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O amor em pleno isolamento: desafios e reflexões, com Regina Navarro Lins

Pesquisadores em todo o mundo estudam os efeitos da pandemia, evento único nos últimos cem anos. Bilhões de pessoas sofrem essa catástrofe natural em grande escala. Isso marcará para sempre as nossas vidas, nos afetando de forma psicológica, política, econômica e nas relações sociais.

"Muito mais pessoas do que pensávamos estão cumprindo as medidas de distanciamento", afirmou Margarita Gómez, pesquisadora da Universidade de Oxford, Inglaterra, frente a pesquisas realizadas em países diversos, como Rússia, Índia, México e Argentina. Temos que entender como as pessoas estão se comportando; é algo que nunca aconteceu, por isso gera grande incerteza e demanda por informações".

Tenho recebido diversas mensagens de homens e mulheres se queixando desses tempos de isolamento. Entre as mais comuns está a dificuldade de suportar 24 horas por dia, sete dias por semana, o marido ou a esposa ao lado.

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Uma das características fundamentais para uma boa relação amorosa é se livrar da ideia de fusão e preservar a distinção entre si próprio e o outro. A pessoa amada deve ser vista e aceita como tendo uma identidade inteiramente separada do parceiro, o que favorece a relação. Mas é coisa rara de acontecer.

Os casamentos na nossa cultura são regidos pelo amor romântico, que prega que deve haver uma fusão, ou seja, os dois devem se transformar num só. Isso não existe, claro, e as frustrações são muitas. É bastante comum não se perceber nem se respeitar a individualidade do outro, o que gera desentendimentos e sofrimento.

O respeito à individualidade do parceiro, como o fato de cultivá-la é crucial. Em tese, entendemos que cada um de nós merece privacidade, embora, na prática, essa questão seja sempre mais complicada.

A terapeuta de casais belga Esther Perel diz que "a ênfase é na criação da intimidade, não na conservação da individualidade. Meus pacientes que abraçam esse etos de intimidade acabam sentindo que suas aspirações individuais, ou as de seus parceiros, já não são legítimas. O invencível nós suplanta o fraco eu." Se isso é comum ocorrer no dia a dia normal dos casais, imagina nesse período de quarentena que estamos vivendo.

 

*Texto de autoria de Regina Navarro Lins. Para consumir mais conteúdos da escritora, acesse seu blog no Uol.