Com os pés nos EUA e o coração no Brasil: Bruno Bueno, entre a administração e as políticas públicas
Hoje como consultor no Boston Consulting Group (BCG), em San Francisco, nos Estados Unidos, o carioca Bruno Bueno carrega no currículo um MBA na Universidade de Stanford e um mestrado em administração pública em Harvard. Com uma carreira crescente no setor de clima e sustentabilidade, paralelamente fundou, junto com sua esposa, a ONG Proxim8, que ajuda moradores de comunidades vulneráveis do Rio de Janeiro a se recolocar no mercado de trabalho. Para o futuro, o sonho é expandir o trabalho da ONG e impactar as políticas públicas cariocas ainda mais de perto.
Formado em Engenharia de Produção pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), Bruno Bueno progredia na carreira no banco Itaú quando resolveu encarar um duplo desafio: cursar um programa de mestrado nas Universidades de Harvard e Stanford.
Em 2020, foi um dos bolsistas do programa Start MBA/MPA do Instituto Ling, e à época, foi o único brasileiro a cursar o mestrado duplo nas universidades americanas. Ainda recebeu a bolsa Person of The Year, atribuído pela Brazilian-American Chamber of Commerce de Nova Iorque para candidatos aceitos em mestrados americanos que se destacaram no processo do Instituto Ling.
Ao falar sobre o impacto dos mestrados, Bruno é categórico: “mudou todas as áreas da minha vida”. Com o duplo diploma em mãos, em 2022, decidiu tirar seis meses sabáticos antes de começar a trabalhar no BCG – onde segue até hoje, no cargo de Consultor e Líder de Projetos. Nos Estados Unidos, conheceu sua esposa, Nicole, com quem hoje tem um filho de onze meses.
Os projetos e objetivos frutos do MBA e do mestrado não ficaram restritos à carreira. Junto de Nicole, Bruno fundou a Proxim8: uma ONG focada em auxiliar moradores de comunidades no Rio de Janeiro que estão desempregados a conseguir uma colocação fixa no mercado de trabalho.
“A ONG é minha válvula de escape para continuar conectado com o Brasil e continuar apoiando o Rio de Janeiro, onde eu cresci e onde meu coração está. Nós tínhamos um desejo enorme, mesmo estando nos Estados Unidos, de conseguir continuar conectados com o Brasil, ajudando com uma parte significativa do nosso tempo e dinheiro”, conta Bruno.
Após três anos como consultor do Boston Consulting Group (BCG), Bruno decidiu que era o momento de expandir vivências e conhecimentos através dos mestrados em Harvard e Stanford.
“Os programas de mestrado foram maravilhosos - em escolas que considero estar entre as melhores do mundo, tanto em business como em políticas públicas. Foi uma experiência transformadora. Mudou a indústria em que trabalho, o lugar onde vivo, o futuro de onde vou viver, foi onde conheci minha esposa”, conclui.
Em 2022, depois da pós-graduação, Bruno retornou ao BCG como consultor trabalhando no Vale do Silício. No cargo, Bruno fica na intersecção de três indústrias fundamentais para o futuro: energia, clima e sustentabilidade. “Ajudamos clientes a decidir quais são seus próximos passos em grandes investimentos, como foco em transformação para operações sustentáveis”, explica Bruno.
Ele já trabalhou com clientes como a Breakthrough Energy, fundo de Bill Gates para tecnologia limpa, o Bill e Melinda Gates Foundation, e também o governo de Porto Rico e companhias elétricas que atuam para diminuir o impacto das mudanças climáticas.
O pano de fundo para sua atuação é, sempre, o impacto social – propósito que carrega para além da trajetória na empresa. “Meu objetivo mais próximo é seguir minha carreira nos Estados Unidos, estou em uma trajetória super boa, já há três anos no BCG depois dos mestrados . Sigo no ciclo de promoções e me vejo mais alguns anos, de cinco a dez, por aqui. Olhando para o futuro, em um médio prazo, minha ideia é voltar para o Brasil”, revela Bruno.
Atacando a pobreza com trabalho formal
Ainda no MBA em Stanford, Bruno cursou uma disciplina chamada “Design for extreme affordability”. A ideia era aprender a desenhar soluções para pessoas na base da pirâmide econômica. O projeto de Bruno lidava com a empregabilidade no contexto americano.
“Ao final do programa, eles selecionam pessoas para investir, para que os alunos façam uma jornada empreendedora”, explica. Foi quando Bruno começou a colocar em prática um projeto para as favelas do Rio de Janeiro, uma ideia forte, mas que ainda precisava se consolidar.
