• início
  • blog
  • Outros
  • Viver no Vale do Silício | As experiências e dicas de bolsistas do Instituto Ling

Viver no Vale do Silício | As experiências e dicas de bolsistas do Instituto Ling

A região do Vale do Silício é um centro global de inovação tecnológica localizado no sul da baía de São Francisco, na Califórnia. Um dos destinos mais requisitado pelos bolsistas do Instituto Ling, é casa da Universidade de Stanford, uma das mais prestigiadas instituições de ensino dos Estados Unidos, convidamos alguns bolsistas que estudaram ou residem na região para contarem um pouco sobre suas experiências e compartilharem dicas sobre esse hub mundial de inovação.

Viver no Vale do Silício | As experiências e dicas de bolsistas do Instituto Ling

Leonardo Vieira

MBA 2024 | Stanford University

Muito se fala sobre o Vale do Silício, mas nunca haviam me explicado do que exatamente era feito. Imagina a região da Baía de São Francisco (Bay Area) como um grande bolsão que inclui São Francisco lá no topo, uma cidade famosa, turística e cheia de lombas. Abaixo dela, mais ao sul, está o chamado Vale do Silício — que não é um vale de verdade, esse é um apelido para a área onde estão várias cidades cheias de empresas de tecnologia, como Palo Alto, Mountain View e San Jose. Palo Alto é tipo o coração intelectual da parada, porque lá fica Stanford, que formou e inspirou muita gente que criou empresas como Google, HP e outros gigantes.

Por isso escolhi cursar meu MBA em Stanford. Meu sonho é construir uma empresa que vai impactar positivamente a América Latina — de forma duradoura e relevante. Vindo de uma comunidade vulnerável em Queimados, na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro, sempre procurei oportunidades que me ajudariam a romper com o ciclo de pobreza na minha família e facilitar a mobilidade econômica de mais pessoas. Stanford é provavelmente a mais importante dessas oportunidades. Sendo a instituição que produziu mais unicórnios no mundo e foi parte da trajetória da maioria dos grandes fundadores da América Latina, eu sabia que precisava descobrir o que tornava a universidade tão especial. Esta foi a faísca inicial que me trouxe até a Graduate School of Business em Stanford, onde caminho para o meu segundo ano de MBA.

Muita gente chega no Vale do Silício esperando uma mistura de cidade futurista com Blade Runner e se depara com subúrbios tranquilos com casas térreas, ruas largas e árvores por todo lado. Parece mais um bairro residencial chique do que o “epicentro da inovação mundial”. Stanford, por sua vez, parece um resort no sul da Espanha: cheio de palmeiras, prédios de pedra bege, bicicletas por todo lado e gente de chinelo. Um luxo calmo, não um frenesi tecnológico. E a internet? Irônico, mas real: em várias partes da região, especialmente em casas ou cafés, o Wi-Fi é pior do que em muitas capitais brasileiras. Enquanto a infraestrutura urbana cresce devagar por limites regulatórios, as ideias de bilhões explodem.

O Vale do Silício é o ponto de encontro do mundo. Um dia você cruza com Rishi Sunak no café do lado de casa, ex-primeiro-ministro do Reino Unido e ex-aluno de Stanford. No outro, está apresentando sua ideia para Roelof Botha, sócio-diretor da Sequoia, que está financiando meu estágio de verão para começar minha própria startup. Ao longo de duas semanas, o fundador do Uber e a CEO global da Chanel falaram no auditório que fica a 30 metros do meu quarto. Nas aulas, os casos que estudamos ganham vida quando os próprios fundadores aparecem para contar o que erraram, como decidiram, e o que aprenderam. Nada disso está escrito no papel, mas na prática é eletrizante.

Entre uma caminhada pelo campus e um café na universidade, você descobre que seus colegas são ex-atletas olímpicos, sobreviventes de um genocídio, empreendedores em série (alguns bem-sucedidos, outros quebrados), herdeiros de fortunas, líderes sociais que transformaram seus países, e também gente perdida, em busca do próximo capítulo. O que une todos eles? Um desejo profundo de fazer algo especial no mundo — e a sensação, talvez pela primeira vez na vida, de que são autorizados a seguir sua própria trilha.

Enquanto isso, seu inbox é um universo à parte: mais de 100 e-mails por dia. Convites para testar a 20ª nova aplicação de IA da semana. Um amigo está lançando uma venture de retiros psicodélicos e quer early adopters. Competições de pitch com VCs. Conversas com investidores e recrutadores, workshops com executivos de peso. Aqui, a fronteira entre “ideia” e “realidade” é muito mais fina do que em qualquer outro lugar que já vi. No fim das contas, o Vale do Silício é feito de gente. Gente que sonha alto, executa rápido, compartilha generosamente e vive como se tudo fosse possível. E, de algum jeito, isso pega em você também.

