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As Mulheres na Arte: uma história ainda pouco conhecida

Para mergulhar no universo do segundo ciclo do Conversas sobre Arte, promovido pelo Instituto Ling, recorremos à historiadora da arte Linda Nochlin e seu famoso artigo Por que não houve grandes mulheres artistas?. Publicado originalmente em 1971 pela revista americana ArtNews, o artigo foi recentemente traduzido para o português pela Edições Aurora.

A ideia para seu icônico texto surgiu quando um galerista lhe questionou: “Linda, eu adoraria mostrar mulheres artistas na minha galeria, mas por que não há grandes artistas mulheres?”. Esse é o ponto de partida para que Nochlin organize sua teoria: formular hipóteses sobre a natureza da pergunta. Como podemos perceber ao longo do seu ensaio, o questionamento resume o problema, pois suscita com ele diferentes camadas que envolvem convenções culturais e sociais naturalizadas ao longo do tempo e que poderiam induzir a uma resposta extremamente simplista e equivocada. Dito de outro modo, a formulação em si da pergunta já desconsidera o contexto da mulher na sociedade, o ambiente e a função social a ela destinada. Sim, porque existiram grandes artistas mulheres ao longo da história, a propósito do que o Modernismo e a Arte Contemporânea evidenciaram, principalmente para aqueles que poderiam ter alguma dúvida sobre a capacidade e o talento feminino. Nós só não fomos apresentados a elas, de períodos anteriores ou de trajetórias marginais, pois a história nos foi contada por uma perspectiva única.

 

Na realidade, nunca houve grandes mulheres artistas, até onde sabemos, apesar de haver algumas interessantes e muito boas que ainda não foram suficientemente investigadas ou apreciadas, como não houve também nenhum grande pianista de jazz lituano ou um grande tenista esquimó, e não importa o quanto queríamos que tivesse existido.

 

            Nochlin em Por que não houve grandes artistas mulheres?, 2016, p. 7 e 8

 

Ao longo do texto, ela nos faz questionar diversas certezas sobre os grandes mestres, não para desmerecer o trabalho deles, mas para trazê-los ao mundo real, fugindo da ideia consagrada de que os grandes artistas são personagens de uma história dramática que os coroa como seres divinos no final. Ela também faz questionamentos pertinentes sobre a produção das poucas mulheres artistas que conseguiram “brilhar” em seus tempos. A arte feita por mulheres está necessariamente ligada à experiência feminina? Existe algo essencialmente feminino nas obras das artistas que hoje reconhecemos? Ou seja, existe alguma característica comum às obras de todas elas, como acontece, por exemplo, com os cubistas e impressionistas? O que podemos perceber é que as artistas mulheres estão mais ligadas aos artistas homens do período em que viveram do que das obras umas das outras. A arte feita por mulheres é necessariamente delicada? A Elisabeth Vigée Le Brun é mais feminina do que o Fragonard? Ou todo o Rococó francês é feminino? A Rosa Bonheur não tem nada de frágil. Berthe Morisot e Mary Cassatt, de fato, retrataram cenas domésticas, mas Renoir e Manet também. A partir do que/de quem entendemos o que é masculino e feminino?

Ao publicar o artigo, Nochlin colocou as bases de toda história da arte em xeque e, dessa forma, revolucionou a maneira como enxergamos a escrita da arte. E se você ficou com vontade de ler o artigo na íntegra é possível encontrá-lo on-line e em português. Também pode assistir a esse resumo superbacana feito pela youtuber Vivi Villanova!

 

PRINCIPAIS EXPOENTES DE OUTRORA

A segunda edição do ciclo Conversas sobre Arte começou com a aula da historiadora Cristine Tedesco, tratando das artistas do Renascimento e do Barroco. Escolhemos algumas obras fundamentais do período para que você fique com gostinho de quero mais! Para visualizar as obras, basta clicar nos nomes sublinhados.

