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Marcos Olmdeo: uma carreira global, com perspectivas locais e visão universal

Com passagem por 4 continentes ao longo dos últimos 26 anos, o executivo de finanças Marcos Olmedo é uma perfeita tradução de profissional – e cidadão – global. Em 1999, deixou o Brasil para completar o MBA na universidade Carnegie Mellon (EUA). A seguir, abraçou a oportunidade de trabalho em uma empresa global de energia, a Chevron, onde hoje é General Manager Finance da unidade de negócios Nigéria & Mid Africa.  Aos 54 anos e atualmente residindo em Lagos (Nigéria), Marcos aceitou o convite do blog para compartilhar os principais aprendizados ao longo dessa carreira.

Marcos Olmdeo: uma carreira global, com perspectivas locais e visão universal

Há exatos 26 anos, como bolsista do Instituto Ling, embarquei em uma jornada que mudaria minha vida e trajetória profissional para sempre, deixando o Brasil para completar um MBA nos Estados Unidos focado na área financeira. Tinha o propósito de dar um salto quantitativo na minha carreira e o compromisso de retornar à "terra brasilis" assim que formado, com o objetivo quase idílico de contribuir para a prosperidade da minha terra natal através do meu ofício. E isso não aconteceu exatamente como esperava. Não por falta de interesse, mas à medida que abracei a oportunidade de trabalhar para uma empresa global de energia e avançar na carreira, desenvolvi a curiosidade e o propósito de seguir uma trajetória global, expandindo o meu propósito inicial para uma perspectiva mais ampla.

 Já são 24 anos atuando na área financeira na mesma corporação, o que se iniciou em 2001 nos Estados Unidos e se internacionalizou com passagens por Angola, Bangladesh, Inglaterra, Angola (pela segunda vez), Venezuela, Argentina e Nigéria. Ao longo desse tempo, os desafios e a oportunidade de imergir e entender as culturas corporativa, governamental e social de cada um dos países em que tive o privilégio de viver me trouxeram um número infinito de lições, desafios e testes como profissional e pessoa, mas sobretudo uma visão do que pode levar empresas e nações à prosperidade ou decadência.

 

P: O que viu mudar na profissão de finanças durante a sua carreira?

R: Prefiro começar com aquilo que mudou pouco, e por outro lado evoluiu de forma robusta e deve permanecer como um pilar: a responsabilidade fiduciária e o comprometimento e liderança esperados de qualquer profissional de finanças nas áreas de conformidade e governança corporativa. A liderança na área de conformidade e governança corporativa permanece como um pilar imutável e cada vez mais exigido e difícil de gerenciar à medida que as empresas se internacionalizam. Aqui vale ressaltar que esse compromisso vai muito além da simples execução rigorosa das normas contábeis, fiscais, etc., mas também envolve a reputação que o profissional ou a empresa que ele representa oferece aos parceiros (ou stakeholders). Quando me refiro a stakeholders, considero os internos à corporação, entidades governamentais e parceiros comerciais. O nível de complexidade e volatilidade em que vivemos hoje torna a manutenção desses pilares ainda mais necessária, não só para as corporações, mas também para os seus stakeholders.

 

P: O que mudou então?

Acredito que uma das principais oportunidades e focos que um executivo de finanças deve ter hoje é em socializar e criar fluência sobre o conceito de valor e retorno sobre investimento dentro de uma empresa. Algo novo nisso? Definitivamente não, mas talvez o grande diferencial nos tempos recentes é que, para ser competitiva, o entendimento amplo e irrestrito dentro de uma corporação (e também dos stakeholders) de que o valor deve ser gerado por todo o ecossistema de negócios ainda continua sendo um desafio. Aqui vale ressaltar também que a liderança na área de capacitação não só dos profissionais de finanças, mas de toda a empresa, passa a ser fundamental: não adianta criar relatórios financeiros ou automatizá-los em escala se eles não traduzem para a corporação como cada colaborador pode criar ou proteger valor para a empresa.

