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Repórter, autor de livros, gestor no Ministério do Planejamento: conheça João Villaverde

Um curioso por natureza, é assim que João Villaverde se define. Foi a inquietação intelectual que o fez, aos 17 anos, optar pelo vestibular de jornalismo. Desde então, teve passagem pelas principais redações de economia do país, até ser repórter do prestigiado Estadão. Ao concorrer à bolsa Jornalista de Visão, descobriu qualidades em si que o encorajaram a ir além. Autor de livros, professor e agora Secretário de Articulação Institucional do Ministério do Planejamento e Orçamento, João usa as ferramentas de jornalista nos desafios diários como gestor público.

Repórter, autor de livros, gestor no Ministério do Planejamento: conheça João Villaverde

O paulistano João Victor Villaverde de Almeida conta que, desde cedo, os pais lhe deram liberdade para escolher a profissão que desejasse.   Sua vocação o levava para a área das artes, das humanidades, e cogitou ser músico. Mas, aos 16 anos, optou pelo Jornalismo na PUC-SP. Isso porque percebeu que possuía os dois requisitos que hoje, aos 36, considera essenciais para ser um bom profissional na área. O primeiro é a curiosidade: segundo ele, não é preciso ser especialista em tudo, mas é fundamental que o jornalista queira saber o que está acontecendo, o que as pessoas estão assistindo na TV, consumindo nas redes sociais, falando nas ruas.

O segundo é a inquietação intelectual, buscar sempre aprender e saber mais. Como estudante de jornalismo, João pensava que devia entender os conteúdos de todas as áreas. Acreditando ter vocação para o lado artístico, sentia-se desafiado pelos assuntos do caderno de Economia dos jornais, que eram difíceis de entender. Dedicou um esforço extra ao tema, lendo matérias e foi ganhando familiaridade.

A partir daí, as circunstâncias fizeram sua parte: ainda no início da faculdade, ele teve a oportunidade de estagiar no extinto jornal DCI (Diário Comércio Indústria & Serviços), onde foi desafiado a escrever matérias sobre economia e assuntos complexos, algo inesperado para alguém com formação humanística. Surpreendentemente, se encantou com esse campo de conhecimento e percebeu como a economia afeta praticamente todos os setores da sociedade, desde a política à saúde e às artes.

O desafio seguinte foi no Valor Econômico, um dos principais jornais de economia do país. Após três anos em São Paulo, aceitou um cargo na filial de Brasília, mudança que considera crucial em sua carreira. “É onde está a sede dos principais órgãos econômicos: Ministério da Fazenda, Ministério do Planejamento e Banco Central, além do Congresso Nacional, onde as decisões finais sobre economia são tomadas. Ali aprendi como as coisas funcionam de fato”, comenta.

Mas foi como repórter no Estadão, onde ingressou em 2012, que ele percebeu o impacto de trabalhar em um veículo de abrangência nacional, onde as matérias repercutem em todo o Brasil e pautam o jornalismo do país. João se orgulha de ter sido o primeiro profissional a ganhar duas vezes consecutivas, em 2014 e 2015, o prêmio de melhor reportagem atribuído pela Agência Estado, e finalista do antigo prêmio Esso de Jornalismo, hoje chamado prêmio Exxon Mobil. Seu desempenho chamou a atenção do Estadão e João foi um dos indicados pelo veículo para concorrer ao Jornalista de Visão. E é aí que a história de João ganha um novo rumo.

 

Acreditar em si e então tentar

Ao citar o filósofo espanhol Ortega y Gasset, na frase “eu sou eu e minhas circunstâncias”, João ressalta que somente chegou aonde está por intermédio do programa de bolsas do Instituto Ling.

“Foi uma grande conquista ter sido indicado pelo Estadão após passar por um processo interno concorrido. Participar da seleção no Instituto Ling foi transformador e aumentou minha confiança e autoestima. O contato com outros jornalistas do Brasil todo, trocando experiências e aprendizados, enriqueceu minha jornada. Descobri habilidades de conversa, de persuasão, de convencimento que antes duvidava possuir”.

