Estudar, lecionar e advogar: Luciana Dias celebra seus múltiplos papéis
Filha de professores, Luciana Dias sabia desde criança que no futuro também iria lecionar. A afinidade com os estudos a levou a cursar Direito e depois a dois mestrados, um na USP e outro em Stanford (LLM). Após atuar como advogada em Nova Iorque, retornou ao Brasil para fazer parte do colegiado que dirigiu a CVM. Em paralelo, deu início à vida de professora universitária e ao doutorado. Hoje, além de professora da FGV, tem seu próprio escritório em São Paulo, focado em regulação do mercado financeiro e do mercado de valores mobiliários.
Após um tempo na advocacia em Nova York, retornou ao Brasil para 8 anos na CVM, autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda. Na mesma época, deu início à vida de professora universitária, carreira que traz a disciplina de estar sempre em dia com as atualizações da sua área profissional. Hoje tem seu próprio escritório focado em regulação do mercado financeiro e do mercado de valores mobiliários e dá aulas sobre mercado de capitais e fundos de investimento na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo.
Ao olhar para sua trajetória, lembra do conselho familiar na hora de decidir a vida profissional, salientando a segurança do ofício de ser professor. “Sempre vai ter alguém que precisa aprender alguma coisa”, dizia a mãe, formada em Química, ao lado do pai, que cursou Letras. Dos quatro filhos do casal, três foram para a docência. Luciana optou por não trilhar a carreira tradicional do Magistério, elegendo o Direito como formação. E a cada semestre na USP (Universidade de São Paulo) sentia ter acertado na decisão.
— Entrei sem muita paixão e fui me apaixonando pela faculdade. Descobri ter muita facilidade em algumas disciplinas, especialmente o Direito Comercial, eu era aquela colega que todos pediam o caderno emprestado (risos) — recorda.
O currículo carecia de inglês, e a forma mais rápida de aprender era morando fora. Então, a futura advogada fez uma pausa de um ano na universidade para ser au pair em Londres. De volta ao Brasil, retomou o curso e encontrou estágio em um escritório de advocacia que tinha clientes estrangeiros. Além do trabalho convencional de escritório, Luciana também abraçou demandas acadêmicas que surgiram. Assim, pouco após se formar já se inscreveu para seguir os estudos no mestrado em Direito Comercial, também pela USP.
— Sempre achei os trabalhos oriundos do ambiente acadêmico mais interessantes, faziam pensar mais — comenta.
Logo após concluir as disciplinas do mestrado, decidiu se candidatar ao LL.M, o mestrado em Direito nas universidades americanas. Mesmo sem os recursos financeiros disponíveis, Luciana participou dos processos seletivos das principais instituições de ensino nos Estados Unidos e confiou que na sequência encontraria bolsas, o que realmente aconteceu. A aprovação para a Stanford University foi muito comemorada, com 50% de bolsa e também o financiamento proporcionado pelo Instituto Ling.
— Naquela época, chegando perto dos 30 anos de idade, eu pensei: se for para “me endividar loucamente”, tenho que estudar em uma das top 5. Buscar um carimbo da mais alta qualidade — recorda. — E foi isso que mudou minha carreira. Sem essa experiência eu não teria a carreira que tenho hoje — conta a advogada, que após três anos da conclusão da pós-graduação comemorou poder pagar de volta a bolsa recebida do Instituto Ling.
É com carinho que se lembra daquele período de um ano vivido no campus, uma turma pequena e com muito acolhimento da universidade. Ao terminar o LL.M, resolveu se desafiar a ficar mais tempo nos EUA e fez o bar examination test, equivalente à prova da OAB brasileira, para ter permissão de atuar como advogada. De 2005 a 2007, morou em Nova York trabalhando na Debevoise & Plimpton.
Adorava a cidade e o ambiente de trabalho, que considerava super à frente do tempo, com uma diversidade grande, como grupos de mulheres, de negros, de latinos. Mas, em determinado momento, passou a se questionar se moraria para sempre no exterior. Pesou prós e contras e fez as malas de volta ao Brasil, já com nova oportunidade engatilhada.
Vários colegas da época da faculdade haviam encaminhado suas carreiras em órgãos como Ministério da Justiça, BNDES e outros, logo após o primeiro governo Lula assumir, formando seu corpo técnico no governo federal. Então surgiu o convite para ser superintendente de desenvolvimento do mercado na CVM - Comissão de Valores Mobiliários, com sede no Rio de Janeiro. A CVM é uma autarquia do governo federal que atua para garantir a integridade e promover o desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro.
Luciana ficou três anos neste cargo e mais cinco como diretora do órgão. Durante este período, de agosto de 2008 em diante, começou a lecionar na Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro. Em 2011, iniciou seu doutorado; período de intensa dedicação à carreira e complementando com ambiente de pesquisa e experiência em sala de aula.
— Trabalhar no governo é uma espécie de “maravilhoso mundo novo”, onde você pode imaginar um mundo melhor e colocar em prática. Por conta do meu trabalho, eu viajava com frequência para discutir práticas do mercado de capitais, fora do Brasil, e voltava com muita informação. Isso foi enriquecendo meu trabalho acadêmico e no mercado, além de dar cursos sobre estes temas.
Em dezembro de 2015, quando seu mandato foi encerrado, hora de tomar mais uma decisão importante: passar a integrar algum grande escritório de advocacia ou tentar voo solo. A maternidade recém chegada a impulsionou para a segunda opção, para ter mais liberdade. Agora aos 45 anos, olhando para trás, a mãe do Luis (8 anos) e da Cecília (5) sente que fez a escolha certa. Luciana e o marido mudaram-se para São Paulo em 2016, onde ela abriu o L Dias Advogados, focado em regulação do mercado financeiro e do mercado de valores mobiliários. Seus clientes são as empresas agora “do outro lado do balcão”, como administradores fiduciários, instituições financeiras e gestores de fundos, entre outros.
E há muitos outros chapéus, em suas palavras, com várias responsabilidades além do escritório. É membro de Conselhos de Administração e Comitês de Auditoria de companhias listadas no Brasil e no exterior. Também integra as listas de árbitros da Câmara do Mercado da B3 e do Centro de Arbitragem e Mediação da Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CAM-CCBC) e atua como árbitra em procedimentos conduzidos em outras câmaras de arbitragem no Brasil e no exterior.
A vida de professora ainda continua, agora lecionando na FGV de São Paulo, com aulas sobre regulação do mercado de capitais e fundos de investimento em semestres alternados.
— Lecionar é uma atividade da qual gosto muito, pois me dá disciplina, me testa, me coloca à prova todo semestre. E para minha carreira como árbitra e parecerista é importante ser professora. É o que me mantém afiada. Aprender, para mim, é sistematizar dentro da minha cabeça e ser capaz de passar pra frente. Dar aula é o melhor exercício para a mente que posso ter — conclui.