exposição

LING apresenta: Bárbara Savannah, com intervenção artística inédita

08/04/2024 às 10h30 até 08/06/2024 às 20h

LING apresenta: Bárbara Savannah, com intervenção artística inédita

O Instituto Ling recebe a artista paraense Bárbara Savannah, para realizar uma intervenção artística inédita em uma das paredes do centro cultural. De 8 a 12 de abril, o público poderá acompanhar gratuitamente a criação da nova obra, observando as escolhas, os gestos, as técnicas e os movimentos da artista. Após a finalização, o trabalho ficará exposto para visitação até 8 de junho de 2024, com entrada franca.

A atividade faz parte da terceira temporada do projeto LING apresenta, que em 2024 conta com a curadoria de Vânia Leal, atual Diretora de Projetos da Bienal das Amazônias e membro do grupo de crítica do Centro Cultural São Paulo.

A artista Bárbara Savannah irá comentar a experiência e o resultado em bate-papo com o público e a curadora, no dia 13 de abril, sábado, às 11h, em frente à obra. Faça sua inscrição sem custo.

 

Amazônias, no tremor das vidas

Uma narrativa histórica da arte na Amazônia brasileira compreende muitas “Amazônias”, pois resguarda realidades diversas. Neste cenário, surge o projeto LING apresenta: Amazônias, no tremor das vidas, como um disparador nessa perspectiva plural, com artistas que desentravam a compreensão da interculturalidade, dos contatos, das provocações e das possibilidades nesses espaços imensos quando a Amazônia se torna o centro de preocupação da humanidade.

O tremor das vidas nas Amazônias está nas placas tectônicas, no tremor das pororocas, do jambu na boca e nos sentidos, no treme das aparelhagens, no tremor do mundo, no negacionismo da ciência, nas narrativas dos povos da floresta, no pó de paricá e no transe como parte da ancestralidade florestânica…

A partir dessas provocações, a mostra aponta caminhos e impasses da arte compostos por artistas do continente amazônico. Estes discutem, por meio de investigações e territorialidade, as relações afetivas, políticas, sociais e culturais de identidades e de pertencimento, assim como o “imaginário geográfico”.

Defende-se que a arte não pode se limitar à expropriação dos valores simbólicos e saberes materiais dos ribeirinhos, povos indígenas, quilombolas, assentados, afro-indígenas, castanheiros e de todo sujeito que mobiliza a sensibilidade de qualquer artista.

É importante também ressaltar que, historicamente, esses sujeitos seguem elaborando estratégias criativas de sobrevivência como protagonistas, por meio de tecnologias ancestrais à manutenção da vida que pulsam nesses lugares poéticos e políticos.

Entre o “bom selvagem” idealizado de uma visão romântica e o “inferno verde”, a Amazônia quase mitológica é o ambiente em que cabe ao artista criar pontes críticas com o real, dar asas ao imaginário e fortalecer o simbólico coletivo. Este é o desejo para esta edição do projeto LING apresenta.

Vânia Leal

Curadora

 

Sobre a curadora:

Vânia Leal Machado nasceu em Macapá, no Amapá, e vive e trabalha em Belém, no Pará. É mestre em Comunicação, Linguagem e Cultura e atua na área de curadoria e pesquisa em Artes, tendo participado de júris de seleção e premiação e organizações de salões. Foi Curadora Educacional do Projeto Arte Pará e fez a curadoria de exposições como Mastarel: Rotas Imaginais (2019) de Elaine Arruda no Banco da Amazônia, Tecidos de Certeza (2019) de Elisa Arruda na Galeria Elf, Coleção Eduardo Vasconcelos (2021) nas Galerias Theodoro Braga e Benedicto Nunes no Centur,  A Inversão do cotidiano (2022) de Elisa Arruda na Galeria Ruy Meira, Nhe Amba (2022) de Xadalu Tupã Jekupe no SESC Paraty, Gravado na Alma (2023) de Eduardo Vasconcelos no Banco da Amazônia, entre outras. Também foi curadora da primeira Bienal das Amazônias em 2022-2023. Atualmente, é Diretora de Projetos da Bienal das Amazônias e faz parte do grupo de crítica do Centro Cultural São Paulo.

