria, destinada a conservar o trabalho e divulgar a vida e obra de Wolfgang Amadeus Mozart, declarou que, se Mozart não tivesse existido, Haydn se tornaria o maior compositor de óperas da segunda metade do século XVIII. Haydn passa, então, a se dedicar às sinfonias, quartetos e missas, formas em que fora insuperável, na opinião de muitos críticos. Compôs mais de 100 sinfonias, além de quartetos de cordas e dezenas de quartetos de criações em diferentes gêneros instrumentais e vocais, sacros e profanos.
Em 1790, Haydn aceita o convite do empresário alemão Johann Petter Saloman para ir à Inglaterra com o objetivo de reger suas novas sinfonias com uma orquestra de prestígio. A experiência foi criativamente bem-sucedida, visto que suas mais famosas obras foram compostas neste período, conhecidas como as “Sinfonias Salomon” ou “Sinfonias de Londres”. Aclamado pela sociedade britânica, recebeu da conceituada Oxford University o título honorário de Doutor em Música.
Mais tarde, ao voltar para Viena, dedicou-se à composição de obras religiosas para coro e orquestra. Em 1802, Haydn começa a ter dificuldades para compor em função de comorbidades físicas. Deprimido, mas ainda com muita inspiração, recebeu muitos visitantes e honras públicas. Faleceu em 1809, quando Viena foi ocupada pelas tropas de Napoleão.
Também nascido na Áustria, Wolfgang Amadeus Mozart mostrou desde a infância sua extraordinária vocação musical. O gênio precoce iniciou os estudos em música aos quatro anos, com seu pai, um respeitado professor de violino. Aos seis anos, fez sua primeira turnê pela Europa, sendo venerado por distintas classes sociais - de soberanos a cortesãos. Aos 12 anos, compunha sua primeira ópera – La finta semplice. No ano seguinte, foi nomeado ao cargo de violinista principal da corte.
Já na Itália, compôs as óperas Mitridate e Lucio Silla. Ao voltar à cidade-natal, Mozart passa quatro anos preso à corte, que o proibiu de viajar. Após este período, Mozart finalmente pede demissão ao arcebispo de Salzburgo, Hieronymus Colloredo, e começa a viajar pela Europa em busca de novos desafios e oportunidades. A partir destas experiências, o jovem passa a compor obras mais livres. Neste período, apaixona-se pela cantora Aloysia Weber, por quem não é correspondido.
Mozart, então, quatro anos mais tarde, casa-se com a irmã mais nova de Aloysia, a musicista Constanze Weber. Em 1779, Mozart decide retornar a Salzburgo, onde voltou a trabalhar para Colloredo. Foi quando compôs a Missa da Coroação, e a ópera Idomeneu, consideradas obras-primas. Ao exigir mais respeito e consideração da corte, Mozart é demitido. Gozando de liberdade, ele passa a ser rechaçado pela sociedade vienense, que não recebeu bem suas obras mais intimistas. Sua ópera Bodas de Fígaro foi um fracasso financeiro em Viena. Em Praga, porém, a obra foi aclamada, levando-o a escrever Don Giovanni, uma de suas óperas mais conhecidas.
Em 1790, segundo o professor David Wyn Jones, da University of Wales, Mozart e Hayden tiveram encontros diários durante quatro ou cinco semanas e chegaram a tocar juntos em quintetos para cordas de Mozart. O jovem gênio dedicou seis quartetos a Haydn. Na dedicatória, Mozart diz considerar Haydn como seu melhor e mais célebre amigo.
Com mais baixos do que altos, Mozart passa um período com situação financeira e fama abaladas. Em 1791, um amigo maçom encomenda uma ópera para o povo. Mozart, então, cria A Flauta Mágica, que estrou com sucesso em um teatro popular na periferia de Viena. Outras tantas encomendas surgiram a partir disso, mas Mozart já não estava bem de saúde. Com problemas sérios nos rins, ele já não escrevia no mesmo ritmo. Em novembro de 1791 adoeceu e, em 5 de dezembro de 1791, com apenas 35 anos, ele morreu. Apesar da breve vida, sua genialidade o eternizou como um dos maiores nomes da música erudita.
CURIOSIDADES
Você sabia que o crânio de Haydn foi furtado de seu túmulo por dois homens ligados à fenologia (que é o estudo das relações entre processos ou ciclos biológicos e o clima)? Apenas 80 anos após a sua morte foi possível recuperá-lo e, hoje, encontra-se na Sociedade de Amigos da Música, em Viena.
Estudos realizados por paleoantropólogos austríacos e franceses dão conta de que Mozart tinha uma deformação congênita no crânio, causada pela soldadura precoce dos ossos da fronte.
Em 1984, a vida de Mozart foi contada nas telas do cinema no grande sucesso Amadeus, dirigido por Miloš Forman. Vencedor de diversos prêmios, entre eles o Oscar de Melhor Filme (1985), o longa-metragem acompanha a vida de Mozart pela perspectiva de seu inimigo, o compositor italiano Antonio Salieri. Escute a trilha sonora deste clássico!
A cerimônia em homenagem a Hadyn, realizada na igreja Schottenkirche duas semanas após sua morte, teve a missa acompanhada pelo Réquiem de Mozart.
DICAS DO LING
Assista à apresentação Haydn: 1. Cellokonzert C-Dur ∙ hr-Sinfonieorchester ∙ Santiago Cañón Valencia ∙ Christoph Eschenbach, promovida pelo Frankfurt Radio Symphony. Disponível no Youtube.
Mozarthaus Vienna, residência de Mozart de 1784 a 1787, é um museu localizado na Cidade Velha de Viena dedicado à vida e obra de Mozart;
Assista ao Sala São Paulo Digital: “Concerto n° 23 para Piano”, de Mozart, com Yulianna Avdeeva, promovido pela Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – Osesp.
Preparamos uma playlist especial para você entrar no clima de nossos ilustres homenageados! Disponível no Spotify do Instituto Ling.
REFERÊNCIAS
Sem autor: Igreja e baile atraem pai da sinfonia. Coleção Folha de Música Clássica. Disponível em: https://musicaclassica.folha.com.br/cds/15/biografia.html
Sem autor: Biografia Wolfgang Amadeus Mozart. Coleção Folha de Música Clássica. Disponível em: https://musicaclassica.folha.com.br/cds/01/biografia.html
TOSCANO, Frederico. A conexão Haydn-Mozart. Euterpe Música Clássica, 2017. Disponível em: http://euterpe.blog.br/a-conexao-haydn-mozart/