Fernando Goldsztein – em busca da cura para o meduloblastoma

Em 2022, o empresário gaúcho Fernando Goldsztein apresentou ao Instituto Ling uma iniciativa para a qual vinha se dedicando em tempo integral: a Medulloblastoma Initiative (MBI). O projeto, criado um ano antes, promove a pesquisa e a busca por novos tratamentos para crianças com meduloblastoma, o tumor maligno mais frequente durante a infância.

Fernando Goldsztein – em busca da cura para o meduloblastoma

Pai de Frederico, que em 2016, aos 9 anos, foi diagnosticado com meduloblastoma, Fernando constatou que, mesmo havendo anualmente de 30 mil novos casos de crianças com a doença, as opções de tratamento eram poucas e os recursos para pesquisa, insuficientes. E resolveu agir: a partir de uma doação, em 2021, de US$ 3 milhões para o Hospital Children’s National, nos Estados Unidos, formou uma rede que hoje abrange médicos e pesquisadores em 13 conceituados laboratórios no mundo.

À medida que a iniciativa foi apresentando resultados positivos, igualmente mais recursos eram necessários para dar prosseguimento. Fernando buscou então alavancar o projeto, e aí entra o Instituto Ling. A instituição vem apoiando iniciativas na área da saúde há oito anos, incluindo a criação de um centro de oncologia de ponta no Hospital Moinhos de Vento e de uma CTI para atendimento ao SUS na Santa Casa de Misericórdia, ambos em Porto Alegre. E, em 2022, juntou-se a outros doadores da MBI. Hoje, os US$ 3 milhões iniciais doados por Fernando já viraram US$ 10 milhões e as perspectivas de a pesquisa chegar em breve à fase dos testes clínicos são animadoras.

Uma história de esperança e determinação que o próprio Fernando conta no texto abaixo, publicado na Folha de São Paulo em 29/8/23:

“Trocando a espera pela esperança

A esperança tem duas filhas lindas, a inconformação e a coragem; a inconformação nos ensina  a não aceitar as coisas como estão: a coragem, a mudá-las (Santo Agostinho 354 – 430 d.c.)

Depois de viver cinco anos tratando o meu filho Frederico contra o Meduloblastoma (MB), o mais frequente tumor pediátrico cerebral, conheci e convivi com muitas histórias tristes de pacientes acometidos por esta traiçoeira doença. Ver um adulto padecer de câncer é muito difícil. Imaginem uma criança!

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), cerca de 30 casos de câncer infantil são diagnosticados por dia no Brasil. Entre as doenças, o câncer é a principal causa de morte  infantojuvenil; e, dentre os tipos de câncer que ocorrem nessa faixa etária, cerca de 20% acometem o cérebro.

Um desabafo como pai: crianças deveriam ser imunes ao câncer! 

Infelizmente, estudos dedicados ao público infantil vêm sendo negligenciadas há décadas. Não obstante a grande evolução da biomedicina, o protocolo para o tratamento deste câncer continua o mesmo há mais de trinta anos. Não houve evolução no tratamento! É exatamente isso – as crianças são submetidas a protocolos antigos e extremamente tóxicos.

Milhares de crianças são diagnosticadas com o Meduloblastoma todos os anos. Aproximadamente 30% deste grupo perecem. Já os que são curados, em muitos casos, são vítimas de sequelas importantes para toda a vida em função do tratamento que é extremamente nocivo ao organismo.

O governo americano, através do NCI (National Cancer Institute), destina apenas 4 centavos ao câncer infantil para cada dólar investido em pesquisas oncológicas. É pouco! É escasso! As crianças estão completamente abandonadas à própria sorte.

Inconformado com a situação, tomei a decisão de fazer algo para mudar este quadro triste. No  início de 2021, criei a MBInitiative com o objetivo de fomentar as pesquisas para achar a cura desta doença tão devastadora ..

Quase dois anos depois, estamos avançando a olhos vistos. Não imaginaria, nem nos nossos sonhos mais ambiciosos que, saindo de Porto Alegre, no sul do Brasil, chegaríamos aonde chegamos. Hoje a MBInitiative reúne treze laboratórios (nos EUA, Canadá e Alemanha) que contam com os principais pesquisadores no tema no mundo. Estes cientistas trabalham de forma colaborativa e sinérgica para chegar a um protocolo de cura o mais rápido possível. São  poucas iniciativas como esta no mundo.

Os resultados já começam a se materializar com quatro ensaios clínicos em pacientes no nosso  pipeline, sendo dois deles para os próximos meses. No caso de doenças raras, como o meduloblastoma, relativamente poucos recursos podem causar um grande impacto e salvar milhares de vidas.

Ainda temos um longo caminho pela frente. É preciso muita persistência para chegarmos lá. E,  mais do que tudo, é preciso continuar contando sempre com a nossa incrível rede de apoiadores e doadores. São pessoas que, assim como nós, acreditam que todas as crianças têm direito a um futuro. Pessoas que têm a vontade e a determinação para mudar esta realidade triste. E que, acima de tudo, pessoas que sonham em poder dar a estas crianças o  que elas mais precisam: esperança.”

01.12.2023

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