Acima de tudo, esteja sempre em lugares abertos e com gente — cafeterias, aulas, eventos, mesas compartilhadas — é assim que se conhece pessoas incríveis. Faça uma caminhada pelo campus de Stanford. Eu particularmente adoro as First Fridays uma vez por mês em Oakland, próximo de San Francisco, um festival de rua para celebrar a cultura negra e latina com música, arte e comida. Sempre vou ao Coconuts em Palo Alto para matar a saudade da comida com tempero (comida caribenha de qualidade). Para quem curte arte, passe um tempo com as obras da Anderson Collection em Stanford; também sempre vale a pena checar a programação do Bing Concert Hall. Ou faça uma Faça uma caminhada, aqui tem trilhas pra todo humor.

Bruno Koba

MBA 2023 | Stanford University

No meu primeiro dia do MBA, o dean da escola, Jon Levin, disse a todos que Stanford era um “lugar de possibilidades”. Para mim, esse termo encapsula perfeitamente o espírito dessa escola. O Vale do Silício não é só uma região no vasto mapa americano—é uma mentalidade.

O Vale respira inovação, e a própria história desse lugar é inseparável da criação das mais importantes tecnologias do nosso tempo, como os microprocessadores, os computadores pessoais e a internet. Nos últimos dois anos, entretanto, foi impossível andar pelas ruas de Palo Alto e não ouvir “AI”. Todos nessa região, de Venture Capitalista e acadêmicos a jovens empreendedores acreditam que estamos vivendo a mais profunda transformação tecnológica de nossas vidas. Eu tendo a concordar. Viver no Vale de 2023 a 2025 tem sido extremamente especial.

Em Stanford, pude ver palestras dos maiores nomes associados a essa onda, como Sam Altman, Jensen Huang e Daniela Amodei. Pude participar de hackathons de AI agents, conversar com doutorandos em machine learning, e entender os impactos socioeconômicos dessa tecnologia em escala global. Decidi fazer meu MBA em Stanford com o grande objetivo de empreender. Estou seguindo esse sonho, e posso dizer com convicção que esse "lugar de possiblidades" me permitiu sonhar mais alto e acreditar que eu realmente posso deixar minha marca no mundo.

Guilherme Cybis

MBA 2021 | Stanford University

Quando me mudei para o Vale do Silício, achei que ia chegar num lugar onde todas as grandes empresas estão. Mas não existe um “centro” do Vale — ele é mais uma mentalidade do que um endereço. As grandes empresas estão espalhadas entre cidades conectadas por estradas e ambições. A cultura é o diferencial, é sobre desafiar o estabelecido, começar local já pensando global, abraçar a diversidade. Mas a experiência física, no dia a dia, é bem mais comum do que grande parte das pessoas pensam. O glamour está nos pitch decks, não no trânsito da 101.

A vida aqui oferece muita coisa boa: segurança, céu azul quase sempre, bens e serviços que facilitam o cotidiano. Além disso, a Califórnia tem muitos destinos acessíveis e eu estou sempre buscando novos lugares para fazer roadtrips com a minha esposa, minha filha e nossa cachorra. Parques, praias, cidade, fazenda, montanha, neve, deserto. Tem um pouco de tudo.

Mas claro que nem tudo são flores. O sistema de saúde aqui é caótico (para ser educado) e a insegurança de ser imigrante tem impactos psicológicos reais. Já a saudade da família pesa diferente quando você vira pai. A linha entre estar dando conta de tudo e estar exausto é tênue — e às vezes tudo o que eu queria era um almoço de domingo com os meus pais. A distância entre Califórnia e Brasil parece dobrar nessas horas — especialmente quando você percebe que não existe nem voo direto. No mapa do War até parece perto, mas na vida real, é um continente inteiro de diferença.

Ainda assim, estar aqui é um privilégio enorme. Eu cresci ouvindo histórias sobre esse lugar, e hoje tenho a chance de viver e construir dentro dele. Os desafios existem, mas também existem oportunidades que mudam destinos. E eu estou aqui escrevendo o meu.

Loni Melillo Cardoso

LLM 2020 | Stanford University

Um colega de trabalho descreve viver no Vale do Silício como ir a Harvard de graça. Eu concordo. Trabalhar e viver aqui oferece uma possibilidade muito única de conhecer pessoas brilhantes desenvolvendo todo tipo de projeto na ponta da tecnologia. A comunidade de startups faz parte do DNA da cidade e, vivendo aqui, a gente se acostuma a pensar que todo tipo de solução inovadora é possível e viável.

São Francisco é uma cidade eclética, liberal e vibrante que, apesar de seu tamanho, se equipara às grandes metrópoles dos Estados Unidos e do mundo em cosmopolitismo e oportunidades de acesso à cultura. Tenho a impressão de que as novidades chegam primeiro aqui – carros sem motorista, óculos de realidade virtual, criptomoedas etc. A Califórnia tem um ritmo próprio, as pessoas são extremamente investidas em seus projetos, mas também cultivam hábitos de vida saudáveis e se dedicam a projetos pessoais.

