Ivanyra Correia e a presença feminina em cargos estratégicos de liderança
Única mulher a concorrer à vaga no conselho de administração da Petrobras, em abril passado, a engenheira Ivanyra Correia (MBA, 1996) passou por três fases distintas em sua carreira: atuação no mercado financeiro, experiência na indústria e, mais recentemente, participação em conselhos e comitês de empresas como Baumgart, Eletronuclear e Invepar. Para ela, que reconhece que o acesso de mulheres a altos cargos ainda é um desafio, a preparação e a busca pelo conhecimento, incluindo o mestrado em Wharton, foram fundamentais para suas conquistas.
Única mulher a concorrer à vaga no conselho de administração da Petrobras, em abril passado, a engenheira Ivanyra Correia (MBA, 1996) passou por três fases distintas em sua carreira: atuação no mercado financeiro, experiência na indústria e, mais recentemente, participação em conselhos e comitês de empresas como Baumgart, Eletronuclear e Invepar. Para ela, que reconhece que o acesso de mulheres a altos cargos ainda é um desafio, a preparação e a busca pelo conhecimento, incluindo o mestrado em Wharton, foram fundamentais para suas conquistas.
O caminho da carioca Ivanyra Correia até os boards e comitês de grandes empresas não foi linear. Ela conta que, desde cedo, levou a sério a busca pela qualificação. Vinda de uma família de classe média, com pai militar e mãe dona de casa, dedicou-se aos estudos tanto na escola privada quanto na universidade, onde era uma das poucas mulheres do curso de Engenharia na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi também procurando maior preparação e conhecimento que ela se candidatou a um MBA na prestigiada Wharton School da Universidade de Pensilvânia, parcialmente pago com apoio da bolsa recebida através do programa Start MBA do Instituto Ling, que naquele ano (1996), estava em sua segunda edição.
Ivanyra, que havia começado a vida profissional como trainee no hoje extinto Banco Nacional, seguiu no mercado financeiro após o MBA, trabalhando no Bank of America, nos Estados Unidos e depois no Brasil, até 2001. Começava então a segunda parte de sua carreira, a atuação em empresas de indústria e varejo com as mais diversas estruturas de capital e nacionalidades: Votorantim (Brasil), Amanco (México), Penske Logística (EUA), Zurich Seguradora (Suiça), FNAC (França). Em comum, o tipo de trabalho que desenvolveu nestas empresas, sempre ligado a questões de reestruturação.
Com toda essa vivência, quando em 2018 passou a vigorar a Lei das Estatais, com a exigência de que as empresas estatais contassem com a presença de conselheiros independentes, Ivanyra estava pronta para a terceira (e atual) etapa da carreira: a de conselheira. Selecionada como conselheira da Serpro naquele ano, desde então, enumera cargos: foi conselheira de administração, conselheira fiscal e, membro de comitê de auditoria, finanças e risco, em empresas como Baumgart, Eletronuclear, Invepar, Mapfre, Banco Bradesco (onde foi a primeira mulher, não acionista, a ocupar o cargo de conselheira fiscal), Tecnisa e AES. Também atua em instituições voltadas à governança, como representante do Brasil no Public Interest Oversight Board (PIOB), entidade que normatiza as práticas de auditoria externa, e como conselheira de administração no Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF).
A importância dos conselhos para a governança das empresas
Com a experiência acumulada em empresas familiares e as de capital aberto, Ivanyra destaca que as dinâmicas são significativamente diferentes. “Empresas familiares, com várias gerações envolvidas, enfrentam o desafio de manter a tradição e a reputação da família. A presença de uma família como acionista ou uma fundação altera a perspectiva da empresa, mas as estatísticas mostram que empresas familiares têm dificuldades para passar para a terceira geração”.
A transição de cargos executivos para o conselho é um desafio significativo: o executivo põe em prática os objetivos traçados pelos acionistas e/ou o conselho de administração, enquanto que o conselheiro deve ter uma visão mais estratégica e reflexiva.
Segundo ela, enquanto anteriormente as decisões eram centralizadas, atualmente, atuar em órgãos de governança exige uma abordagem mais estratégica e reflexiva. Considera que, dentro da sigla ESG, o Brasil vai bem tanto na observância de questões ambientais (E) quanto de governança (G). Mas considera que imprescindível dar atenção ao social (o S), isto é, medir também o impacto das empresas no ambiente socioeconômico em que estão inseridas. “No Brasil, onde os desafios econômicos são constantes, atuar em órgãos de governança requer ainda mais atenção e comprometimento”.
Ser mulher em postos de liderança
Ivanyra conta que, ao longo dos anos, enfrentou desafios como uma das poucas mulheres em ambientes majoritariamente masculinos - desde a época da graduação em Engenharia, onde havia cerca de 10 mulheres entre 400 alunos. “Apesar dos avanços na participação feminina em conselhos de administração, ainda há muito a ser feito para quebrar as barreiras do chamado ‘telhado de vidro’ (isto é, a possibilidade de ascensão para altos cargos executivos) e promover uma verdadeira igualdade de gênero no mercado de trabalho”, salienta.
Embora reconheça alguns progressos, como a exigência de 30% de participação feminina em conselhos, ela ainda espera ver mudanças significativas não só no Brasil, mas em toda parte. Há uma década, ou mesmo há quinze anos, não imaginava que estaríamos ainda lutando por uma representatividade mais equitativa no ambiente corporativo”, lamenta. Considera ainda que a pandemia trouxe desafios adicionais e até mesmo retrocessos nesse sentido, pois mais uma vez a maior parte da responsabilidade no cuidado de filhos e parentes idosos recaiu sobre as mulheres, com impacto em suas carreiras.
Para ajudar a mudar esta realidade, Ivanyra já participou do Women Corporate Directors (WCD) que é a maior organização associativa e comunidade de mulheres diretoras de conselhos corporativos do mundo, e atualmente integra a NYSE Board Diversity Initiative com o objetivo de aumentar a diversidade nos conselhos corporativos de empresas listadas na bolsa de Nova Iorque.
“A pauta da diversidade, algo que não era tão valorizado em gerações anteriores, agora está ganhando mais destaque, especialmente entre os jovens. As mulheres têm buscado se preparar cada vez mais, destacando-se em cursos e programas de formação. Espera-se que nos próximos anos haja uma aceleração nesse processo de inclusão e reconhecimento da importância das mulheres nos mais altos cargos de liderança”, pontua.
Segundo ela, iniciativas de preparação para conselhos, que visam capacitar líderes femininas, estão se destacando pelo alto nível de qualidade das participantes. “Mulheres extremamente qualificadas têm demonstrado potencial para assumir importantes posições de liderança. A mensagem é clara: as mulheres precisam se preparar ainda mais e mostrar seu valor, pois são mais do que capazes de se destacar como as melhores em suas áreas”.
Na vida pessoal, as demandas como conselheira permitem mais flexibilidade de horários a Ivanyra para estar próxima ao marido e ao filho de 19 anos. Mas isto não significa menos trabalho: “Minha trajetória sempre foi pautada pela busca constante por melhorias, o que se reflete no meu trabalho atual. Nas minhas experiências anteriores, a dedicação era extrema, com jornadas de trabalho que chegavam a 12 ou 15 horas por dia e anos sem férias. Lidar com desafios financeiros no cenário brasileiro tornou-se algo rotineiro para mim. No entanto, agora, como conselheira, a dedicação continua intensa, e a responsabilidade é ainda maior”.