Quando é arte? A arte contemporânea e suas diversas perspectivas
A ruptura feita pela arte moderna — abordada por nós em outro texto (disponível aqui) — abriu espaço para os artistas se libertarem dos suportes e dos temas tradicionais da arte. A Fonte, de Marcel Duchamp, e as Brillo Box, de Andy Warhol, mostraram que a arte podia ser e parecer com qualquer coisa. A pergunta “isso é arte?” caiu por terra e deu lugar ao questionamento: quando é arte?
CONTEXTO HISTÓRICO
Com o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a hegemonia cultural e econômica passa a ser os Estados Unidos. O processo de globalização avança, assim como o desenvolvimento de novas mídias e tecnologias. A cultura de massa e a publicidade penetram o mundo da arte.
É neste contexto que surge um dos movimentos artísticos mais importantes na arte contemporânea — a arte conceitual — que declara:
“Toda a arte (depois de Duchamp) é conceitual (por natureza), porque a arte só existe conceitualmente.”
(KOSUTH, 2006, p. 217)
Foto: Unsplash.
E o que isso significa? Que a partir de Duchamp, a ideia é primordial ao fazer artístico. O artista é quem pensa a obra de arte, não necessariamente aquele que a manufatura. (Para saber mais, veja a obra Uma e Três Cadeiras aqui.) A partir daqui, mais do que o objeto de arte em si, importa o processo do artista. A arte contemporânea abre espaço para uma diversidade de estilos, técnicas e perspectivas quase infinitas de como se faz arte. Surgem happenings, performances, instalações, videoarte, trabalhos de terra (land art); os estilos se mesclam e se confundem; os suportes tradicionais — tela na pintura, mármore na escultura, por exemplo — dão lugar a outros materiais (spoiler: depois eles voltam!); enfim, a vida e a arte parecem se misturar tanto que é difícil distingui-las.
Para favorecer outra definição do que é a arte contemporânea, recorremos novamente à filósofa e crítica de arte Anne Cauquelin, que vai estabelecer uma diferença entre a era industrial (arte moderna) e sua mudança para a era tecnológica da informação e da comunicação (arte contemporânea). É interessante notar que essas fronteiras são borradas e é possível perceber características da arte moderna na arte que está sendo feita ainda hoje, mas também é notável as mudanças entre essas duas “eras”, no campo cultural e artístico.
Por isso, nosso primeiro encontro do ano do Conversas sobre Arte falará de arte contemporânea. E embora tenhamos falado dela no nosso último encontro, em que focamos na arte neoconcreta e seus desdobramentos na arte brasileira contemporânea, desta vez a conversa partirá de um lugar mais abrangente, trazendo movimentos e obras de outros países.
PRINCIPAIS EXPOENTES
Escolhemos alguns artistas e obras fundamentais da Arte Contemporânea para que você fique com gostinho de quero mais! Para visualizar as obras, basta clicar nos nomes sublinhados.
POP ART
Richard Hamilton (1922-2011), O que exatamente torna os lares de hoje tão diferentes? Tão atraentes?, 1956
Peter Blake (1932), capa do álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, 1967
Andy Warhol (1928-1987), Marilyn Diptych, 1962, Tate Britain, Londres | Campbell Soup, 1962 | Brillo Box, 1964, National Gallery of Canada, Canadá
Roy Lichtenstein (1923-1997), Bons sonhos, bebê!, 1966, MoMa, Nova York
Rosalyn Drexler (1926), Marilyn perseguida pela morte, 1963, Whitney Museum of American Art, Nova York
MINIMALISMO
Donald Judd (1928-1994), Untitled, 1960 | Untitled, 1967 | Untitled, 1976-1977
Sol LeWitt (1928-2007), Standing Open Structure Black, 1964 | Cubic-Modular Wall Structure, 1966, MoMa, Nova York | Wall Drawing #260, 1975, MoMa, Nova York
Robert Morris (1931-2018), Magnified and Reduced Inches, 1963, MoMa, Nova York | Untitled, 1963, MoMa, Nova York
Dan Flavin (1933-1996), “monument” 1 for V. Tatlin, 1964 | Pink out of a corner from No. 1 December 19, 1963, 1965 | untitled (to the “innovator” of Wheeling Peachblow), 1968, MoMa, Nova York
Richard Serra (1938), Tilted Arc, 1981 | Te Tuhirangi Contour, 2003, Nova Zelândia | Echo, 2019, Instituto Moreira Sales, São Paulo
Carmen Herrera (1915), Blue with Orange, 1984, Lisson Gallery, Londres
NOVO REALISMO
Arman (1928-2005), Lar Doce Lar, 1960, Centre Pompidou, Paris
Gérard Deschamps (1937), Filles-Lastex, 1961, acervo particular
Martial Raysse (1936), Etalage, hygiène de la vision nuit, 1960, acervo particular
César Baldaccini (1921-1998), Compresion de Mobylette, 1970, acervo particular
Niki de Saint-Phalle (1930-2002), Shooting Painting American Embassy, 1961, MoMa, Nova York
Jean Tinguely (1925-1991), Méta-harmonie, 1978, Mumok, Viena
Jacques Villeglé (1926), Boulevard de la Gare, 1973
Yves Klein (1928-1962), Great blue cannibalism - Tribute to Tenesse Williams, 1962
CONCEITUALISMOS
Cildo Meireles (1948), Inserções em Circuitos Ideológicos: Projeto cédula, 1970-1976 e 2018 | Inserções em Circuitos Ideológicos: Projeto Coca-cola, 1970, Inhotim, Brumadinho | Tiradentes: Totem-monumento ao preso político, 1970 | Olvido, 1987-1989, Coleção do Artista | Missão/Missões (Como construir catedrais), 1987, Coleção do Artista
Paulo Bruscky, O que é arte? Para que serve?, 1978, Galeria Nara Roesler| Arte Classificada / Composição Aurorial, 1976, Galeria Nara Roesler | Fax Performance, 1985, Galeria Nara Roesler
Julio Plaza (1937-2003), Concept, 1972, MAC USP, São Paulo | In.for.ma.tion, 1972, MAC USP, São Paulo | Duchamp vs.Vasarely, 1974, MAC USP, São Paulo
Artur Barrio (1945), Trouxa de sangue, 1969, Galeria Luísa Strina | Situação T/T, 1, 1970, Coleção do Artista | Áreas sangrentas primeira parte e segunda parte, 1975, MAC USP, São Paulo
Carlos Zilio, Identidade ignorada, 1973 | In memoriam, 1973 | Para um jovem de brilhante futuro, 1973
ARTE POVERA
Giovanni Anselmo (1934), Untitled (Sculpture That Eats), 1968, Georges Pompidou Center, Paris
Jannis Kounellis (1936-2017), Untitled, 1967 | Sem título (12 cavalos), 1969 | Untitled, 1971, Museu Colecção Berardo, Lisboa
Michelangelo Pistoletto (1933), Venus of Rags, 1967, Fondazione CRT, Torino | Division and Multiplication of the Mirror, 1978, Menil Collection, Houston.
