Exposição Brígida Baltar – A pele da planta
10/06/2025 às 19h até 09/08/2025 às 20h

O Instituto Ling inaugura no dia 10 de junho a exposição individual A pele da planta, de Brígida Baltar. Com curadoria de Marcelo Campos, a mostra apresenta uma seleção de obras da artista produzidas especialmente para esta exposição, reunindo desenhos, fotografias, esculturas e bordados.
O projeto original, concebido por Brígida em 2020 para o espaço expositivo, evoca a atmosfera dos jardins do centro cultural. Após seu falecimento, em 2022, a proposta foi finalizada em diálogo com o Instituto Brígida Baltar, respeitando sua poética e memória.
A mostra fica em cartaz até o dia 9 de agosto de 2025, com visitação gratuita de segunda a sábado, das 10h30 às 20h. Também é possível agendar visitas mediadas para grupos, sem custo, pelo site do Instituto Ling.
No dia da abertura, haverá uma conversa aberta ao público com a participação do curador Marcelo Campos, do gestor cultural Jocelino Pessoa — diretor artístico do Instituto Brígida Baltar —, e do artista Ygor Landarin, que atuou como assistente de Brígida. Para participar, é necessário realizar inscrição prévia, também gratuita, pelo site.
A PELE DA PLANTA E CRIAÇÃO DE MUNDOS
A casa e seus jardins, arquitetados para abarcar o Instituto Ling, me inspiraram a elaborar uma exposição, na galeria do referido Instituto, que orbitasse em torno das plantas.
Há alguns anos a pele, como superfície, me interessa. As marcas ali fundadas pelo tempo, pelas histórias e pelas memórias. Essa pesquisa agora se estende ao universo vegetal. Plantas também trazem seus traços, evocando afetos e reminiscências.
Em 2016 iniciei a prática de bordar, construindo bordados de hematomas e petéquias na obra homônima Os hematomas e as petéquias. Mais tarde, desenvolvi a obra Minha pele sua pele, em uma variação de cores de linhas entre beges, rosados e marrons, tons que transitam entre as peles negra e branca.
Embora meu trabalho traduza sentidos existenciais e biográficos, o que resulta é uma geometria orgânica, abstrata, conduzindo a criação de mundos inventados.
A pele da planta apresenta, em uma parte da exposição, além dos desenhos e texturas observados na derme das plantas, situações de desgaste ou pequenas enfermidades. Em 2016, já havia realizado a obra O hematoma das plantas.
A criação deste projeto acontece em um momento em que todos nós nos encontramos em isolamento social, em uma quarentena necessária devido à pandemia de COVID-19, o que gerou um trabalho mais delicado, de formatos reduzidos, ao buscar o que estava ao alcance das mãos, com os pequenos panos encontrados em casa, linhas e novelos que estavam disponíveis.
Ao lado dos bordados e desenhos emoldurados na parede, irão compor a exposição esculturas em concreto, podendo apresentar uma mistura de outros materiais. Esse conjunto edificará um jardim fantástico.
Finalmente, a vontade de incorporar o projeto dos jardins distribuídos entre os bordados é uma proposta que, mesmo ainda embrionária, me parece instigante e potente.
Marcelo Campos é o curador escolhido para esta exposição. Nós, Marcelo e eu, temos um profundo diálogo sobre arte, sobre nossos trabalhos, e já participamos de alguns projetos juntos, como: Sertão Contemporâneo, 2008; Caixa Cultural (Rio de Janeiro-Salvador), O que é preciso para voar, Oi Futuro Flamengo, 2011; O amor do pássaro rebelde, Cavalariças, 2012; entre outros.
Nosso processo inclui encontros periódicos em visitas ao ateliê, para acompanhar as obras e conversar sobre elas.
Brígida Baltar, 2020.
Brígida Baltar - A pele da planta
O projeto A pele da planta retoma gestos e desejos já anunciados em outros projetos de Brígida Baltar. Convivendo com a artista por mais de uma década, percebo que o projeto atual mantém interesses em torno do que está próximo ao corpo e ao cotidiano de Brígida: a criação de híbridos, como já acontecera com esculturas aladas, e a atenção diante de elementos naturais e suas transformações. Assim, a alteração de cores, a transformação de formas, ora geométricas, ora mais irregulares e naturais, vai compondo o cotidiano de desenhos e bordados. Este projeto, de outro modo, a mantém curiosa pela possibilidade de criação de esculturas e obras mais experimentais, com usos inusitados de materiais, como o cimento, tal qual na produção mais recente com porcelana.
