Um mergulho no Renascimento e em seus conceitos de Arte e Artista
O período que entendemos como Renascimento compreende os séculos XIV até o final do XVI, ou seja, o final da Idade Média e o surgimento da Idade Moderna. Geralmente, é tido como um antagonista da “Idade das Trevas”, mas é muito mais complexo e heterogêneo que isso. O que antes era uma economia de base rural em uma sociedade tradicional, conservadora, fortemente hierarquizada e comandada pela Igreja — um sistema chamado de feudalismo — vai abrindo espaço para intensas trocas comerciais e culturais com o Oriente e, por consequência, essas práticas urbanas acabam criando “novos ricos”, que não só ascendem socialmente, mas que passam a exigir participação política e cultural. Renascimento ou Renascença traz essa ideia de “renascer” e vai buscar na Antiguidade greco-romana sua inspiração para um novo humanismo, que trará sua legitimação social.
A constante troca com o Oriente — especialmente através do mar do Norte e de Veneza — é importante para que possamos entender o desabrochar de um novo pensamento, de novas tecnologias e também o porquê a Inglaterra e a Itália ganham destaque nesse período. (Lembre-se: William Shakespeare está produzindo nesta época!). A tecnologia avançada do Oriente viabiliza o aprimoramento dos instrumentos de navegação e, a partir daí, os europeus conseguem fazer longas viagens marítimas com mais segurança — este é o período em que a Europa se expande e se apodera do continente americano. Outra importante tecnologia desenvolvida é a prensa de Gutenberg: criada pelo alemão Johannes Gutenberg (1398-1468) por volta de 1450, essa nova maneira de produzir materiais escritos faz com que a produção intelectual do período viva um boom e as ideias humanistas passam a circular com maior facilidade.
A busca por legitimação cultural pode ser percebida no forte investimento que os novos burgueses, os nobres e os clérigos fazem na produção artística. Na Itália, a prática do mecenato — patrocínio aos artistas — é usada para promover as cidades-estados e para consolidar o prestígio das famílias da elite. E é nesse ambiente que a valorização do indivíduo vai ganhando contornos filosóficos e que os artistas passam a pensar e a teorizar o que estão fazendo: surge a consciência do fazer artístico.
PRINCIPAIS EXPOENTES
Escolhemos algumas peças e obras fundamentais do período renascentista para que você fique com gostinho de quero mais! Para visualizar as obras, basta clicar nos nomes sublinhados.
ARQUITETURA
Donato Bramante (1444-1514): Tempietto de San Pietro in Montorio, 1502, Roma.
Filippo Brunelleschi (1377-1446): Catedral Santa Maria del Fiore, 1296, Florença
Michelozzo di Bartolomeo Michelozzi (1396-1472): Palazzo Medici-Riccardi, 1444-1460, Florença
Leon Battista Alberti (1404-1472): Santa Maria Novella, 1458-1470, Florença
Michelangelo di Ludovico Buonarroti Simoni (1475-1564) - Cúpula da Basílica de São Pedro, Vaticano
PINTURA
Giotto di Bondone (1267-1337) - Cappella degli Scrovegni - O Beijo de Judas, 1304-1306, Pádua
Jan van Eyck (1395 - 1441): O Casal Arnolfini, 1434, National Gallery, Londres
Piero della Francesca (1412 - 1492): O Batismo de Cristo, feito depois de 1437, National Gallery, Londres
Sandro Botticelli (1445 - 1510) - O Nascimento da Vênus, 1483, Galleria degl Uffizi, Florença
Rafael Sanzio (1483 - 1520) : Madona e o Menino Entronados com Santos, 1504, Metropolitan Museum of Art, Nova York
Michelangelo di Ludovico Buonarroti Simoni: Teto da Capela Sistina, 1508-1512, Vaticano
Leonardo Da Vinci (1452 - 1519): A Última Ceia 1495 - 1498, Convento Santa Maria delle Grazie, Milão | Mona Lisa , 1503, Museu do Louvre, Paris
Hans Holbein (1497 - 1543): Os embaixadores, 1533, National Gallery, Londres
ESCULTURA
Donatello (1386 - 1466) - David, 1440, Florença
Michelangelo: Pietá, 1498-1499, Basílica de São Pedro, Vaticano | David,1501-1504, Galeria da Academia de Belas Artes de Florença, Itália|
GRAVURA
Albrecht Dürer (1471 - 1528): Melancolia, 1514, Städel Museum, Frankfurt | O Rinoceronte, 1515, National Gallery of Art, Washington
LITERATURA
William Shakespeare (1564 - 1616) - Macbeth
Dante Alighieri (1265 - 1321) - A Divina Comédia
Luis de Camões (1524 - 1580) - Os Lusíadas
Miguel de Cervantes (1547 - 1616) - Dom Quixote
Giovanni Boccaccio (1313 - 1375) - Decamerão
Nicolau Maquiavel (1469 - 1527) - O Príncipe
Erasmo de Roterdã (1466 - 1535) - Elogio da Loucura
Thomas More (1478 - 1535) - Utopia
MÚSICA
Escute o álbum Vecchie Letrose: Italian Renaissance Music (1998), interpretada pelo grupo Syntagma Musicum. Disponível no Spotify e YouTube Music.
