Entre o local e o global, promovendo informação por um mundo melhor: a trajetória de Sabrina Passos no jornalismo
Das redações gaúchas para o cenário global da tecnologia, Sabrina Cimenti Passos leva o conhecimento em jornalismo e gestão de mídias digitais para jornalistas e redações em toda a América Latina. Com o mestrado em Madri por meio do programa Jornalista de Visão na bagagem, ela assumiu em 2023 o cargo de diretora de programas para a América Latina na Blue Engine Collaborative, onde ajuda a unir empresas que investem na imprensa a coaches que ministram laboratórios para jornalistas e redações. Paralelamente, investe seus conhecimentos na Conectados e Protegidos, organização que visa educar adultos sobre o uso de telas e redes sociais por crianças, na junção entre tecnologia e informação, com impacto social.
De 2005 para cá, muita coisa mudou: imagine que, há 20 anos, as telas de celular sequer eram touchscreen, a principal rede social dos brasileiros era o Orkut e o teletrabalho ainda era pouco praticado. Quando se graduava em jornalismo em 2005, Sabrina Passos Cimenti tampouco vislumbrava os rumos que sua carreira tomaria – e o quanto que ela seria influenciada por essas tecnologias.
Ao ser selecionada para o programa Jornalista de Visão, do Instituto Ling, em 2015, já trazia na bagagem um master em jornalismo e gerenciamento editorial, um MBA em comunicação digital e multimídia e anos de experiência em redações.
Ela era editora executiva e gerente de transformação digital no Grupo RBS quanto partiu para o mestrado em Comunicação Corporativa na IE Business School, em Madri, na Espanha. Nessa década desde a formatura na pós-graduação, passou pelo Facebook e aterrissou na Blue Engine Collaborative, onde hoje ajuda projetos em jornalismo, das pequenas redações às grandes empresas, a se desenvolver ainda mais a partir das tecnologias.
Em paralelo, desenvolveu outros projetos. O principal é criar sua filha Cora, de seis anos. O segundo nasceu inspirado por Cora: o Conectados e Protegidos, que leva evidências científicas e informações sobre o uso de telas e de redes sociais para adultos responsáveis por crianças.
Na fronteira entre o jornalismo e o desenvolvimento tecnológico, Sabrina construiu um caminho baseado em seus princípios e na convicção de que informações podem mudar as pessoas e as organizações. “Trabalho sempre com tópicos relacionados aos desafios das organizações de mídia. Sou jornalista e sigo sendo jornalista – mas agora de um outro lado”, conta.
Entre a tecnologia veloz e a informação apurada
Durante o mestrado em Madri, cursado com apoio do Instituto Ling, Sabrina seguiu atuando no Grupo RBS. Mesmo com o trabalho, agarrou todas as oportunidades oferecidas pela IE Business School. Dez anos depois, reflete que as principais heranças do programa foram a maturidade e as portas abertas – tanto para as experiências internacionais quanto para outras visões de mundo.
“Além da abertura para uma carreira internacional e da possibilidade de novos cargos, nós voltamos do programa com outra bagagem. Para mim, o mais legal foi a conexão com pessoas de fora da nossa realidade. Eu era a mais experiente na sala, já trabalhava, e estava com colegas recém-saídos da faculdade”, explica.
Já com o diploma de mestrado em mãos, seguiu à frente do programa de transformação digital do grupo de mídia gaúcho por mais três anos. Foi, então, contratada pelo Facebook para liderar as parcerias da gigante tecnológica com corporações de mídia no Brasil. Assumiu o cargo de gerente de parcerias estratégicas de mídia.
“O Jornalista de Visão proporciona uma virada na carreira. Saí de uma empresa local para uma empresa global. Eu sempre tive isso desenhado para minha vida, mas foi o master no exterior que fez toda a diferença no currículo. E eu não teria conseguido sem a bolsa”, pontua Sabrina.
Para ela, o maior impacto foi conhecer pessoas de origens diversas e criar novas referências de mundo.
“Há dez anos, eu tinha uma ansiedade em aprender. Hoje é quase o contrário: gostaria de poder digerir melhor os aprendizados. Gostaria de ter a energia que tinha há 10 anos, mas esse tempo também me deu maturidade”, diz.
Unindo as empresas de mídia ao desenvolvimento
Junto de outros colegas, Sabrina deixou o Facebook – hoje, Meta – em 2023, decidida a construir um caminho próprio fora do mercado tradicional e colaborar com organizações em que o propósito estivesse alinhado ao seu.
“Eu sentia falta da autonomia. Você pensa que, em uma empresa global, vai impactar muitas pessoas. Mas poucas coisas têm a sua assinatura”, explica.
