Conhecimento, idealismo e versatilidade: a trajetória de Antonia Martins
Uma variedade de experiências pessoais e profissionais levaram Antonia Tallarida Serra Martins a caminhos que ela nunca imaginou aos 16 anos, quando entrou na Fundação Getúlio Vargas para cursar Administração. O ponto de virada, em uma carreira que inclui a liderança de ONGs e uma passagem pelo Ministério da Economia, se deu ao ser nomeada presidente do Instituto de Formação de Líderes e selecionada como bolsista para a disputada imersão no Global Competitiveness Leadership, da Georgetown University.
A carreira foi impulsionada ao se tornar presidente do Instituto de Formação de Líderes (IFL) e ser selecionada como bolsista para a disputada imersão no Global Competitiveness Leadership Program, da Georgetown University. Com esta experiência, tudo passou a fazer ainda mais sentido. É como naquele famoso discurso de Steve Jobs para calouros: você não consegue ligar os pontos olhando em frente; você apenas consegue conectá-los olhando para trás.
O que aconteceu “lá atrás” impactou todo o futuro de Antonia, desde a mudança da família para a Espanha quando era criança, causando – no retorno ao Brasil – um adiantamento de dois anos letivos por conta das diferenças de calendário e da data de nascimento. A menina que era sempre a mais nova das turmas (e que já tinha tendência a ser “CDF”, em suas palavras) precisava se esforçar duas vezes mais do que todo mundo para acompanhar os colegas. Na hora do vestibular, a decisão de qual curso fazer gerou uma reflexão importante e que, no futuro, se mostraria muito acertada.
“Tem pessoas que nascem com uma vocação muito clara, mas eu não sentia aquela paixão por nenhuma profissão específica. Então tive um insight de fazer uma faculdade mais abrangente”, recorda Antonia, que entrou na FGV para cursar Administração.
O universo novo do ensino superior trouxe outro desafio: transitar em uma dinâmica tão diferente daquela anterior do colégio. Mais uma vez, era a vida prática ensinando lições valiosas, como a de desenvolver habilidades interpessoais. Surgiu na universidade o talento para networking, apresentações em público, reconhecer boas ideias e identificar oportunidades.
Esse talento comunicativo foi simultaneamente usado no primeiro emprego. Quando acompanhava o pai, publicitário, na agência onde trabalhava, Antonia se sentia estimulada por encontrar pessoas inovadoras e criativas. Encontrou uma vaga na área de negócios na Publicidade e lá ficou até 2014, responsável pelo planejamento estratégico, exercitando várias habilidades, da gestão de negócios até marketing e atendimento.
Trocando de área: novos rumos
De lá saiu para empreender: entrou como sócia em uma importadora de vinhos, um segmento no qual não tinha qualquer conhecimento prévio, mas ainda assim decidiu apostar. Em paralelo, foi convidada por uma amiga para um grupo de jovens empreendedores: o IFL, em São Paulo. Lá surgiu o grande encantamento.
“Eram pessoas que falavam de política, economia, finanças. De liberdades individuais, liberdade de iniciativas, conceitos que me deixaram encantada. E então aprendi na prática tudo isso”, relata.
Logo depois, em 2016, Antonia se tornou presidente do IFL, o que mudou sua vida em todos os sentidos, como ela conta.
“É um olhar completamente diferente para o mundo, de estar numa posição em que muita gente grande acredita no seu trabalho, ter um senso de responsabilidade validado por pessoas que você admira muito. Muda a forma como a gente se posiciona e se enxerga, de ser capaz de grandes realizações”.
Imersão nos estudos no Exterior
Para formar jovens líderes com grande potencial de impacto, é papel do IFL a indicação de profissionais para participarem do processo de seleção de bolsistas. Em 2016, o conselho indicou Antonia para um disputado curso internacional, parceria com o programa de bolsas do Instituto Ling: o Global Competitiveness Leadership Program (GCL), na Georgetown University, em Washington, nos Estados Unidos. Foram 10 semanas lembradas até hoje com orgulho.
“Uma experiência muito intensa, cercada de dezenas de pessoas de altíssimo potencial da América Latina inteira, morando no mesmo prédio, juntos full time. Um caldeirão de conhecimento”, brinca Antonia, comparando a um BBB de liderança e negócios. “Foi um período que, além das competências técnicas de desenvolvimento de projetos e empreendedorismo, proporcionou muito autoconhecimento”.
A entrada no setor público
Na volta de Washington, mais um insight importante: o aprendizado despertou a vontade de trabalhar para um propósito maior. Decidiu se aproximar mais do universo político para contribuir com a sociedade, mudando a realidade de sua região. Aliando suas competências e características ao trabalho, atuou em campanha presidencial pelo NOVO, como coordenadora de comunicação e mobilização. Também atuou com candidatos a deputados estaduais.
Transitar no meio a levou a ser convidada para atuar em Brasília, para onde se mudou com o marido. Ficou um ano como chefe de gabinete na Câmara dos Deputados. “A experiência de atuar no Legislativo nos faz entender como as coisas são feitas. Quebra muitos preconceitos, até reforça outros, mas nos faz entender o que está ao alcance de cada um para fiscalizar, debater e agir”.
Quase às vésperas da pandemia, outro convite de peso: integrar o Ministério da Economia como subsecretária de Desenvolvimento das Micro e Pequenas Empresas, Empreendedorismo e Artesanato. O grande desafio em tempos de coronavírus foi o de ajudar empreendedores que estavam fechando as portas pela recessão.
“Como o Brasil estava alguns meses atrás no controle da pandemia, fomos ver o que outros países estavam fazendo. Tivemos um diagnóstico muito mais claro de quais eram os gargalos de acesso ao crédito e conseguimos desenhar uma operação para ajudar estas micro e pequenas empresas que mais precisavam de recursos”, explica Antonia, realizada por ter coordenado este projeto tão complexo, que salvou muitos empregos e gerou tanta renda. “Sem dúvida foi um dos maiores projetos de acesso a crédito que o Brasil já viu.”
No meio do caminho, dois filhos e mais mudanças
A partir da passagem pelo governo federal, tudo aconteceu ainda mais rápido: alternando com duas gestações e licenças-maternidades, a família cresceu e voltou para São Paulo. O currículo da agora mãe Antonia aumentou e passou a incluir os cargos de Assessoria da Superintendência no Sebrae-SP e diretora de negócios na Desenvolve-SP, a maior agência de fomento do Estado. Além disso, acumula o cargo de Presidente do Conselho de Administração do Livres e está cursando um MBA em Finanças no Insper.
Conciliar trabalho e maternidade não tem segredo, e sim logística: com muita rede de apoio, Antonia se revela feliz e completa por estar atuando com o que mais ama.
“São escolhas que fazemos, e a minha é essa. Lembra muito a analogia das máscaras do avião, que quando eu era pequena não entendia, mas agora faz sentido. Se eu estiver bem e feliz e realizada, vou ser uma mãe muito melhor. Minha alegria é poder contribuir para a sociedade e também oferecer o meu melhor para meus filhos”, reflete a mãe de Vicente, sete meses, e de Domenico, um ano e dez meses.
Olhando para trás, encontra o fio condutor de todas as experiências vividas: ter boas ideias e vontade de executar tais ideias.
“Acredito que minha grande capacidade está em conectar os pontos e ir atrás da execução para fazer coisas grandes. É algo que a variedade de experiências que tive me permitiu”.