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O Impressionismo na música: A arte e a vida de Debussy e Ravel

O impressionismo na música: que movimento foi esse?

O movimento impressionista surgiu no mundo das artes plásticas, na França, durante o século 19, com um grupo de pintores composto por nomes como Claude Monet, Auguste Renoir e Edgar Degas. Em suas obras, as figuras ganharam contornos com pouca nitidez e as pinceladas ficaram mais livres.

O impressionismo na música também provocou uma quebra de regras e paradigmas. Os compositores Maurice Ravel e Claude Debussy, ambos franceses, transportaram os conceitos da pintura para a música, e em suas obras o cenário e a atmosfera são mais importantes do que o equilíbrio e a clareza musical.

As harmonias, o timbre e as combinações de acordes do período impressionista criavam uma espécie de “borrão sonoro”. Instrumentos que historicamente tinham timbres alegres e agudos passaram a ser usados com timbres mais sombrios e graves, como os clarinetes e as flautas. Também foram introduzidos novos instrumentos, como harpas e metais, que tiveram seus timbres atenuados.

 

Claude Debussy.

Apesar de recusar o título, Claude Debussy é considerado o primeiro compositor impressionista. Nasceu em 1862 e vem de uma família que não tinha envolvimento com a música. Ainda na infância mudou-se para Paris e começou a estudar piano com Mauté de Fleurville, que se dizia discípula de Chopin. Sua evolução deixou seus pais empolgados e, com dez anos de idade, foi aceito no conceituado Conservatório de Paris, onde ficou por 12 anos.

Dizem que nessa época começou suas experimentações ao piano e alguns mestres, muito severos, fechavam a tampa do instrumento sobre seus dedos sempre que arriscava um improviso. Isso o traumatizou e ajudou a afastá-lo do mundo acadêmico.

Embora não tenha ganhado nenhum prêmio como pianista, era admirado por seus colegas. Aos 17 anos, passou um tempo na Rússia, onde sofreu influência de músicos como Borodin, Rimsky-Korsakov e Mussorgsky. Teve contato também com a música popular camponesa, que se destaca pela liberdade rítmica e harmônica.

Em 1880 decidiu ser compositor e escolheu como professor Ernest Guiraud. Curioso e apaixonado por todas as formas de arte, Debussy buscava inspiração na pintura, na escultura e na literatura. Costumava frequentar saraus em Paris e às vezes viajava à Alemanha para assistir óperas de Wagner – e o curioso é que ele aos poucos ficou desgostoso do estilo rígido do alemão, criando composições que eram uma evidente confrontação a essa estética musical.

Debussy buscava sempre o livre-arbítrio em suas composições. Queria um som puro e real e dizia: "Não existe teoria. É necessário somente ouvir. Prazer, esta é a lei.” Em sua obra, a música libertou-se de regras tradicionais das repetições e cadências rítmicas. Ele rompeu também com normas da harmonia clássica, criando acordes isolados, timbres e contrastes entre registros.

 

Composições de Debussy

Para entender a relevância de Claude Debussy é necessário analisar suas obras e como elas destoavam do que era criado naquela época. Ele causou estranheza em boa parte do público e da classe artística.

Composta para orquestra, Prelúdio à Tarde de um Fauno (1894) causou desprezo pela falta de melodia, assim como Nocturnes (1893-1899), La Mer e Images Pour Orchestre (1909), que têm construção harmônica aparentemente desarticulada e grande liberdade melódica. 

Entre as músicas de câmara e para instrumentos solistas destaca-se As Três Sonatas (1915-1917), criação com uma aspereza inédita até então. Debussy também compôs música para piano, e entre as mais conhecidas estão as coleções Suite Bergamasque, Estampes (1903) e Images (1905-1907), dois cadernos de prelúdios e 12 estudos. Nas últimas peças para piano, sua obra torna-se mais abstrata e mais áspera, na pesquisa de novos timbres.

O compositor iniciou sua carreira criando música vocal e o fez até o final da vida. Entre as coleções mais célebres estão as musicalizações de poetas, como Os Cinco Poemas de Baudelaire (1887-1889), as Arietas Esquecidas, de Verlaine, e as Três Baladas, de François Villon (1913).

Suas obras cênicas também causaram impacto. A ópera Pelléas et Melisandre (1902), sobre o texto de Maurice Maeterlinck, era quase uma antiópera, na qual Debussy voltou-se contra toda tradição dramática de Berlioz a Wagner. Em 1911, apresentou Le Martyre de Saint Sebastien e, um ano depois, o balé Jogos (1912), ambos com inovações e grande complexidade harmônica.

 

Maurice Ravel

Joseph-Maurice Ravel nasceu em 7 de março de 1875, no interior da França, e a família mudou-se para Paris quando ele ainda era bebê. Aos sete anos começou a estudar piano com o professor Henry Ghys. Aos 12 recebeu aulas de harmonia, contraponto e composição de Charles René e dois anos mais tarde ingressou no Conservatório de Paris.

Conquistou seu primeiro prêmio numa competição em 1891, na mesma época em que conheceu Debussy. Nesse período, compôs algumas de suas obras mais conhecidas, incluindo Menuet Antique (1895), Valse em Ré Maior para Piano (1898) e a também famosa Pavane pour une Infante Défunte (1899).

