• início
  • blog
  • MBA/MPA
  • Das dificuldades às conquistas: como a educação impactou a carreira de Fábio Henrique da Silva

Das dificuldades às conquistas: como a educação impactou a carreira de Fábio Henrique da Silva

Quinze anos depois do início do MBA na Universidade de Michigan, Fábio Henrique da Silva reflete sobre sua trajetória de superação – e diz não se arrepender de nenhuma decisão tomada. O atual diretor regional de vendas da PepsiCo nasceu em um contexto de vulnerabilidade social na Grande São Paulo, e desde cedo considerou a educação sua principal ferramenta para crescer pessoal e profissionalmente. No currículo, carrega, além do MBA, o mestrado em Ciência da Computação pela Unicamp e passagens pela McKinsey e pela UniSoma, onde se tornou o sócio mais jovem aos 25 anos.

Das dificuldades às conquistas: como a educação impactou a carreira de Fábio Henrique da Silva

“Existem coisas que só podemos entender o real significado que tem para os outros quando vivemos, de fato, no lugar”, crava Fábio Henrique da Silva, de 41 anos, sobre sua experiência como Diretor de Vendas da gigante da indústria PepsiCo nas regiões Norte e Nordeste, posição que ocupa há dois anos.

A mudança para Recife, em 2023, foi mais uma imersão, outro choque cultural na vida de Fábio. Mas se sentir estrangeiro e aprender a partir disso não é novidade para ele. Em 2010, o paulista de Carapicuíba embarcou para os Estados Unidos para cursar um MBA na prestigiada Universidade de Michigan.

“O choque cultural veio porque eu não tinha o perfil do brasileiro típico que vai estudar em universidades no exterior”, explica. “Existia um deslocamento.”

Os colegas de classe de Fábio à época talvez não entendessem o que cursar um MBA no exterior significava para o brasileiro: a conquista representou um grande passo na vida de quem nasceu em meio a vulnerabilidades sociais e se dedicou com afinco aos estudos desde cedo.

 

Desde o início, a educação

“Foi a educação que, cedo em minha vida, fez a diferença”, escreveu Fábio em 2010 ao pleitear uma bolsa de estudos do Instituto Ling para cursar o MBA. Em primeiro lugar, foi a família que lhe mostrou como aprender era uma ferramenta valiosa.

Da mãe, ele teve a inspiração para valorizar a educação desde cedo e não temer mudanças de rota. “Minha mãe trabalhava como doméstica, foi operária, foi balconista. Quando entrei na escola, ela voltou a estudar, terminou o magistério e teve uma carreira de duas décadas como professora”, lembra.

Do pai, veio a primeira oportunidade que mudaria sua vida: uma vaga em uma escola privada. O encanador, que trabalhava na matriz do Bradesco, soube que filhos de funcionários poderiam estudar gratuitamente na Fundação Bradesco, e conseguiu matricular Fábio. “Isso mudou minha trajetória, foi a grande oportunidade que fez a diferença. Todas as outras decorreram dessa”, afirma.

O ensino de qualidade serviu como base para Fábio alçar voos mais ousados, mesmo em meio a dificuldades familiares. “Pouco antes de terminar o colegial, meu pai saiu de casa. Foi um ano super desafiador”, conta.

Para ajudar a mãe com as finanças da casa, o jovem começou a trabalhar como office-boy. À noite, estudava para completar o ensino médio, e aos finais de semana, cursava um preparatório para o vestibular.

Os resultados vieram: foi aprovado em Engenharia da Computação na Universidade de São Paulo (USP) e em Ciência da Computação na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Embora desejasse ficar perto da mãe na capital, na hora de optar por um dos cursos abraçou o risco e decidiu se mudar para Campinas.

Com o tempo, a aposta se mostrou mais que acertada. Além da independência que ganhou morando sozinho, foi na Unicamp que Fábio conheceu sua esposa, Jhoyce, também oriunda de uma família humilde e com quem hoje tem dois filhos, Eduardo e Samuel.

Durante a faculdade, recebeu uma bolsa-trabalho e logo começou a atuar no ramo da computação. O trabalho se tornou também uma maneira de seguir ampliando os conhecimentos. “Lembro de quando ia para a escola de ônibus e passava na frente de um curso de inglês. Era meu sonho estudar lá. Na época não tinha como, mas pensei: agora que eu posso, vou”.

Engatou a graduação em um mestrado em Ciência da Computação, também na Unicamp, e, paralelamente, cresceu na UniSoma – empresa de consultoria que operava com foco na otimização de sistemas. De estagiário, passou a analista, líder de projetos e se tornou o mais jovem sócio da companhia aos 25 anos, em 2009.

Foi quando decidiu encarar o desafio de cursar um MBA no exterior. “Conclui que era o momento de me preparar para oferecer contribuições de impacto ainda mais abrangente para nossa atuação na empresa”.

 

Um Brasil visto de fora

A candidatura para o MBA não era uma escolha óbvia naquele momento. Fábio não tinha em seu entorno referências de quem tivesse feito algo parecido, e começou a estudar para o teste do GMAT por conta própria.

Foi aprovado sem auxílio de consultorias, tendo feito apenas um curso para o exame do Toefl e contando com a ajuda de uma professora de inglês, que revisou as redações da candidatura para a Ross School of Business, na Universidade de Michigan.

O apoio financeiro veio da bolsa do Instituto Ling e da ajuda de colegas da UniSoma. O sonho de Fábio, à época, era voltar ao Brasil e ampliar a atuação da companhia onde trabalhava.