 

O VERDE

Mural orgânico no espaço referido na planta do Instituto Ling

Ao criar um mural organicamente estruturado, utilizo o pigmento Xadrez como elemento fundamental da minha trajetória e incorporo essa única mistura possível de materiais como uma afirmação cultural e estética fundamentada no conhecimento empírico das cores pelos marajoaras e nortistas. O pigmento Xadrez, comum nas comunidades tradicionais, permeia a cultura, influenciando pinturas de barcos, detalhes de casas e fragmentos estéticos.

A combinação do Xadrez verde com a tinta branca destaca-se na vida cotidiana amazônica. Essa mistura não apenas evoca memórias e pertencimento cultural, mas representa meu primeiro contato com as cores e a mistura de tintas no mundo da arte. O pigmento Xadrez transcende sua função comercial, tornando-se uma ferramenta cultural essencial para artistas, pintores e amadores que, ao longo de décadas, adornam suas casas, ruas e pontes com uma cor proveniente do verde com o branco.

Ao desassociar o pigmento Xadrez de uma escolha meramente comercial, reconheço sua importância como componente nascido da necessidade, incorporado à cultura e usado como ferramenta para a expressão artística. Sua identidade territorial é profundamente enraizada na cultura amazônica, e essa afirmação fortalece minha própria identidade como criadora.

Essa proposta é significativa para um mural em um instituto de arte em outro estado, pois ela transcende as fronteiras geográficas, conectando-se a aspectos culturais e estéticos universais. Ao incorporar o Xadrez como elemento central, o mural torna-se uma expressão visual única, que oferece uma ponte entre a cultura amazônica e a comunidade do Instituto Ling.

A riqueza natural representada pelo uso do pigmento Xadrez oferece uma oportunidade para os espectadores explorarem e apreciarem uma janela para um horizonte comum no cotidiano marajoara. Ao destacar a mistura das cores desses pigmentos, que agora se tornam esta representação do cotidiano Amazônico em outra geografia e espaço, o mural serve como um meio de diálogo cultural, promovendo a compreensão e a valorização da estética nortista para além da estigmatização de um povo que “apenas” perece às margens de um rio, que incontestavelmente carrega a dor e a beleza de pertencer a uma tradição e carregá-la consigo em tudo o que faz, seja construindo, se alimentando, ou pintando.

Nessa jornada, a utilização desse material chega agora para a pintura central e o espaço não como falta de opção, mas como escolha estética proposital e elementar de identificação cultural.

Bárbara Savannah

Artista


ficha técnica da exposição

  • Artista

    Bárbara Savannah

  • Curador

    Vânia Leal

  • Identidade Visual

    Adriana Tazima

  • Produção Executiva

    Laura Cogo

  • Programa Educativo

    Gisele Marteganha


Sobre a Artista

Bárbara Savannah
Foto: Bárbara Savannah

Bárbara Savannah é uma artista originária da Ilha do Marajó, no Pará, e tem dedicado sua expressão artística a transmitir e desfragmentar elementos da cultura popular amazônica desde 2018. Já residindo em Belém, participou de exposições coletivas como Mãe do corpo (2019), do coletivo Vênus, na galeria Benedito Nunes (Fundação Cultural do Pará), e Mulher ser Mulher (2020), na Fundação Cultural de Ilhabela - FUNDACI – SP, além de realizar a exposição individual Universo entre folhas (2021) na galeria Izabel Aquino. Destacando-se no muralismo, sua arte saudosista ecoa nas paredes das cidades, trazendo a temática amazônica e ribeirinha para o cenário urbano. Participou ativamente de projetos como IGARAPÉ DA PAZ (2022) e SEMANA DE ARTE E MURALISMO (2022) na Sede Fundação Cultural do Pará, em Belém. Além de sua prática artística, Bárbara é aluna do curso de Arte-Educação no CEFART –Fundação Clóvis Salgado, em Minas Gerais.