Marcelo Campos, 2020.
(...)
Este projeto do Instituto Ling encontra Brígida Baltar com o desejo de produzir esculturas e testar materiais. Vemos, depois de reunir o conjunto da obra da artista, a importância dada à natureza em comunhão inseparável conosco, os seres viventes. E a vida, forte, intensa e buscada em todos os sentidos pela artista, foi-se parecendo cada vez mais com seus trabalhos. A vida das plantas, suas reações, a pele que responde em células coloridas, a presença do que ficou marcado, magoado, traumatizado. E, ainda assim, o renascimento pela junção, pela mistura, na partilha da medula com o irmão, nas quimeras que ela própria sentira no corpo e na alma. Seguimos, aqui, seu desejo, seus rascunhos, mantendo-a presente e perspectivando-a.
Marcelo Campos, 2025.
Instituto Brígida Baltar
Em 21 de agosto de 2022, no caderno que usava para suas memórias, Brígida registrou que “o Instituto Brígida Baltar deverá existir até que a obra esteja bem colocada em instituições de arte e museus importantes, preservando a memória e o pensamento da obra na história da arte, como artista brasileira da década de 1990”.
Dois anos antes, em parceria com o curador Marcelo Campos, aprofundou-se na proposta desta mostra, A pele da planta, inspirada na casa e nos jardins do Ling, a convite do Instituto. Foi exatamente usando a sua casa e a natureza como paisagem e matéria-prima que, ao longo da sua carreira, a artista personificou sonhos e fábulas e emprestou seu corpo para fazer filmes e construir abrigos, originando centenas de obras.
Nesse intervalo de tempo, a sociedade atravessou uma pandemia que marca a todos e, curiosamente, as paisagens restritas da casa, que serviram à inspiração de Brígida, ganharam outros sentidos. Permanecem, no entanto, todos os arranjos que a artista fez para esta exposição: as suas intenções poéticas, que são parte do projeto original de 2020, fundamentaram a curadoria e a expografia de A pele da planta, graças à participação dos diversos interlocutores que pensaram com ela a sua obra.
Estamos, portanto, diante da oportunidade de observar o último projeto elaborado por Brígida Baltar, que se realiza apoiado pela vocação legada ao seu Instituto. Nesse contexto raro e precioso, cercado pelas janelas e jardins, convidamos o público para habitar este espaço e conhecer o conjunto de bordados realizados especialmente para esta exposição e que agora são parte de um acervo maior da artista, salvaguardado pelo Instituto Brígida Baltar.
IBB
Ficha Técnica IBB
Diretor-presidente: Tiago Baltar
Diretor artístico: Jocelino Pessoa
Conselho: Álvaro Piquet Pessôa, Luísa Duarte, Marcelo Campos, Ricardo Resende
Assistente Ateliê Brígida Baltar: Ygor Landarin
Sobre o curador:
Marcelo Campos nasceu, vive e trabalha no Rio de Janeiro. É Professor Associado do Departamento de Teoria e História da Arte do Instituto de Artes da UERJ, Curador Chefe do Museu de Arte do Rio e Doutor em Artes Visuais pelo PPGAV da Escola de Belas Artes/UFRJ. Desenvolveu sua tese de doutorado sobre o conceito de brasilidade na arte contemporânea. Possui textos publicados sobre arte brasileira em periódicos, livros e catálogos nacionais e internacionais. Em 2023, organizou o livro Voltaire Fraga: uma Bahia em movimento (Salvador: P55); em 2016, lançou Escultura Contemporânea no Brasil: reflexões em dez percursos (Salvador: Editora Caramurê), incluindo parte significativa da produção moderna e contemporânea brasileira, em um levantamento de mais de 90 artistas. Desde 2004, realiza curadoria de exposições em diversas instituições no Brasil.
ficha técnica da exposição
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Artista
Brígida Baltar
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Curador
Marcelo Campos
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Expografia
Tania Sarquis
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Identidade Visual
Adriana Tazima
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Produção Executiva
Laura Cogo
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Programa Educativo
Gisele Marteganha