Entre Santa Cecília e Faria Lima: Cláudio Rabin, um empreendedor no mundo do jornalismo
Formado em jornalismo pela PUCRS e com título de mestre pela Universidade Católica Portuguesa, um dos primeiros bolsistas do Programa Jornalista de Visão hoje aposta no jornalismo de nicho como forma de entregar informações relevantes e manter um negócio sustentável. Com passagens pela Zero Hora e pela Folha de São Paulo, Cláudio Rabin aprendeu no Portal do Bitcoin que a cobertura especializada de qualidade pode render credibilidade e manter um veículo de pé. Agora, lança seu próprio veículo: a Catai, focada na cobertura de Inteligência Artificial.

Cláudio Rabin poderia ter seguido um caminho tradicional na imprensa: formado em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), começou atuando como repórter na Zero Hora, em sua cidade natal, Porto Alegre.
Depois de cursar o mestrado na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, em 2012, retornou para o Brasil com o entendimento de que o mundo acadêmico não era o sonhado por ele. Mas também com a vontade de fazer diferente no jornalismo, colaborando com matérias aprofundadas, ricas em criatividade e em técnicas da narrativa de não-ficção.
Munido da bagagem adquirida ao longo dos anos, tendo passado por veículos tradicionais, experiência como freelancer e a oportunidade de tornar-se sócio de um portal especializado na cobertura jornalística de criptomoedas, embarca agora na jornada de criar, do zero, o próprio ecossistema de notícias: a Catai, especializada em inteligência artificial.
Primeiros passos de uma trajetória não convencional
Antes de se tornar repórter, Cláudio estudou biologia e relações internacionais, até se encontrar na graduação de jornalismo na PUCRS.
Já formado e atuando como repórter na Zero Hora, foi selecionado em 2012 para o Programa Jornalista de Visão, do Instituto Ling. Com a aprovação em mãos, iniciou um mestrado em Governança, Liderança e Estudos da Democracia na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa.
Mesmo se enxergando como um profissional ainda iniciante, abraçou a oportunidade da bolsa e de todas as portas abertas com a pós-graduação. “O mestrado expandiu minha visão de mundo e me deu profundidade intelectual. Existia todo um clima de debate muito proveitoso nas aulas”, lembra.
Durante o curso, ainda teve a oportunidade de conhecer mais da Europa e de outras culturas: “Venci um concurso de ensaios, cujo prêmio era uma viagem para o Azerbaijão. Conheci gente do mundo inteiro e um país do Cáucaso que eu jamais teria conhecido. Abriu muito meus olhos, comecei a pensar no que queria da vida”.
Foi antes mesmo de terminar o mestrado que Cláudio começou a experimentar novas possibilidades no mundo da escrita jornalística. “Ofereci e consegui emplacar uma pauta na revista Piauí. Naquela época, era mais uma questão de conseguir lançar minhas ideias do que ganhar dinheiro”.
De volta a terras brasileiras, tinha um novo objetivo em mente: ser escritor. “Não ser escritor de ficção, mas trabalhar com texto”, explica. Retornou a Zero Hora, desta vez na equipe de Breaking News, focada em notícias para o site do veículo. Além de aprender junto de colegas mais experientes, começou a aplicar o que havia elaborado no mestrado no dia a dia.
“Nessa época, consegui viralizar dois textos”, conta. O tema de um deles chega a ser divertido: um texto em formato de crônica sobre um porco, que foi avistado caminhando pelas avenidas de Porto Alegre. “É até engraçado, mas costumo dizer que esse é o texto da minha carreira. Consegui fazer o que queria: usar técnicas narrativas da literatura de ficção no jornalismo. As pessoas se conectaram com isso e muita gente diferente apreciou o texto”, orgulha-se.
Em 2015, mudou de cenário e começou a escrever nas editorias de esporte e economia da Folha de São Paulo. Mas logo se viu atraído pela liberdade da atuação como freelancer e, no ano seguinte, começou a colaborar com veículos como Veja, Risca Faca e Mongabay.
Cada vez mais, sobressaía o espírito questionador que o motivava a trazer inovação para as pautas do cotidiano na imprensa. “Sempre tive esse viés de tentar coisas novas”, destaca. Foi com essa criatividade que realizou coberturas pioneiras em mais de um veículo. “Na Veja, fizemos a primeira grande reportagem sobre a indústria da fake news no Brasil”.