Junto de Nicole, hoje sua esposa, ele contratou 30 pesquisadores, moradores de comunidades do Rio de Janeiro, para conduzir entrevistas de uma hora com cerca de 300 pessoas. “Queríamos entender porque era tão difícil combater a miséria nas favelas”, diz. “Chegamos com a mentalidade de que o empreendedorismo era forte, que soluções digitais, aplicativos, eram o caminho, mas tivemos uma surpresa”.
A pesquisa apontou que as soluções digitais não chegavam às comunidades. Quando se trata de empregabilidade, prevalecem as relações pessoais, as indicações de familiares e amigos. Outra novidade tinha relação com o empreendedorismo: menos de 10% das pessoas entrevistadas realmente queriam empreender.
“A maioria empreender porque não consegue uma carteira assinada”, explica Bruno. Surgiu, então, o desenho da Proxim8, ONG que hoje é sua grande ligação com o Brasil.
“A Proxim8 surge como um ponto de apoio verdadeiramente holístico, capaz de acolher qualquer pessoa que chegue aos seus centros e conectá-la imediatamente a oportunidades de trabalho, graças à reunião de vagas provenientes de mais de 18 plataformas de emprego. Sua operação pulsa no coração das comunidades, instalada dentro de ONGs que carregam a confiança local — colégios, centros de contraturno e instituições que fazem parte do cotidiano das famílias. Ali, entre conversas, escuta ativa e orientação individualizada, o apoio vai muito além de currículos: envolve também rodas de diálogo e suporte emocional que reconhecem a dignidade e o percurso de cada indivíduo. Para a organização, todos já trazem consigo uma habilidade valiosa. O que a Proxim8 busca é descobrir qual é o caminho mais rápido para transformar essa habilidade em trabalho e renda”, como observa Bruno.
Hoje, a organização conta com três centros: na comunidade do Jacarezinho, na Cidade de Deus e em Campo Grande, todos no Rio de Janeiro. “Em três anos de ONG, já empregamos mais de 2.300 pessoas”, comemora. Os funcionários da Proxim8 atendem em escolas e organizações parceiras, que cedem salas para o projeto. “Contratamos pessoas respeitadas na comunidade, porque não tem como tocar uma operação sem ser de lá. Eles são o rosto e o respeito da ONG”, explica Bruno.
Além da atuação no administrativo, Bruno e Nicole investem mensalmente na ONG, aplicando parte de seus salários e angariam fundos para manter a Proxim8 operando. Juntos, já angariaram mais de 1 milhão de reais de organizações como a própria Universidade de Stanford, empresas como a Ambev, dentre outras doações de amigos.
“Quem passa pela ONG já sai com conexões para aplicar para vagas de trabalho. As pessoas que passam por todos os serviços do centro, que tem apoio psicológico, ajuda para encontrar vagas, tem 17 vezes mais chance de conseguir emprego”, afirma Bruno. “Cada real investido na operação gera mais de 50 reais em renda para a família de quem consegue emprego”.
Bruno comemora principalmente os impactos diretos da iniciativa no cotidiano das pessoas. “Há casos muito bonitos: idosos que achavam que nunca mais iriam trabalhar, pessoas desempregadas há nove anos que conseguiram emprego, mulheres em situação de violência doméstica que conseguiram sair disso através do emprego.”
Para um futuro próximo, Bruno e Nicole querem que a ONG siga operante e cada vez mais, impacte a realidade de brasileiros em situação de vulnerabilidade. “O mais importante é fazer com que esse sonho continue. Conseguimos atender uma fração pequena da população carioca. O sonho é que gente expanda para além dessas três comunidades e, quem sabe, para fora do Rio de Janeiro. Tudo depende de quantos apoiadores tivermos”, avalia Bruno.
Um vislumbre no futuro
Mesmo com a vida firmada nos Estados Unidos, o Brasil não deixa de aparecer nos sonhos de futuro de Bruno. “A ideia é voltar para o Brasil quando nosso filho estiver crescido, criado e bem educado”, revela.
O sonho profissional? Trabalhar diretamente com políticas públicas em seu estado natal, o Rio de Janeiro. “Gostaria de trabalhar em uma posição do executivo, como secretário de infraestrutura, energia, desenvolvimento econômico, turismo, que são todas áreas em que tenho passado bastante tempo trabalhando”, explica Bruno. Ou quem sabe como governador do Rio, seu grande sonnho. “Mas tento pesar o tempo e o risco para a família. O plano ainda é esse, quando as estrelas se alinharem.”
Para Bruno, que cursou tanto um MBA em negócios quanto um mestrado em políticas públicas, as duas áreas nunca param de se cruzar: “quero voltar para o Brasil e trabalhar com políticas públicas em uma área que consiga gerenciar orçamento e criar planos para atrair empresas e gerar empregos”, conta.
Bruno Bueno | brunobuenocm@gmail.com | +16503094512
28.11.2025