A playlist Essence of the Renaissance, criada pelo Spotify, reúne diversas músicas do período com coral e instrumental.
PARA ENTRAR NO CLIMA
Separamos algumas sugestões de filmes e passeios virtuais para você viajar no tempo junto conosco:
Elizabeth (1998) e Elizabeth: A Idade do Ouro (2007), ambos do diretor Shekhar Kapur e estrelados por Cate Blanchett, contam a trajetória da Rainha Elizabeth I desde os conflitos da época de sua coroação até o apogeu como monarca (ela governou a Inglaterra de 1558 a 1603). Disponíveis no Netflix.
O Mercador de Veneza (2004), de Michael Redford. Adaptação do clássico de William Shakespeare que conta a história do veneziano Antonio (Jeremy Irons) e seu credor judeu, Shylock (Al Pacino). Aborda a marginalização e o antissemitismo sofrido pelos judeus na Veneza do final do séc. XV. Disponível no Amazon Prime Video.
Curiosidade: o discurso de Shylock, que é umas cenas mais famosas do filme, foi encenado no cinema brasileiro em Ó Paí, Ó (2007), de Monique Gardenberg. A cena interpretada por Lázaro Ramos adapta o discurso para o contexto atual do racismo no Brasil. Confira aqui!
Que tal visitar a Capela Sistina sem sair de casa? No site do Museu do Vaticano, você pode fazer um tour virtual e chegar um pouquinho mais perto de uma das obras mais famosas de Michelangelo.
Participe do tour virtual Obras-Primas da Renascença e conheça o acervo de obras renascentistas da National Gallery (Londres), que conta com nomes como Ticiano, Leonardo Da Vinci, Michelangelo, Raphael, Piero della Francesca e Jan van Eyck.
A exposição Leonardo Da Vinci: 500 Anos de um Gênio, promovida em São Paulo pelo MIS Experience (Museu da Imagem e do Som), é considerada uma das mais completas sobre a vida do artista e, por conta da pandemia da COVID-19, foi adaptada para o meio virtual e está aberta para visitação online.
REFERÊNCIAS
BAXANDALL, Michael. As Condições do Mercado. In: BAXANDALL, Michael. O Olhar Renascente: Pintura e Experiência Social na Itália da Renascença. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991. p. 11–35
BURKE, Peter. Artistas e Escritores; Patronos e Clientes. In: BURKE, Peter. O Renascimento Italiano: Cultura e Sociedade na Itália. São Paulo: Nova Alexandria, 1999. p. 57–108; 109–148.
PESSANHA, José Américo Motta. Humanismo e Pintura. In: NOVAES, Adauto (Org.) Artepensamento. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. p. 19–41
IMBROISI, Margaret; MARTINS, Simone. Períodos, Compositores e Obras. História das Artes, 2020. Disponível em: www.historiadasartes.com/som-camera-acao/musica/periodos-compositores-e-obras/
CASSAL, Sidnei. Crítica do filme O Mercador de Veneza. Site Plano Crítico. 2013. Disponível em: https://www.planocritico.com/critica-o-mercador-de-veneza/