Um dos grandes diferenciais de morar aqui é o acesso a diversos tipos de atividades ao ar livre. Dirigindo 1-4 horas em qualquer direção é possível acampar no deserto, esquiar, passar um dia na praia, fazer uma trilha na floresta ou visitar espaços culturais de nível mundial. Particularmente, recomendo a qualquer visitante conhecer o parque nacional de Yosemite e as trilhas de Lake Tahoe, que são belíssimas tanto no verão quanto no inverno. Outra grande vantagem é a proximidade do Napa Valley, que faz com que os vinhos no cardápio de qualquer bar ou restaurante sejam muito superiores ao que se oferece em outros lugares do mundo. Em geral, recomendo o Vale do Silício para qualquer pessoa que queira experimentar um ambiente intelectualmente estimulante e cheio de possibilidades.

Adelina Rosen

MBA 2002 | University of Chicago

Há aproximadamente dez anos, eu estava morando em Nova Iorque. Adorava a cultura, os restaurantes, as lojas e o ambiente competitivo da cidade. Era tudo que eu sonhava viver quando estava aplicando para o MBA. No entanto, depois de ter filhos, a competição se tornou sufocante e eu queria estar em um lugar que poderia respirar. Como a maioria das pessoas que moram em Nova Iorque, pensei em mudar para New Jersey, Westchester e outras áreas. Porém, esses lugares pareciam um pouco parados demais para o meu gosto. Um dia virei para o meu marido e falei: “Arranje um emprego no Vale do Silício, quero mudar para lá.” Por sorte, ele conseguiu e depois de alguns meses empacotamos tudo e nos mudamos para o outro lado do país.

Escolhemos morar em Palo Alto devido ao sistema escolar e à beleza do lugar. Nos primeiros meses aproveitamos o período que as crianças ainda gostavam de dormir no carro e exploramos vários lugares a aproximadamente duas horas de distância: Santa Cruz, Half Moon Bay e Napa Valley. Mas Palo Alto também tem muito a oferecer, cafés, restaurantes, a universidade de Stanford, inúmeros parques limpos e bibliotecas completas. Apesar de trabalhar no mercado imobiliário, acabo sendo influenciada pelo ambiente de tecnologia através de amigos que atuam nessa área. Em uma festa de aniversário conheci o criador do Gmail, em outro evento social conhecemos o Orkut (lembram-se dessa plataforma social), e várias outras histórias que certamente muitos tiveram a oportunidade de experenciar por aqui.

Certamente nenhum lugar é perfeito. Comprar uma casa em Palo Alto é algo que para nossa família não faz sentido. O trânsito pode ser um pouco intenso, apesar de todo o treinamento que tive morando em São Paulo. E a política do lugar é de chorar às vezes. Por exemplo, meu colega de trabalho demorou sete anos para obter licenças para construir um píer na frente da casa dele - e 45 dias para construí-lo!

Toda vez que eu penso em me mudar por causa do custo de vida, impostos e política, eu lembro que depois do trabalho uma das minhas rotinas é ir para o campus da Google para praticar wingfoiling, minha nova obsessão, e admirar o pôr do sol, e percebo que não existe outro lugar como este. Por isso, para mim, esse e o melhor lugar para viver, não porque é perfeito, mas porque nos oferece oportunidades para fazer o que quisermos com os melhores profissionais no ramo. Aqui a única constância é a mudança, por isso a capacidade de se adaptar, mover e sair da zona de conforto é um dos aspectos mais atraentes de vida no Vale do Silício.

4.7.2025

leia também

Fellow Conselheiro Voar: Uma jornada de crescimento mútuo

Por meio do diálogo intergeracional, da escuta ativa e do compartilhamento de trajetórias, a iniciativa Fellow Conselheiro VOAR, criada em 2024, promove uma rica troca que fortalece laços, inspira decisões e amplia horizontes. Convidamos seis participantes da primeira edição — os conselheiros Yuri Gomes de Abreu, Gabriel Costa, Eduardo Del Guerra Prota, e os universitários Kauan da Silva Medeiros, Thiago Volcati e Joice Luizi Alves — a relatarem ao blog sobre suas experiências que levaram a uma via de crescimento mútuo.

Ler mais

Com a engenharia, elas constroem um futuro melhor para si mesmas e suas famílias: conheça as histórias de três bolsistas do Programa Voar

Evilyn Vitoraci, Maria Eduarda Alves e Tainá Barreto foram selecionadas pelo programa do Instituto Ling para receber apoio enquanto cursam a faculdade de Engenharia Mecatrônica no Insper, em São Paulo. Estudantes de excelência desde o ensino fundamental, hoje elas se destacam em competições de engenharia. Entre suas diferentes trajetórias, um fator em comum: a aposta na educação como ferramenta para não só transformar suas vidas, mas gerar impacto na sociedade.

Ler mais

Conheça a Brazilian-American Chamber of Commerce

Desde 2011, a Brazilian-American Chamber of Commerce (BACC) e o Instituto Ling são parceiros no Person of the Year Fellowship, programa de premiação de excelência que já contemplou mais de 160 jovens brasileiros aceitos em cursos de pós-graduação nos Estados Unidos, sendo 91 deles bolsistas do Instituto Ling. A bolsa Person of the Year é apenas uma das várias iniciativas promovidas pela BACC, entidade que busca promover o comércio, os investimentos e os laços culturais entre Brasil e Estados Unidos. Em conversa para o blog, conhecemos mais sobre a história desse parceiro.

Ler mais