Durante anos, Maurice Ravel se preparou para concorrer ao Grande Prêmio de Música de Roma, evento que consagrava novos talentos. Fracassou após muitas tentativas, pois suas obras eram julgadas como avançadas demais pelos jurados. No ano de 1900 era um dos favoritos, mas quando foi novamente derrotado, recebeu apoio em massa de músicos e escritores. Uma onda de protestos levou à renúncia do diretor do Conservatório, Théodore Dubois. Há relatos que essa experiência fez com que Ravel torne-se arredio e recluso.

 

Produção intensa

A partir de 1908, logo após o falecimento de seu pai, Ravel se isolou e a partir daí iniciou um período de intensa produção. Compôs sua primeira ópera, L’ Heure espagnole, e também Gaspard de La Nuit (1908), Ma Mère l’Oye (1908-1910), Daphnis et Chloé (1909-1912), Valses nobles et sentimentales (1911), Trois Poèmes de Stéphane Mallarmé (1913) e La Tombeau de Couperin (1914). São do início da década de 1920 obras como La valse, a Sonata para violino e violoncelo e a famosa orquestração de Quadros de uma exposição, de Mussorgsky. Em 1925, Ravel finalizou sua segunda ópera, L’enfant et les sortilèges.

 

Bolero de Ravel

Considerada sua obra mais famosa, o icônico Bolero foi escrito a pedido da atriz e bailarina russa Ida Rubinstein, que solicitou uma peça de curta duração baseada em tradições musicais espanholas. Inspirado na ascendência basca de sua mãe e no interesse que tinha pela música espanhola, Ravel compôs o Bolero como uma espécie de exercício de orquestração. A estreia aconteceu em Paris, na Ópera Garnier, em 22 de novembro de 1928.

 

Os anos finais

Em 1931, escreveu duas de suas mais importantes obras: o Concerto para mão esquerda, encomendado pelo pianista Paul Wittgenstein, que havia perdido o braço direito na guerra – e o Concerto para Piano e Orquestra em Sol Maior. No ano seguinte, sofreu um acidente de carro que deixou sequelas irreversíveis. Sua memória foi afetada e a coordenação dos movimentos jamais foi a mesma. Ravel escreveu a última obra em 1934 e, a partir de então, ficou incapacitado para compor. Em 1937, para aliviar as fortes dores de cabeça que tinha, foi submetido a uma cirurgia, da qual jamais recobrou a consciência, vindo a falecer em dezembro do mesmo ano.

 

Outros Impressionistas

Embora Claude Debussy e Maurice Ravel sejam os mais importantes e conhecidos nomes do impressionismo musical, o catalão Isaac Albéniz, a francesa Lili Boulanger e o inglês Frederik Delius, entre outros, também figuram como nomes que fizeram parte desse movimento.

 

DICAS DO LING

Não perca estes dois vídeos, de aproximadamente 20 minutos cada. O primeiro é sobre Maurice Ravel, o segundo sobre Claude Debussy. Neles, o músico Franz Ventura fala de maneira simples e descomplicada sobre a vida e obra de cada um desses músicos.

Se você prefere ouvir as músicas do movimento impressionista, estas duas playlists da plataforma Spotify são para você. Escute aqui músicas de Maurice Ravel e aqui de Claude Debussy. Quem tem assinatura de TV a cabo, como NET ou SKY, pode assistir a este documentário sobre Maurice Ravel no site do canal Curta!

Aos amantes da leitura, infelizmente não existem livros recentes lançados em português, sobre o impressionismo na música e seus principais expoentes. Entretanto, em editoras estrangeiras, como a Boydell & Brewer, é possível encontrar publicações em inglês. Destaca-se esta biografia sobre Claude Debussy e este livro sobre o relacionamento pessoal do músico com sua esposa Emma. A mesma editora tem um livro que analisa a obra de Maurice Ravel e outra publicação  sobre a importância de sua obra para a música.

 

REFERÊNCIAS

DITTRICH FILHO, Wilson. O belo, a poética e a mimesis no simbolismo pianístico de Ravel. Disponível em: https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/32583/R%20-%20D%20-%20WILSON%20DITTRICH%20FILHO.pdf?sequence=1&isAllowed=y

DOBBERT, Fritz. Maurice Ravel, o autor do Bolero.  Disponível em: https://blog.fritzdobbert.com.br/pianistas/maurice-ravel/#

FOLHA DE S. PAULO. Ideias modernistas instauram nova arte. Disponível em:

https://musicaclassica.folha.com.br/cds/32/contexto.html

FRAZÃO, Dilva. E- biografias. Disponível em: https://www.ebiografia.com/claude_debussy/#:~:text=Claude%20Debussy%20iniciou%20sua%20carreira,Fran%C3%A7ois%20Villon%E2%80%9D%20(1913).

LACERDA, Marcos. Claude Debussy. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5862027/mod_resource/content/1/Seminario%20Debussy%20Histo%CC%81ria%20da%20Musica%20IV.pdf

UNICAMP. Impressionismo e Modernismo. Disponível em: https://timba.nics.unicamp.br/engsom/index.php/leituras-e-ponteiros/historia-da-musica-ocidental/impressionismo-e-modernismo/