Roberson Oliveira: da periferia de Campinas à Disney
Ser um executivo financeiro de uma empresa americana centenária como a The Walt Disney Company não estava nem nos sonhos de Roberson quando criança, na periferia de Campinas. Mas com esforço e apoio da mãe, ele trilhou uma trajetória acadêmica de sucesso que o levou até a Unicamp e a University of Virginia, onde cursou um MBA como bolsista do Instituto Ling. Hoje, ele coordena a expansão de experiências da Disney, mantém seu filho conectado às raízes brasileiras e espera poder contribuir para o futuro de outros jovens como ele.
Passar as férias em um parque da Disney é o sonho de muitas crianças. Agora, imagine ter um pai que trabalha na Disney! Você pode se divertir nos parques todos os meses e ver de perto toda a magia do universo Disney em transformação. Essa é a vida de Caetano Goulding-Oliveira, de 10 anos.
Caetano é o maior projeto de vida de Roberson Oliveira – que veio de uma realidade muito diferente da do filho. Hoje executivo da The Walt Disney Company, conhecida como “o lugar mais feliz do mundo”, Roberson cresceu na periferia de Campinas, em Hortolândia, São Paulo. É o mais velho de três filhos de uma mãe solo, que trabalhava como faxineira. Na infância, teve que trabalhar para ajudar a família. “Todo mundo que cresce nas periferias trabalha. Sempre trabalhei, desde 0s 12 ou 13 anos. Já vendi suco no semáforo, rifa de porta em porta”, conta Roberson.
Roberson insistiu nos estudos e se formou em uma escola técnica no ensino médio, onde cursou Processamento de Dados. De lá, ganhou uma bolsa para um cursinho pré-vestibular organizado por alunos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O resultado? Foi aprovado na Unicamp, na Universidade de São Paulo (USP) e na Universidade Federal de Itajubá (Unifei). Graduou-se em economia pela Unicamp, em 2009.
Novos horizontes no meio das páginas
Enxergar para além da sua realidade foi a grande estratégia de Roberson para seguir estudando depois do ensino médio. Para sustentar sozinha os três filhos, a mãe trabalhava como faxineira de um executivo da companhia de energia CPFL. Os livros das filhas desse executivo eram doados para a mãe de Roberson. Ali, entre as páginas, ele encontrou novas possibilidades. “Tinha um livro que chamava Guia do Estudante, que todo vestibulando comprava. Era um guia de carreira. Eu, garoto, ficava olhando esses livros com muita curiosidade, o que ajudou a pensar fora da minha realidade vivida ali no dia a dia”. Foi a primeira vez que ele pensou em cursar uma graduação. “Educação sempre foi importante para minha mãe, porque ela não tinha tido. Ela parou de estudar ainda garota”, relata.
A mãe não sabia exatamente a dimensão do que significava ter um filho em uma Universidade. “Ela só sabia que eu estava estudando muito”. Roberson foi aprovado na mesma época que a filha dos patrões da mãe. “Foi aí que ela compreendeu a magnitude que era ter um filho na Unicamp, e ela fazia questão de contar para todo mundo, orgulhosa.”
Com três aprovações no vestibular, optou pela USP. Mas a distância da universidade dificultava a vida. Então, ele enfrentou o vestibular novamente e cursou Economia na Unicamp.
Ainda durante a graduação, Roberson foi aprovado em um concurso para o Banco do Brasil. Foi funcionário público ao longo de toda a faculdade. Com o salário, pagou um cursinho para o irmão, que foi aprovado para Engenharia Elétrica na mesma Unicamp, e ainda ajudou a família a reformar a casa. “Minha mãe me incentivava criando as condições para estudar, por mínimas que fossem. Ela tirava do dinheiro dela o valor para a passagem até São Paulo para eu poder estudar quando entrei na USP. Ela é o apoio fundamental para mim e meus irmãos.”
Um eterno outsider
“Minha história de vida é me colocar em situações em que sou um outsider e aprender a lidar com aquele ambiente. Foi assim quando saí do meu bairro para estudar na escola técnica, em um bairro mais rico da cidade, e tinha gente da cidade inteira. Quando fui para a Unicamp, era gente do Brasil inteiro. E quando cheguei nos Estados Unidos, era gente do mundo todo”, elabora Roberson. “Me abriu portas para conexões, perspectivas e caminhos profissionais muito além do que eu poderia imaginar”, conclui.
Ainda durante a graduação, Roberson deu o primeiro passo para construir uma carreira internacional: aprender inglês. Em 2007, resolveu que precisava adicionar o idioma e uma experiência internacional ao currículo para tentar vagas de trainee quando se formasse. Juntou suas economias e partiu para Dublin, na Irlanda. Fez um curso de inglês e trabalhou como bartender durante esse período para se manter.
De volta ao Brasil e já com um diploma da Unicamp em mãos, ele trabalhou durante três anos e meio no grupo de energia AES. Começou pelo programa de trainee, em 2010. Construiu uma trajetória profissional em várias áreas da companhia e foi funcionário destaque, o que lhe rendeu uma contratação para trabalhar com Fusões e Aquisições na sede global da companhia em Arlington, Virginia, nos Estados Unidos.
Voltou à sede brasileira da companhia em 2012 com novas responsabilidades em mãos. Liderou a implementação de um escritório de projetos e coordenou a área de estruturação financeira. Foi o incentivo de mentores e colegas que o impulsionou a dar o passo seguinte: um MBA nos Estados Unidos.
