Foto: AFP/Getty Images Foto: AFP/Getty Images

A obra viva de Pablo Neruda

XV

 

Nosotros, los perecederos, tocamos los metales,

el viento, las orillas del océano, las piedras

sabiendo que seguirán, inmóviles o ardientes,

y yo fui descubriendo, nombrando todas las cosas:

fue mi destino amar y despedirme.

 

(Poema extraído da obra Maremoto. / Aún. / La espada encendida. / Las piedras del cielo. 1 ed. Barcelona: Debolsillo, 2004, p.38)

 

BIOGRAFIA

Pablo Neruda nasceu em 1904, em Parral, no Chile. De origem modesta e educação provincial, o poeta alcançou grande sucesso e prestígio ainda em vida. Seus livros, principalmente Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada, Residência na Terra e Odes Elementares, venderam milhões de cópias e, mesmo depois de anos após sua morte, o poeta continua sendo um dos mais importantes do século 20.

 

Assista a interpretação do poema Vinte feito pelo ator Paulo Guilarducci para o projeto Interpretar o Texto. O poema integra a obra Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada (1924).

 

Neruda cresceu na cidade de Temuco, cercado de lagos, montanhas, bosques e rios, o que contribuiu para uma visão lírica, e com apenas 13 anos já escrevia, tendo publicado o artigo Entusiasmo y Preserverancia no jornal da cidade, La Mañana. Dos 16 aos 19 anos, escreveu a coletânea de poemas Crepusculario, publicado em 1923, influenciado pelo simbolismo.

Em 1921, ele parte para a capital do país, Santiago do Chile, onde estuda pedagogia em francês. A capital chilena era centro de um movimento estudantil ávido por artistas progressistas. Na década de 1930, ele assume o posto de diplomata em Barcelona e vê a Espanha mergulhada em uma guerra civil. Isso faz com que Neruda, que já tinha inclinações socialistas, se torne um comunista partidário de Stálin.

 

“A poesia é como pão. Deveria ser compartilhada por todos, por estudiosos e camponeses, por toda nossa vasta, incrível e extraordinária família de humanidade.”

Pablo Neruda

 

Neruda retorna ao Chile na década de 1950, onde passa a maior parte do resto de seus anos de vida. Sua morte, em 23 de setembro de 1973, acontece apenas 12 dias depois do golpe de estado, apoiado pelos EUA, em que Augusto Pinochet tomou o poder do presidente Salvador Allende, eleito democraticamente e com apoio de Neruda. É interessante ressaltar que, alguns anos antes, em 1969, Pablo Neruda, candidato a presidente, retirou sua candidatura em favor de Salvador Allende. No funeral do poeta, a multidão – mesmo cercada por soldados armados com metralhadoras – demonstrou resistência ao novo regime gritando: “Ele não está morto, ele não está morto! Ele só adormeceu!”.

 

Foto: Keystone-France/Gamma-Keystone via Getty Images

 

SOBRE A OBRA

 

“Eu mudei tantas vezes de sol e de arte poética que ainda estava servindo de exemplo nos cadernos de melancolia quando já me inscreviam nos novos catálogos dos otimistas, e apenas me haviam declarado obscuro como boca de lobo ou de cão, denunciaram à polícia a simplicidade de meu canto.”

Pablo Neruda em Antologia Poética

 

É necessário conhecer a interessante biografia de Neruda para compreender melhor sua obra. O poeta participou ativamente dos principais fatos históricos e políticos de seu país, marcando sua produção poética com essas vivências.

Sua poesia não pode ser atribuída a esta ou aquela escola literária, pois o poeta soube captar elementos de diferentes estilos e mesclá-los na sua escrita, utilizando técnicas de escolas literárias tradicionais — como simbolismo, romantismo e barroco — e de vanguarda, como realismo socialista, surrealismo, expressionismo e cubismo.

Em 1971, Neruda recebeu o Prêmio Nobel de Literatura pela Academia Sueca de Letras, como reconhecimento de sua contribuição para a poesia latinoamericana. A obra de Neruda permanece viva, sendo um dos poetas mais lidos no século 20.