Profissionalizando a cobertura de nicho
Em 2018, ainda atuando como freelancer, Cláudio se deparou com a pequena imprensa especializada em criptomoedas. Ao tentar vender uma pauta, encontrou o Portal do Bitcoin. “Quando tentei vender esse texto, me responderam e disseram que estavam procurando um jornalista. Vi que o site tinha potencial, mas precisava de um editor chefe – e eu era essa pessoa”, conta.
Como costuma acontecer com qualquer empreendedor, Cláudio aprendeu que as dificuldades de manter um negócio eram maiores do que o esperado. “Não previa que ia ser tão difícil. Mas eu já tinha as bases, os princípios jornalísticos, todos embutidos em mim”.
Com o conhecimento e a experiência que carregava, encarou o desafio de profissionalizar a cobertura jornalística do portal especializado em criptomoedas. Chegou a receber propostas para trabalhar em outros veículos do mesmo tema, mas logo se tornou um dos sócios do Portal do Bitcoin.
Em 2020, coordenou o esforço para tornar o portal o primeiro site de criptomoedas a fazer parte do UOL. “Nessa construção de marca, sinto que criei algo que é a coisa mais pura do jornalismo: a credibilidade de um site. Esse é o maior valor jornalístico que pode existir, e o mais intangível também”.
Perseguindo a meta de complexificar o debate sobre as criptomoedas no Brasil, Cláudio ajudou a emplacar no Portal do Bitcoin pautas como denúncias de esquemas de pirâmides financeiras que ficaram conhecidas no país.
O projeto foi tão bem sucedido que, em 2021, foi comprado por uma grande empresa. “O mercado do bitcoin voltou a subir bastante neste ano, mas precisávamos de mais investimentos no Portal”. Cláudio permaneceu na equipe por mais dois anos, até decidir que era hora de dar mais um passo em sua carreira.
Um olhar diferente para a cobertura especializada
A experiência na imprensa focada em criptomoedas foi um mergulho importante nos aprendizados sobre como empreender no jornalismo – mas o conhecimento não ficou restrito a esse tema de cobertura.
A importância do jornalismo de nicho se tornou uma verdade na carreira de Cláudio, e o levou a ter novas ideias para empreender. “Se há um número de pessoas suficiente, interessadas em um tema, precisa ter um veículo jornalístico para entregar essas informações. Os grandes jornais não vão fazer isso”, explica.
Na época de atuação no Portal do Bitcoin, as novas inteligências artificiais já surgiam como uma pauta inovadora. “O Portal do Bitcoin, por exemplo, foi o segundo site do Brasil a dar uma matéria sobre o ChatGPT”, lembra. “O mercado da Inteligência Artificial já nasceu como um assunto muito forte”.
Definindo sua carreira: um jornalista empreendedor
Para Cláudio, uma empresa no mundo do jornalismo não se sustenta apenas em bases financeiras – mas na credibilidade que mantém com o público. “Um site de notícias é um negócio que precisa ser sustentável pelo valor que entrega ao leitor e à sociedade”, defende.
Em 2024, lançou a Catai, especializada na cobertura de Inteligência Artificial. “Acredito muito no projeto. Por mais lunática que possa parecer, por conta do momento de mercado, acho que a ideia de empreender dentro do jornalismo é minha rota agora”.
E mesmo entre especialistas do mercado financeiro, encontrou respaldo para a aposta que fez na imprensa especializada. “Conversando com investidores, já me falaram que eu estava indo para um mercado de onde todos estavam correndo. E concordo com eles: isso, na verdade, pode ser uma oportunidade”.
Sonhos antigos seguem acompanhando Cláudio – mas repaginados, para seguir a nova fase de sua vida. “Agora, acredito que se algum dia eu escrever um livro, estarei mais na linha de narrativas de não-ficção sobre negócios do que qualquer outra coisa”, exemplifica.
A Catai já angariou mais de 70 mil seguidores nas redes sociais, com campanhas orgânicas de divulgação. Depois de anos transitando entre o mercado financeiro e a imprensa, Cláudio se encontra confortável no meio do caminho. “Eu brinco que eu fico entre a Santa Cecília, que é onde fica a Folha de S.Paulo, e a Faria Lima. Eu não sou um investidor, eu sou jornalista, mas aprendi muitas coisas do mundo de investimentos”.