Chegando longe com o incentivo de mentores
“Apesar de saber que chegar até aqui já é algo muito relevante, tenho consciência de que tenho condições de me desenvolver mais e contribuir com o crescimento da minha família e da nossa sociedade”, escreveu Roberson na carta pleiteando uma bolsa do Instituto Ling para cursar um MBA nos Estados Unidos. A pós-graduação na Universidade da Virgínia não estava nos planos, mas o incentivo dos colegas do grupo de energia AES foi o impulso necessário para dar mais um passo em sua carreira. “Em qualquer carreira profissional, sua capacidade de crescer e evoluir depende muito da habilidade de construir e aprender através dos seus relacionamentos — e, na minha experiência, quanto mais diversos eles forem, melhor”, pontua Roberson.
Com a aprovação na pós-graduação e o apoio da bolsa do Instituto Ling, embarcou para a Virginia em 2013. Já no ano seguinte começou a trabalhar em Nova York, no Rothschild & Co, um dos maiores bancos de investimento do mundo. “O MBA me deu muita confiança nas minhas habilidades de ser um executivo e de me inserir no mercado americano como profissional”, explica. Isso veio com o rigor acadêmico e com a possibilidade de estudar com professores do mundo todo, pessoas com os mais diversos backgrounds.
“Eu andava em Nova York e pensava no quão surreal é minha vida. Trabalhando em transações de bilhões de dólares, morar no Brooklyn. Era muito improvável que aquela realidade existisse para mim”, diz. Mas o que veio depois surpreendeu Roberson ainda mais.
Um sonho de infância construído na idade adulta
Além do desejo de visitar os parques de diversão do “lugar mais alegre do mundo”, muitas crianças conservam na memória até a idade adulta as referências culturais criadas pela Disney: Mickey Mouse, filmes de princesas como A Bela e a Fera e Cinderela, os universos de Star Wars, o clássico Rei Leão, entre muitos outros.
Não era o caso de Roberson. “Quando eu era criança, não tinha TV a cabo, nunca assisti Disney Channel, nunca fui ao parque até me mudar para cá e ter um filho. A única lembrança que tenho é de assistir o Rei Leão na quarta série na escola”, conta.
Mas quando a oportunidade de sair do banco para trabalhar na Disney surgiu — trazida por um headhunter — ela tinha ares de sonho de infância para Roberson. “Eu queria um trabalho que continuasse me desafiando intelectualmente, que continuasse na minha jornada como executivo, de crescimento profissional, mas que tivesse tempo para ser pai. É o que tenho hoje na Disney”, reflete.
Na Disney, ele comanda um setor em constante interação com os times criativos, relações públicas, de comunicação e de finanças, tudo sem deixar de lado o caráter analítico e de rigor financeiro. “Sou executivo de Global Development – costumo brincar que o nome da área é tão amplo que nos permite fazer qualquer coisa. Continuo sendo um executivo financeiro, mas desenvolvendo a capacidade de dialogar e ser eficaz em um ambiente com stakeholders muito mais diversos, diferente do mercado financeiro”, pontua.
Em seu cotidiano, ele lida com demandas do setor de experiências – que inclui todos os parques temáticos, cruzeiros e outras ideias em constante construção pelo time de Roberson. São seis parques temáticos só nos Estados Unidos, outro em Tóquio, um em Xangai, um em Paris e uma inauguração em breve em Abu Dhabi.
“Trabalhando aqui, aprendi que as pessoas têm uma forte identificação e um profundo senso de responsabilidade por fazer parte de uma organização com mais de 100 anos de história. Temos um time que observa, negocia e busca formas de continuar levando as experiências Disney a mais pessoas — mantendo o engajamento com os consumidores de hoje e também com os do futuro”.
Mas a real magia da Disney, para Roberson, nasceu com seu filho, Caetano. “Quando estou em Los Angeles, tenho a oportunidade de levar ele com frequência aos parques, levamos amigos. Se ele pudesse, iria todo final de semana”, brinca Roberson. “Não tenho muita referência de paternidade, por isso tento ser o melhor pai que posso. A Disney é um trabalho que me dá essa flexibilidade quando eu preciso para ser um pai presente.”
No futuro, o retorno
Quando se candidatou à bolsa do Instituto Ling para cursar o MBA, Roberson já sonhava em voltar à sua terra natal. “Resolvi buscar a experiência de um MBA internacional, para consolidar meu desenvolvimento como líder e gestor e com o objetivo de, após o programa, voltar ao Brasil e continuar minha história ajudando mais pessoas a trilhar o mesmo caminho que consegui com êxito”, escreveu na candidatura.
Por aqui, sua família o espera todos os anos. O irmão se formou em engenharia elétrica na Unicamp e hoje é engenheiro na Goodyear. A irmã segue trabalhando em Hortolândia, onde a mãe de Roberson também vive. “Minha mãe ainda mora na mesma rua. Comprei uma casa para ela na mesma rua em que ela morava. Volto todo ano ao Brasil para passarmos o final de ano juntos”.
Na Disney, as carreiras são tão longevas quanto a companhia. Para o futuro próximo, Roberson deseja continuar construindo, passo a passo, a trajetória como executivo da empresa. “Na Disney, o nosso principal produto é o storytelling: criar e contar histórias diversas, inclusivas, que as pessoas se sintam representadas. Isso para mim tem muita relevância. Como executivo financeiro, minha missão é equilibrar a realidade financeira e criativa para que a empresa siga por mais 100 anos”, conclui. “Vejo aqui a possibilidade de continuar minha história.”
E, nos próximos capítulos desta história, ele espera que o Brasil seja um dos cenários. “Dei ao meu filho o nome de Caetano porque sabia que ele iria morar aqui nos Estados Unidos, mas queria construir a identidade brasileira dele. Minha expectativa no futuro é voltar ao Brasil, talvez com a Disney.”