Pino Pascali (1935-1968), Decapitazione della scultura, 1966, Galleria Nazionale d’Arte Moderna, Roma | Trap Sculpture, Tate Modern, Londres
Mario Merz (1925-2003), Triplo Igloo, 1984-2002, MAXXI National Museum of XXI Century Arts, Roma
Marisa Merz (1926-2019), Sem título, 1966, MoMa, Nova York
LAND ART
Robert Smithson (1938-1973), Spiral Jetty, 1970, Great Salt Lake, Utah, EUA | Partially Buried Woodshed, 1970, Kent State University, Ohio, EUA | Amarillo Ramp, 1973, Tecovas Lake, Texas, EUA
Ana Mendieta (1948-1985), Silueta Series (1974), Fondazione CRT, Torino | Untitled: Silueta Series, 1978, Guggenheim Museum, Nova York | Untitled: Silueta Series, 1978, Museum of Contemporary Art Chicago, Chicago
Walter de Maria (1935-2013), The Lightning Field, 1977, Novo México
Nancy Holt (1938-2014), Sun Tunnels, 1973-76, Utah
PERFORMANCE E HAPPENINGS
O que diferencia o happening da performance é a imprescindível participação do público, já que a performance pode ou não ter esta participação. A performance também pode ser registrada e documentada através de vídeo ou foto, possibilitando que este registro seja exposto em museus e galerias (e até no YouTube!).
Flávio de Carvalho (1899-1973), New Look,1956
Marina Abramovic (1948), Rhythm 10, 1973 | The artist is present, 2010
Yoko Ono (1933), Cut Piece, 1964, MoMa, Nova York
Martha Rosler (1943), Semiotics of the Kitchen, 1975
Renata Felinto (1978), White Face and Blonde Hair, 2012
Frente 3 de Fevereiro, Bandeiras
BODY ART
Joseph Beuys (1921-1986), Como explicar quadros a uma lebre morta, 1965 | Eu gosto da América e a América gosta de mim, 1974
Ana Mendieta (1948-1985), Tree of Life, (1976), Hayward Gallery, Londres
Gilbert & George, George The Cunt & Gilbert The Shit, 1969, Tate, Londres e National Galleries of Scotland, Edimburgo | A escultura que canta, 1969
VIDEOARTE
Joan Jonas (1936), Wind, 1968 | Mirror Pieces (1968-1971)
Natália LL (1937), Consumer Art, 1972-1975 | Natalia Ist Sex, 1974, Centre of Contemporary Art Znaki Czasu, Torún
Vera Chaves Barcellos (1983), A definição da arte, 1996
Anna Bella Geiger (1933), Passagens 1, 1974
PARA ENTRAR NO CLIMA
Você sabia que o Instituto Ling coleciona apenas obras de arte contemporânea de artistas brasileiros? E que este acervo pode ser visitado? Mande um e-mail para institutoling@institutoling.org.br e agende sua visita!
Ficou com vontade de saber mais sobre Pop Art? A youtuber Vivi Villanova fez um vídeo curtinho falando sobre o movimento e suas principais características. Disponível aqui.
Quer aprofundar um pouco mais seus conhecimentos sobre o período? Recomendamos os livros: Escritos de Artistas: anos 60/70, organizado pela crítica de arte Glória Ferreira; Six Years: The dematerialization of the art object from 1966 to 1972, escrito pela crítica de arte Lucy Lippard; e Poéticas do Processo - Arte Conceitual no Museu, escrito pela professora e curadora do MAC USP, Cristina Freire.
Você sabia que o maior museu a céu aberto do mundo fica no Brasil? Inhotim, localizado em Minas Gerais, é a sede de um dos acervos mais importantes de arte contemporânea e ganhou até série produzida pela Netflix! Disponível aqui.
Assista ao documentário Espaço Além: Marina Abramovic e o Brasil (2016), de Marco Del Fiol. O filme acompanha a jornada da artista em busca de autoconhecimento viajando por lugares místicos brasileiros e entrando em contato com diferentes comunidades. Disponível no Prime Video. Confira o trailer aqui.
REFERÊNCIAS
CAUQUELIN, Anne. Arte Contemporânea: uma introdução. Tradutora Rejane Janowitzer. São Paulo: Martins, 2005.
Aula sobre Vanguardas Históricas e Arte Contemporânea. Disponível aqui.