 

P: Quais as lições mais significativas que você aprendeu nessa trajetória e que se aplicam de forma global?

R: Muitas, porém há algumas que foram aprendidas e/ou desenvolvidas:

Não há prosperidade sem equilíbrio: Em outras palavras, a prosperidade não pode ser um fenômeno unilateral, seja quando você trabalha em conjunto com governos, parceiros de negócios e/ou ambos ao mesmo tempo. A propósito, acredito que as empresas e nações que consistentemente têm uma abordagem mais construtiva e fazem isso sistematicamente conseguem prosperar mais financeiramente e em termos de inovação (simplesmente o win-win).

A diversidade dentro das empresas é uma riqueza, mas se mal gerenciada pode se tornar um fracasso: Aqui, quando falo em diversidade, não me refiro somente a questões de gênero, nacionalidade, etnia, etc., mas também à diversidade de conhecimento, talento, cultura local ou capital intelectual. É fundamental para qualquer líder entender muito bem e potencializar a diversidade dentro de uma empresa como um vetor de inovação, aumento de produtividade e, ultimamente, sucesso.

Confiança e integridade: Na minha visão, são dois dos ativos mais importantes que se necessita a nível pessoal e corporativo.

 

P: E especificamente como executivo de finanças, quais são as lições mais significativas que você aprendeu ?

R: Ao longo da minha carreira como executivo de finanças, aprendi várias lições importantes que foram fundamentais para o sucesso:

Investir Incessantemente e Eficazmente em Capacitação Pessoal: Investir em pessoas gera o maior retorno sobre o investimento para qualquer empresa. Embora possa parecer um clichê, é inegavelmente verdade. A chave é investir de forma inteligente. Assim como você aplicaria critérios rigorosos ao selecionar um caso de negócios ou um ativo para investir, deve aplicar o mesmo rigor ao desenvolver a capacidade organizacional. Isso significa identificar e nutrir talentos, oferecer oportunidades de crescimento e fomentar uma cultura de melhoria contínua.

Investir Tempo e Recursos para Gerenciar Riscos e Ser Previsível: É crucial alocar tempo e recursos para gerenciar riscos de forma eficaz. Ser previsível no planejamento financeiro e nas operações ajuda a construir confiança e estabilidade dentro da organização. Isso envolve uma avaliação minuciosa dos riscos, a implementação de estratégias robustas de gestão de riscos e o monitoramento contínuo e ajuste dos planos conforme necessário.

Investir Tempo e Recursos para Impulsionar a Competitividade de Longo Prazo da Empresa, Focando em Aumentar e Proteger o Valor da Empresa: A competitividade e o valor da empresa estão altamente interconectados e não devem ser considerados isoladamente. Investir tempo para entender a dinâmica do mercado, inovar e se manter à frente da concorrência é essencial. Isso inclui planejamento estratégico, estar informado sobre as tendências do setor e buscar continuamente maneiras de aprimorar a proposta de valor da empresa. Como profissional de finanças na indústria em que trabalho, o foco em proteger valor deve ser tão importante quanto o foco em gerar valor.

 

É importante dizer que as três lições estão altamente interconectadas e não devem ser pensadas isoladamente. Ao focar nessas áreas coletivamente, você pode criar uma base sólida para o crescimento sustentável da empresa.

***

Para resumir a minha trajetória, começo reconhecendo o papel fundamental que o Instituto Ling teve nela: um impulso essencial para uma jornada desconhecida, fascinante e de retorno. No contexto de uma carreira global, com perspectivas locais e visão universal, gostaria de concluir com um simples conselho que ouvi na cerimônia de formatura do MBA, coincidentemente de um CEO brasileiro de uma empresa global há 24 anos, e que acredito nunca ter deixado de ser atual ou difícil de seguir. Ele refletiu sobre um dos atributos mais importantes que impactou sua carreira: "seja humilde". Além disso, um líder com quem tive o privilégio de trabalhar por um período prolongado sempre dizia: "nunca desista".

 

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