Sofonisba Anguissola (1535-1625) Retrato de Eleonora de Medici, 1560, Museo Lázaro Galdiano, Madri, Espanha | A irmã da artista Minerva Anguissola, 1564, Milwaukee Art Museum, Estados Unidos | Autorretrato, 1554, Kunsthistorisches Museum, Viena, Áustria | Autorretrato com espineta, 1555, Museo di Capomonte, Nápoles, Itália

Lavinia Fontana (1552-1614) Retrato de Costanza Alidosi, 1594, National Museum of Women in the Arts, Washington, Estados Unidos | Retrato de Antonieta Gonzalez, 1595, Musée du Château, Blois, França || Retrato de uma mulher nobre, 1580, National Museum of Women in the Arts, Washington, Estados Unidos | Autorretrato na espineta com aia, 1577, Accademia di San Luca, Roma, Itália

Artemisia Gentileschi (1593-1654) Judith decapitando Holofernes, 1620, Galeria Uffizi, Roma, Itália | Suzana e os anciãos, 1610, Palácio de Weissenstein, Bavária, Alemanha | Autorretrato como alegoria da pintura, 1638, Royal Collection, Londres, Inglaterra | Autorretrato como tocadora de alaúde, 1615-18, Wadsworth Atheneum, Hartford, Estados Unidos

Elisabetta Sirani (1638-1665) Autorretrato, 1660, Archivio Pinacoteca Nazionale, Bologna, Itália | A Santa Família com Santa Elizabeth e São João Batista, 1650-60, National Museum of Women in the Arts, Washington, Estados Unidos | A Virgem e a Criança, 1663, National Museum of Women in the Arts, Washington, Estados Unidos | A decapitação de São João Batista, 1657, National Art Gallery of Bologna, Itália

 

PARA ENTRAR NO CLIMA

Ficou com vontade de saber um pouquinho mais sobre o Renascimento? Assista a aula da historiadora da arte Paula Ramos no primeiro ciclo do Conversas sobre Arte, que aconteceu em 2020. A aula falava sobre o despontar dos modernos conceitos de Arte e de Artista, e preparamos um material parecido com este para acompanhar a aula.

Vale a pena conferir: a youtuber Vivi Villanova abordou o tema do nosso ciclo em alguns vídeos curtinhos: já falou sobre a Artemísia Gentileschi (em mais de um vídeo até!) e sobre a Sofonisba Anguissola!

Você sabia que o Brasil já recebeu obras das artistas Artemísia Gentileschi, Sofonisba Anguissola e Lavinia Fontana? Elas fizeram parte da exposição Histórias de Mulheres: artistas até 1900 que aconteceu no MASP em 2019. A mostra teve uma continuação chamada Histórias Feministas: artistas depois de 2000 e ambas integravam o ciclo Histórias das mulheres, histórias feministas.

Tire um tempinho pra ouvir: o podcast Descansa, Monalisa!, feito por estudantes de História da Arte, fez um episódio especial sobre feminismo e mulheres na arte. Elas também gravaram um episódio sobre o Renascimento!

Você conhece o Museu Nacional das Mulheres nas Artes? O NMWA (National Museum of Women in the Arts) fica em Washington, capital dos Estados Unidos, e é o único grande museu do mundo exclusivamente dedicado a exibir artistas mulheres! O museu aborda o desequilíbrio de gênero na história da arte e traz à tona importantes mulheres artistas do passado, além de promover mulheres artistas que estão atuando hoje!

Você sabia que a Sofonisba era amiga de Michelangelo? Pois é, os dois chegaram a trocar cartas em que o mestre renascentista fazia pequenos desafios de desenho a artista iniciante! Outro grande mestre que se encantou com Anguissola foi o pintor flamengo Anthony Van Dyck, que retratou Sofonisba quando já era uma senhora. Ela tava bem de amigo, né?!

Não deixe de ler: a historiadora Renata Lima Cremasco fez um artigo sobre as artistas mulheres da Renascença, dando enfoque ao trabalho feminino ao longo da história.

 

Referências

NOCHLIN, Linda. Por que não houve grandes artistas mulheres? Traduzido por Juliana Vacaro. São Paulo: Edições Aurora, 2016. Disponível em: http://www.edicoesaurora.com/6-por-que-nao-houve-grandes-mulheres-artistas-linda-nochlin/

Artigo de Julia Lima sobre Linda Nochlin para o site Arte que acontece. Disponível em: https://www.artequeacontece.com.br/quem-foi-linda-nochlin/