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Jorge Luis Borges e sua influência nos contos literários

 

“Não tenho a certeza de que eu exista. Sou todos os escritores que li, todas as pessoas que conheci, todas as mulheres que amei, todas as cidades que visitei, todos os meus antepassados.”

Jorge Luis Borges

 

A OBRA

Lançado em 1944, o livro Ficções é uma das obras mais aclamadas de Borges. Composta por 16 contos, o livro é dividido em duas partes: O jardim de veredas que se bifurcam e Artifícios.

O sucesso de Borges também na escrita de contos o colocou na condição de mestre do gênero, ao lado de Edgar Allan Poe e Anton Tchekhov. Em Ficções, a criatividade e a genialidade contidas nas suas estórias podem levar o leitor mais distraído a acreditar piamente na veracidade daquilo que lê, efeito da literatura fantástica do autor que coordena em sua escrita ficções abrangentes, argumentos esotéricos, graças profanas e dados reais. O crítico literário Harold Bloom chega a dizer que Jorge Luis Borges foi para o conto “a maior influência sobre o gênero na segunda metade do século XX”, concluindo que o conto “agora tende a ser tchekhoviano ou borgiano e, nalguns casos, influenciado por ambos”.   

 

O AUTOR

Escritor, poeta, crítico literário, tradutor e ensaísta, Jorge Luis Borges nasceu em 24 de agosto de 1899, na cidade de Buenos Aires, Argentina. Desenvolveu a paixão pelos livros ainda criança, brincando em meio a biblioteca do pai. Na infância e por influência da avó paterna, de origem inglesa, desenvolveu fluência no inglês e, aos 10 anos, publicou no jornal El País a sua tradução para o espanhol do conto "Príncipe Feliz”, de Oscar Wilde.

Em 1914, mudou-se com a família para Genebra, Suíça, para que seu pai pudesse tratar o avanço da perda de visão. Esse mesmo mal, hereditário, mais tarde acometeria Borges que ficou cego ainda muito cedo, aos 55 anos.

É na Suíça que o jovem Borges vai realizar seus estudos secundários e, antes do seu retorno para Argentina, vai viver também na Espanha, onde entra em contato com movimentos literários de vanguarda como o Ultraísmo, e toda a efervescência cultural dos anos 20. De volta ao país de origem em 1921, Borges mergulha na cena da cidade e vai criar a coleção de poemas Fervor de Buenos Aires (1923), sua primeira publicação, lançando outros 6 livros nos próximos 7 anos. Além da produtividade – publicou mais de 40 obras, a versatilidade tornou-se a sua característica mais marcante:

 

"Embora seja difícil definir sua obra a partir de um único fator, diria que a leitura enquanto operação que determina a escrita, enquanto ato que desvia e recria tradições, gêneros literários, tipos de discursos, sentidos instituídos, é a marca indelével da produção borgiana. Borges transtornou hierarquias, papéis e funções graças a um modo peculiar de ler e de escrever essas leituras".

                  Miriam Garate, professora de literatura comparada da Unicamp.

 

É a partir da década de 1930 que Borges vai se voltar com maior dedicação ao gênero conto, mais tarde reunindo esses textos em seus livros mais conhecidos, Ficções (1944) e O Aleph (1949), obras que lhe trouxeram reconhecimento internacional.

A despeito do problema de visão, que foi gradualmente avançando ao longo da vida até se fechar por completo na cegueira, Borges seguiu produzindo. Para isso, contava com a ajuda da mãe e de assistentes como o escritor Alberto Manguel, na época ainda um adolescente, que liam para Borges seus textos e para quem ele ditava sua produção. Mesmo após ter perdido a visão, Borges passou a ministrar aulas na Universidade de Buenos Aires e se tornou diretor da Biblioteca Nacional da Argentina, cargo que ocupou por 18 anos.

Se a cegueira o desmotivou? O próprio Borges responde na sua última conferência, A cegueira, realizada em 1977 no teatro Coliseu, em uma linda lição para todos nós:

Jorge Luis Borges viveu até os 86 anos, falecendo em 1986, em Genebra, tendo experimentado o paraíso em vida, ao passar grande parte de sua existência habitando bibliotecas.

 

CURIOSIDADES

Você sabia que Borges inspirou a escrita de autores como Italo Calvino, Thomas Pynchon, Paul Auster, Gonçalo M. Tavares e Umberto Eco? O último chegou a homenageá-lo através da criação do personagem Jorge de Burgos, o livreiro cego de O Nome da Rosa (1980).

Borges por Borges: Escute na voz do autor seu poema autorreferencial, intitulado Borges e Eu, que faz parte da obra O Fazedor (1960). 

Borges acabou por integrar uma tríade no mínimo curiosa: antes dele, outros dois diretores da Biblioteca Nacional da Argentina também sofriam de cegueira – José Marmol e Paul Groussac. Ao que Borges interpretou da seguinte forma, com toda a sua presença de espírito e humor: “se dois é uma mera coincidência, três é uma confirmação  —  e confirmação de ordem ternária, quer dizer, divina ou teológica”.

Desenhar também era um hobby de Borges: confira o autorretrato desenhado no sótão da famosa livraria Strand, em Nova York.

 

DICAS DO LING

Confira a entrevista de Jorge Luis Borges para o jornalista Roberto D’Avila. Última entrevista concedida pelo autor e realizada em 1985, ano anterior a sua morte. Nela ele conta sobre sua vida e o processo da perda da visão. 

Ficou com vontade de ler Borges? No site da Companhia das Letras você encontra, além de Ficções, diversas obras do autor em formato físico e-book

 

REFERÊNCIAS

Bueno, Chris. Livro traz 333 histórias de Borges vividas por ele mesmo. Ciência e Cultura, 64(3), 58-60, 2012. Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252012000300020&lng=pt&tlng=pt

MIRANDA, Cássio de. Ficções, de Jorge Luis Borges. Site Recorte Lírico. Disponível em: https://recortelirico.com.br/2016/11/ficcoes-de-jorge-luis-borges/

MATOS, Tiago. Quem foi Jorge Luis Borges?. Revista Estante, 2016. Disponível em: http://www.revistaestante.fnac.pt/quem-foi-jorge-luis-borges/

QUEIROZ, Adalberto de. “A verdade desestabilizada” em Jorge Luis Borges (2): A cegueira como um “lento crepúsculo”. Site Jornal Opção, 2017. Disponível em: https://www.jornalopcao.com.br/opcao-cultural/destarte/a-verdade-desestabilizada-em-jorge-luis-borges-2-a-cegueira-como-um-lento-crepusculo-108302/