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Marcela Trópia decidiu participar da política antes mesmo de ter idade para votar

Hoje vereadora em Belo Horizonte, Marcela (GCLP 2021) é a mais jovem eleita para uma cadeira na Câmara Municipal. Formada em Administração Pública pela Fundação João Pinheiro e pós-graduada em Liderança e Gestão Pública, participou como bolsista do Programa de Competitividade Global de Georgetown. Apaixonada pela Capital mineira, busca honrar os mais de 10 mil votos recebidos e fortalecer a educação na cidade.

Marcela Trópia decidiu participar da política antes mesmo de ter idade para votar

A influência não veio de casa, pelo contrário. Nenhum familiar próximo estava inserido na política, somente um tio-avô havia sido vereador na década de 90. A mãe de Marcela, professora, acreditava que a filha faria Direito, por seu perfil de liderança e expansividade. Mas a adolescente não se via como advogada. Aos 15 anos, começou a frequentar o Grêmio Estudantil do seu colégio, chegando a presidir a agremiação. E quanto mais participava, mais entendia que havia encontrado sua vocação, o que era motivo de preocupação para sua mãe. 

“Acho que é natural de toda mãe querer proteger o filho dos problemas. E então ela percebeu que eu já estava envolvida até o último fio de cabelo e não tinha mais como voltar atrás. Hoje é a pessoa que mais pede voto para mim na rua”, conta Marcela.

O brilho no olho surgiu nas eleições de 2010, quando acompanhava a intensa atuação dos jovens pelas redes sociais que surgiam, e motivou sua participação no Parlamento Jovem da Assembleia de Minas Gerais. De reunião em reunião, ao lado de “gente grande”, Marcela amadureceu a ideia de cursar Administração Pública pela Fundação João Pinheiro. Referência nacional em seu campo de atuação, o curso forma especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental.

 

O primeiro teste nas urnas

No meio da graduação surgiu a oportunidade de ser candidata. Concorreu a vereadora pelo PRTB, tinha 22 anos, zero experiência e pouca verba. Arregaçou as mangas e decidiu tentar. Com amigos e familiares pegando junto, recebeu 3.146 votos, uma votação relevante, mas não o suficiente para conquistar uma vaga naquele  ano, 2016. Hora de avaliar os aprendizados e seguir estudando.

“O mundo político passa a levar mais a sério após as urnas. Eu era só uma menina, depois disso passei a ser chamada para mais oportunidades. Entendi que precisava estudar sobre fazer campanhas, que é uma ciência também”, explica Marcela.

Assim se passaram os anos seguintes: trabalhando no governo estadual, trabalhando no governo municipal e finalizando a faculdade, com um trabalho de conclusão de impacto. A causa feminina despontou ali com um estudo sobre maternidade e carreira, questionando por que se tornar mãe ainda é um entrave para as diferentes profissões existentes no mercado privado e público.

Emendou ainda uma pós-graduação, a de Liderança e Gestão Pública pelo Centro de Liderança Pública, em São Paulo. Um dos módulos foi realizado na Universidade de Oxford, na Blavatnik School of Government, uma experiência internacional que a levou até o Parlamento inglês, ao gabinete do secretariado da Rainha, à Câmara dos Lordes e outros lugares-chave do Reino Unido.

 

Novo partido, novos rumos

O convite para ser coordenadora de uma campanha a deputado federal pelo Partido Novo foi certeiro para colocar em prática o que aprendeu na teoria. E a vitória veio para o candidato Tiago Mitraud, eleito com 71.901 mil votos em Minas Gerais em 2018, o mais votado do partido.

No ano seguinte, assumiu a Coordenação Política do gabinete do deputado estadual Guilherme da Cunha, onde contribuiu com a criação da Frente Parlamentar pela Desburocratização na Assembleia Legislativa mineira. Em parceria com esses dois parlamentares, fundou o Liberta Minas, um programa que busca levar as ideias da liberdade ao redor do estado. Ainda no movimento liberal, Marcela foi coordenadora do Livres/MG, sendo reconhecida como coordenação referência de 2019.

Quando chegou 2020, havia grande expectativa para a nova tentativa de Marcela nas urnas. Ainda por cima com um desafio extra: uma mobilização com pouco contato presencial por ser época de pandemia. 

“Sonhamos alto e buscamos sensibilizar a capital mesmo em época de confinamento, sem eventos, com tudo remoto. Conseguimos mobilizar as pessoas em torno do sentimento de amor pela cidade”, recorda Marcela, que atingiu a sexta maior votação naquele ano, com 10.741 votos, aos 26 anos.

Durante a campanha, defendeu propostas em quatro temas principais: liberdade para empreender, educação para formar líderes, inovação da mobilidade urbana e eficiência da Câmara Municipal. Já no início do mandato, Marcela foi escolhida como líder da Bancada do Partido Novo na Câmara. Indicada para a Comissão de Educação, foi eleita presidente no primeiro biênio (2021-2022).

 

Experiência com foco na América Latina

No ano em que assumiu como vereadora, surgiu mais uma oportunidade de estudar. Por indicação do Livres, Marcela foi indicada ao processo seletivo para o Programa de Competitividade Global de Georgetown. Aprovada como bolsista do Instituto Ling, viu-se em um formato diferente por conta dos protocolos da covid-19. O curso foi realizado de forma híbrida em 2022, com 4 semanas no Brasil e 6 semanas em Washington. Voltou cheia de ideias e novas perspectivas.

“Georgetown foi um choque muito grande e muito bom, no sentido de abrir a cabeça quanto a temas da América Latina. Ao mesmo tempo em que vimos que há muito a aprender com pautas de outros países, fica também claro que o Brasil tem tudo para liderar, por estarmos avançados em muitas áreas. Nosso erro é não falar espanhol para desfrutar ainda mais destas conexões, tanto em trocas comerciais quanto de turismo”, analisa.

A experiência reforçou o trabalho em andamento na Câmara, especialmente nas pautas prioritárias: o poder transformador da educação – “Educar é a melhor ferramenta para garantir que toda uma geração tenha um futuro brilhante pela frente”, nas suas palavras – e a desburocratização dos processos – “para abrir o caminho para o desenvolvimento e para a geração de empregos”.

 

Rompendo preconceitos por todos os lados

A vereadora conta que equilibra os pratos para dar conta do dia lotado e não perder de vista a qualidade de vida. Faz questão de se exercitar e se alimentar bem, em prol de estar sempre disposta e com energia para trabalhar. O gabinete é enxuto e a agenda constantemente apertada, mas Marcela não reclama do intenso ritmo de trabalho. Tampouco perde tempo dando palco para inconvenientes que já ocorreram derivados de julgamentos alheios.

“Não adianta dizer que isso não existe. Ser mulher e ser jovem mexe com preconceitos arraigados, ainda mais no ambiente partidário”, afirma, lembrando do episódio em que um colega criticou suas roupas. “Minha resposta é passar por cima disso. Em vez de ficarem reparando na roupa dos outros podiam trabalhar mais pela cidade”, conclui.


Por essas e outras, Marcela se disponibiliza a apoiar as lideranças femininas e incentivar a entrada de mais mulheres na política, o que melhora o cenário público. Em um texto publicado no blog do Master em Liderança e Gestão Pública (MLG), no site do Estadão, a vereadora comenta sobre a lei das cotas de participação de candidatas, que ainda não surtiu os resultados desejados. E defende que é preciso ir além da reserva de vagas para criar outros modelos nos quais mais mulheres possam se espelhar e seguir a carreira política.

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