 

“Minha poesia e minha vida têm transcorrido como um rio americano, como uma torrente de águas do Chile, nascidas na profundidade secreta das montanhas austrais, dirigindo sem cessar até uma saída marinha o movimento de suas correntes. Minha poesia não rejeitou nada do que pôde trazer em seu caudal; aceitou a paixão, desenvolveu o mistério e abriu caminho entre os corações do povo.” (NERUDA, Pablo. “O pampa salitreiro” (fragmento) In: Confesso que Vivi. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil, 1987 p. 204)

 

CURIOSIDADES 

Batizado Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto, adota o pseudônimo de Pablo Neruda, confortando o pai do desgosto de ter um filho dedicado à poesia. Ficou órfão de mãe com apenas um mês de vida (sua mãe morrera vítima de uma tuberculose) e foi criado pela madrasta, a quem chamaria de mamadre.

O nome que adotou é, geralmente, tido como uma homenagem ao poeta e contista checo Jan Neruda. Também aparece ligado ao conto A Study in Scarlet (publicado no Brasil como A Máscara da Morte Rubra), de Sir Arthur Conan Doyle, em que o célebre detetive Sherlock Holmes ouve o concerto de um par de músicos cuja violinista tinha Neruda como sobrenome.

A vida do poeta inspirou a criação de três filmes: O Carteiro e o Poeta, de Michael Radford (1994), Neruda – Fugitivo, de Manoel Basoalto (2015) e o mais recente Neruda, de Pablo Larraín (2016).

A autobiografia de Neruda foi publicada postumamente em 1974, intitulada Confieso que he vivido.

Em 1969, o poeta foi entrevistado no Brasil pela escritora e jornalista Clarice Lispector. Essa maravilhosa entrevista está disponível para leitura online na Revista Bula.

 

PREMIAÇÕES

Neruda recebeu, em 1953, o Prêmio Lênin da Paz, concedido pela União Soviética a figuras célebres como escritores, artistas e políticos.

Em 1971, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura pela Academia Sueca de Letras.

Recebeu, em 1972, o Prêmio de Poesia Golden Wreath Award.

 

DICAS DO LING 

 

REFERÊNCIAS

GONZAGA, Vera Lígia M. Migliano. A poesia plural de Pablo Neruda. 2009, 561 f. Tese (Doutorado em Estudos Literários) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras, São Paulo, 2009. Disponível em: repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/102359/gonzaga_vlmm_dr_arafcl.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em 16/06/2020.

NERUDA Pablo. Maremoto. / Aún. / La espada encendida. / Las piedras del cielo. 1 ed. Barcelona: Debolsillo, 2004, p.38 (Colección contemporânea). 2004, p.73,74.

Site Revista Galileu. 6 fatos sobre a vida do escritor chileno Pablo Neruda. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Cultura/noticia/2018/09/6-fatos-sobre-vida-do-escritor-chileno-pablo-neruda.html. Acesso em: 15/06/2020.

Site Revista Bula. Clarice Lispector entrevista Pablo Neruda. Disponível em: https://www.revistabula.com/955-clarice-lispector-entrevista-pablo-neruda/. Acesso em: 16/06/2020.

Site Comunidade Cultura e Arte. Vida e obra de Pablo Neruda. Disponível em: http://www.comunidadeculturaearte.com/vida-e-obra-de-pablo-neruda/. Acesso em: 16/06/2020.

Site Cultura Estadão. Biografia revela a bagunçada e brilhante vida de Pablo Neruda. Disponível em: https://cultura.estadao.com.br/noticias/literatura,biografia-revela-a-baguncada-e-brilhante-vida-de-pablo-neruda,70002279918. Acesso em: 16/06/2020.

Site Cultura Estadão. Disco traz canções baseadas nos poemas de Pablo Neruda. Disponível em: https://cultura.estadao.com.br/noticias/musica,disco-traz-cancoes-baseadas-em-poemas-de-pablo-neruda,135287. Acesso em: 16/06/2020.