Junto de Jhoyce, Fábio se defrontou com as diferenças culturais entre Brasil e Estados Unidos. Mais que aprender a se virar em um novo país, ele acabou criando novos olhares para sua terra natal. “Esse primeiro choque me ajudou a entender o Brasil. É engraçado, porque eu aprendi muito sobre os Estados Unidos, mas aprendi muito sobre o nosso país”.

No segundo ano de MBA, um estágio de verão na McKinsey mudou os planos iniciais do estudante. A empresa de consultoria americana garantiu um signing bonus –  incentivo financeiro feito a novos funcionários – e a oferta de um cargo após a formatura.

O que era um estágio se transformou em quatro anos de trabalho como Consultor e Gerente de Projetos na McKinsey. “Lá, também tive um choque porque eram repertórios diferentes, caminhos de vida diferentes. Mas depois, me adaptei super bem”.

 

O talento para estar entre pessoas – seja na família ou no trabalho

Em 2015, com o nascimento do primeiro filho, Fábio decidiu que o trabalho de consultoria não cabia mais na rotina que desejava para si e para sua família.

A mudança de rumos tomou forma com uma oferta da PepsiCo para assumir o cargo de Direção de Estratégia, onde está há 8 anos.

No período, Fábio já passou pelas áreas de Estratégia e Transformação. Chegou a trabalhar como braço direito do CEO em uma transição na diretoria da empresa no Brasil, até se deparar com uma nova proposta. “O CEO me disse que eu já tinha as habilidades para construir relações, ter impacto e liderar, mas ainda precisava conhecer mais sobre a nossa operação”.

Sempre em busca de aperfeiçoamento, ele topou de imediato. Aí, vieram outros desafios: junto da esposa e dos filhos, ele passou o ano de 2023 morando em Recife, para estar mais próximo das filiais que geria.

“Sempre fico mais preocupado em não tomar uma boa decisão familiar do que uma decisão de carreira”, explica Fábio. Por isso, tomou a decisão de voltar a São Paulo. “Foi uma ótima imersão, mas um desafio familiar”.

Agora, Fábio segue viajando o Brasil para dar conta do setor regional de vendas da companhia. E entre pontes aéreas e longos trajetos, segue aprendendo a cada pouso. “Conheço um Brasil que muita gente não tem a chance de conhecer. É muito diferente de tudo que fiz antes, tenho um time de mais de 600 pessoas muito heterogêneo. Mas vejo que tudo que vivi antes na minha vida é muito útil”, diz.

Fábio exemplifica: “O promotor de vendas que entra na loja para executar uma gôndola, por exemplo, muitas vezes precisa encarar horas de ônibus. Sinto que, no final, tudo que vivi me ajuda a ter empatia com aquilo que os outros vivem.”

O contato próximo dos funcionários e a empatia são características que dizem muito do trabalho que Fábio vislumbra desempenhar nos próximos anos. “Gosto de construir times, tentar elevar a posição do negócio, é isso que brilha meus olhos. Só não sei ainda se isso vai acontecer empreendendo ou na carreira executiva”.

E mesmo agora, de volta ao estado onde nasceu, o gestor continua assumindo a posição de um turista em sua própria terra, fascinado por tudo que pode aprender. “Uma pergunta que escuto muito em São Paulo é: de onde você veio? Porque minha mãe é mineira, meu pai é cearense. No final, eu sou um fruto dessa mistura toda”.

E para quem pergunta se ainda vale investir em um MBA, Fábio não perde de vista a referência de onde partiu e de onde chegou. “Depende muito das oportunidades que cada um teve. Para mim, não foi incremental, mas um salto. Tudo que aconteceu profissionalmente comigo foi um resultado do MBA”.

4.4.2025

leia também

Enxergando o direito como negócio: Ana Mercereau e o mundo da arbitragem internacional

A formação no exterior ajudou Ana Gerdau de Borja Mercereau a entrar de cabeça na área do direito que lhe interessava desde a graduação, mas que ainda era novidade no Brasil: a arbitragem. Da UFRGS, partiu para um LLM em Cambridge, que emendou com um doutorado na universidade inglesa. Hoje, já são 16 anos de carreira na arbitragem, setor em que Ana aprendeu a unir advocacia e negócios, trazendo um modo de pensar empreendedor para o direito. Neste ano, embarcou em mais um desafio ao abrir seu próprio escritório em Paris, o Citadelle Disputes.

Ler mais

Ainda estamos aqui: uma conversa com o bolsista Juca Avelino, neto de Eunice e Rubens Paiva

Para João Henrique Paiva Avelino (ou Juca Avelino), o filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, é muito mais do que uma obra que vem encantando plateias e colecionando prêmios. É a história de sua família, marcada pelo desaparecimento do avô Rubens Paiva durante a ditadura e pela resiliência da avó Eunice. Filho de Vera, a primogênita do casal Paiva, o paulista Juca fez MBA em Stanford e atualmente trabalha no Nubank. Na entrevista ao blog, ele fala sobre família, a experiência do filme e sobre a carreira voltada a gerar impacto através de tecnologia e inovação.

Ler mais

A expressão criativa nos negócios: para Gabriel Migowski, empreender é uma arte

Em 2009, o engenheiro com MBA em Stanford decidiu sair do setor de consultoria e pôr as mãos na massa: junto de amigos que se tornaram sócios, fundou a primeira empresa aérea de baixo custo da Colômbia. No trajeto, aprendeu que criar e gerir startups não é uma ciência exata, mas um ofício que exige criatividade e inovação. Movido pelo desejo de empreender e pelo instinto de arriscar, hoje Gabriel Migowski sonha em reinventar a forma com que as companhias aéreas operam seus negócios – e melhorar a experiência dos usuários.

Ler mais