Não demorou a assumir uma nova função, reencontrando o propósito que havia perdido de vista. Ainda em 2023, começou a trabalhar como Coach e Advisor no Blue Engine Collaborative e, em 2024, tornou-se também diretora de programas para as Américas. “Hoje, coordeno programas de transformação digital para empresas de mídia da América Latina. O momento em que mais me vejo fortalecendo a indústria de notícias ou de mídia é hoje”, reflete.
No dia a dia, Sabrina faz a ponte entre empresas, que investem em jornalismo, e coaches para capacitar os profissionais da imprensa, e coordena os laboratórios do Google para jornalistas e redações – e a maior satisfação está em enxergar o impacto direto da atuação.
“Normalmente, esses laboratórios duram de 3 a 6 meses. Eu sou responsável pela experiência, por contratar outros mentores, por também ser coach. Nesse momento, estamos fazendo cinco laboratórios, todos focados em inteligência artificial”, diz Sabrina. “Vemos o impacto real em organizações de mídia. Desde as menores, tipo o Alma Preta, até grandes veículos como a Folha de São Paulo. Quando faço os reports, é muito bacana ver como muda as pessoas e muda as empresas”, exemplifica.
Outro exemplo está nas trocas que nascem do trabalho de Sabrina. Diferentes veículos contemplados pelos treinamentos do Google acabam firmando parcerias, que geram novos produtos e publicações. “Em um caso, uma empresa precisava de um desenvolvedor e outra de um product owner. Os veículos fizeram essa troca e criaram coisas bacanas juntos”.
Conexão saudável para as próximas gerações
O ano de 2015 foi marcado não só pela seleção no programa Jornalista de Visão, mas pelo casamento de Sabrina. Hoje, tem também uma filha, a Cora, de seis anos. “Ela é meu principal projeto de vida. Sou outra pessoa hoje porque sou mãe”, diz Sabrina.
Cora, que nasceu logo antes da pandemia de covid-19, inspirou ainda outro projeto: o Conectados e Protegidos, lançado em março de 2024, em parceria com Carolinne Santin, pediatra de Cora.
“Foi um tema que caiu nas minhas mãos quando começaram as discussões sobre regulamentação das mídias. O projeto nasceu em um momento em que tudo muda rápido demais — leis, plataformas, algoritmos, a chegada da inteligência artificial generativa e, principalmente, o comportamento digital das famílias. Um dos maiores desafios tem sido lidar com dois mundos que se movem em velocidades diferentes: a vida online das crianças e adolescentes, que avança num ritmo quase impossível de acompanhar, e a resistência de muitos adultos que ainda não se sentem preparados para entender esse universo”, explica.
Pode parecer até contraditório conciliar a atuação no Conectados e Protegidos com o trabalho cotidiano em uma big tech. Mas a ideia do projeto passa longe de eliminar as telas da rotina das crianças. “Vamos nas escolas conversar com os adultos e eles saem transformados. Não quero que deixemos de ser digitais, mas que continuemos com mais controle”, aponta Sabrina.
Sabrina e Caroline palestram em escolas para pais, educadores, babás, avós, professores e outros responsáveis por crianças. O Conectados e Protegidos também serve como exemplo da materialização de uma carreira que completa 20 anos. “Minha trajetória no jornalismo e na área de comunicação — especialmente depois de ter passado por uma big tech — me deu uma visão muito clara sobre como plataformas, algoritmos e modelos de negócios impactam o comportamento das pessoas.” No projeto, isso se traduz na apresentação de evidências científicas em linguagem acessível e na habilidade de entender a conexão da tecnologia com a forma que pensamos.
Um dos lançamentos mais recentes, por exemplo, foi a publicação de um e-book sobre adultização das crianças. A experiência nos dois lados da mídia – nas redações e nos ecossistemas digitais – mostrou à Sabrina que “as tecnologias não são neutras”. Entender que redes sociais e aplicativos são desenhados para capturar a atenção ajudou na hora de estruturar o projeto, que não fala apenas de telas, mas de comportamento, saúde mental, desenvolvimento infantil e responsabilidade das plataformas.
Acompanhando o mundo digital em perpétua transformação, Sabrina planeja desenvolver novos formatos de conteúdo para apoiar os pais e educadores para além dos encontros pontuais promovidos pelo Conectados e Protegidos.
A curto prazo, o objetivo para 2026 é expandir o número de escolas e entidades impactadas pelo projeto. “Também queremos expandir além do Rio Grande do Sul, fortalecendo a ponte com outras regiões — afinal, os desafios digitais da infância não têm fronteiras”, pontua Sabrina.
28.11.2025