A experiência do processo seletivo foi única, pois forçou João a se posicionar em alguns momentos, ele que era acostumado a ter sempre uma postura neutra em seus 13 anos de trabalho como repórter.  E foi particularmente útil quando, ao ser um dos selecionados para a bolsa de estudo, ele passou um semestre como visitante na SIPA (School of International and Public Affairs) da Universidade de Columbia. Ali a capacidade de argumentação foi necessária em vários momentos, até para a apresentação do trabalho final à classe. Estar em Columbia mudou também sua perspectiva.  Cobrindo há tanto tempo o setor público, sentia necessidade de “mudar de lado” e atuar diretamente com as questões que afetam o país.  Para isso, selecionou matérias que levavam a esta área.

No retorno ao Brasil, trabalhou em veículos na área de economia e política e, em paralelo, cursou mestrado na FGV, atuou como professor convidado. Em 2022, a grande oportunidade aconteceu. João foi convidado a trabalhar na campanha da então candidata à presidência Simone Tebet. Em 2023, quando Tebet assumiu o Ministério do Planejamento, tornou-se assessor da ministra e, desde outubro de 2023, ocupa o cargo de Secretário de Articulação Institucional do Ministério. De seu trabalho atual, fala com especial orgulho da agenda de integração sul-americana e do recém-lançado Programa Pé de Meia, um programa de estado com o objetivo de manter os jovens de Ensino Médio na escola.

 

Do outro lado do balcão

O contato com a imprensa faz parte do cotidiano de João como gestor. No dia em que conversou com o Instituto Ling, contou que naquela tarde daria uma entrevista a uma jornalista que foi sua colega no Valor Econômico; e, na semana passada, havia sido a vez de falar com outro veículo onde trabalhou, o Estadão.

Mas considera que a realidade da imprensa mudou para pior desde que ele atuava como repórter. As redações estão menores, os jornalistas são mais jovens, perdeu-se a troca de experiências com gerações mais velhas. Além disso, os jornalistas atualmente são multitarefas, o que torna mais difícil seguir todas as etapas para a boa reportagem: apreender informação, buscar outras fontes, não confiar de largada na primeira notícia que chega.

João entende que um dos motivos para essa situação é que o público não enxerga informação como um produto e, por isso, não está disposto a pagar por conteúdo, o que precariza o jornalismo profissional. Além disso, a concorrência dos veículos tradicionais com outros novos, orientados por uma posição ideológica, prejudica a forma que a sociedade recebe as informações.

Ainda que não esteja mais atuando como jornalista, João diz que usa a “chave” da profissão para o trabalho. Esta chave, em seu entendimento, é “sempre reunir bastante informação de modo que o que for dizer esteja ancorado em dados, fatos, números. Tão importante quanto ter boas ideias é persuadir, o que é primordial no setor público. De nada vale uma boa ideia se não conseguir comunicar, convencer”, comenta. Mais que isso, considera que argumentos baseados em evidências são fundamentais para sairmos das guerras ideológicas atuais. “A batalha da nossa geração é mostrar com dados que a vida será melhor se houver um mínimo denominador comum entre as pessoas. Menos ideologia, mais identidade”, conclui.

 

João, o autor

Em 18/9/2014, o Estadão publicou em sua seção de Economia a reportagem “TCU investiga ‘pedaladas fiscais’ do governo”, coautoria de João e de sua colega Adriana Fernandes. A matéria marcou o início de uma crise no governo da então presidente Dilma Rousseff e levou ao processo que culminou no impeachment, em 2016. Em novembro deste ano, João lançou “Perigosas Pedaladas – os bastidores da crise que abalou o Brasil e levou ao fim o governo Dilma Roussef “. Tendo acompanhado o caso desde o início, o jornalista vinha alimentando a ideia de escrever um livro-reportagem, mas o projeto  só se concretizou após o período passado em Nova Iorque. “Estava começando a escrever, o dia a dia em Columbia foi o impulso necessário para que o livro acontecesse. Viajei como jornalista e voltei com o livro prestes a ser publicado”.

João é ainda, juntamente com José Marcio Rego, coautor do livro “Bresser-Pereira: Rupturas do Pensamento” (2021), escrito a partir de uma série de entrevistas com o economista Luiz Carlos Bresser Pereira, ministro nos governos Sarney e FHC. Mais recentemente, foi co-organizador de “Reconstrução – o Brasil nos anos 20”, ao lado de Felipe Salto e Laura Karpuska. A obra, lançada em 2022, é uma coletânea de ensaios com propostas de políticas públicas para o país.

2.4.2024

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