exposição

Ling Apresenta: Bruno Tamboreno

04/04/2022 às 10h30 até 28/05/2022 às 20h

Ling Apresenta: Bruno Tamboreno

O Instituto Ling recebeu o artista visual Bruno Tamboreno para uma intervenção ao vivo em uma das paredes do centro cultural. De 4 a 8 de abril de 2022, o público pôde acompanhar gratuitamente a criação em tempo integral da nova obra, observando as escolhas, os gestos e os movimentos da artista. Após a finalização do trabalho, o artista comentou a experiência e o resultado em bate-papo com o público e a curadora. 

A exposição ficou em cartaz até 28 de maio de 2022.

 

Ling Apresenta: Ver o mundo outra vez

Apresentar: mostrar; expor; tornar público; oferecer (alguma coisa) a (alguém); pôr diante ou na presença; dar a conhecer. Ling Apresenta: Ver o mundo outra vez é a primeira edição de um novo projeto, como pede o novo tempo – esse, que é essencialmente o mesmo, mas não pode ser, pois passamos por muito.

A ideia central é trazer ao Instituto Ling novos – ou outros – nomes da arte contemporânea. Não são descobertas, porque eles já estão no mundo, trabalhando, cada um a seu modo, buscando a inserção em um sistema complexo de legitimação. Uma busca que, cabe dizer, é incessante. Uma exposição não legitima um artista, mas joga luz sobre a sua obra e permite aquilo que há de mais importante quando se produz: dialogar com o público.

Compartilhar um nome, um trabalho e o fazer artístico é o que forma o cerne desse projeto. O convite é para que os artistas façam uma intervenção diretamente em uma das paredes do Instituto. Uma parede que conduz o visitante até o fundo do espaço, que é contemplada por quem se senta no café, e é vista da rua pelos passantes. Durante uma semana, o público será convidado a acompanhar a produção dessa parede-obra. Enquanto o artista trabalha, o público observa: escolhas são feitas, gestos e movimentos acontecem, materiais se sobrepõem, uma obra vai tomando forma.

Ao longo de 2022, serão apresentados quatro artistas, em diferentes momentos de suas carreiras, com distintas produções e temáticas. O que os conecta é justamente uma não-conexão, ou melhor, a conexão mais geral que poderia haver: são artistas, trabalham com afinco, produzem em diferentes meios, levantam questões contemporâneas, provocam reflexões e nos fazem olhar sempre e de novo – mas não para o mesmo.

 

Luísa Kiefer

Início do outono, 2022

 

 

 

 

Anotações soltas: enquanto vejo o Bruno trabalhar

por Luísa Kiefer

4 de abril – Primeiro dia

Chego ao Instituto Ling às 15:30. Bruno está trabalhando desde cedo. As primeiras camadas do desenho já são visíveis. Grafite, carvão, pastel oleoso. Tons de preto e cinza, laranja, amarelo e verde sobre a parede branca. Identifico alguns elementos que Bruno vê ao redor, agora planificados, ocupando o plano bidimensional. Bruno me conta que os primeiros traços foram os mais difíceis. Seis metros de parede branca... Penso na folha diante de mim antes de começar um texto – muito maior. Ele risca, vai para trás, olha, volta, risca, muda, aumenta, apaga. Bruno desenha sem um plano pré-estabelecido. Desenhar é um ato de observar.

 

6 de abril – Terceiro dia

Não pude vir ontem. Hoje me sento em uma mesa mais distante, para não atrapalhar. O desenho ganhou mais cor e corpo. Novas camadas apareceram. No lado direito, Bruno sobrepôs alguns papeis artesanais, que ele mesmo fez. Ele me contou que são papeis feitos em casa, a partir de outros papeis que um dia foram desenhos. Desenhos que vão no liquidificador e voltam para a parede para construir novos desenhos. Surgiu uma figura humana, a única. Uma mulher sentada, vista de cima. Fico pensando em como se dão essas decisões, qual traço invade a área do outro, o que vai sobre o quê? E como?

 

7 de abril – Quarto dia

Dou um pulo rápido. Bruno moveu a sua mesa de trabalho de lugar, assim dá para enxergar melhor o lado esquerdo do desenho, ver o que falta, pensar sobre o equilíbrio do todo. As bolinhas se alastraram. A vegetação também, folhas e plantas vão povoando partes da parede. “Alugo direto com...”, um símbolo de whatsapp, um novo elemento. Procuro no entorno aquilo que Bruno vê durante o seu tempo no espaço e que, na obra, se torna traço. Bruno trabalha em cima das frotagens que fez na escada externa do Instituto. Me conta que achou que elas ficaram um pouco pesadas, está tentando resolver... Ele experimenta cortar com o estilete e desenhar subtraindo partes, devolvendo o branco da parede em recortes que formam desenhos.

 

8 de abril – Quinto e último dia

Na última tarde, me dou conta que Bruno é canhoto. Não tinha percebido isso antes – isso não tem nenhuma importância, mas me faz pensar sobre o corpo e o gesto, sobre a minha inábil mão esquerda. Lembro de uma conversa do primeiro dia, quando Bruno me disse que ficou com o rosto todo preto de trabalhar em umas manchas pretíssimas, feitas com carvão. Agora, nas últimas horas de desenho, observo novamente o corpo do artista em ação. O corpo participa. É delicada a forma como Bruno se mexe no espaço. Ele vai de um lado para o outro, de uma forma para outra. Um pequeno detalhe, um risco, um rasgo. Um ajuste aqui, outro ali. Se distancia, contempla, volta, risca. Conversamos sobre como saber se o desenho está pronto. Bruno me conta que não sabe, que geralmente, quando desenha sobre papel, no seu ateliê, ele retira o desenho da parede, move para um novo lugar, como a sala, por exemplo, para ver se ele se sustenta em si. Aqui, isso é impossível. Uma hora vai ser preciso parar.

 

 

Sobre a curadora:

Luísa Kiefer (Porto Alegre, 1986)

Jornalista, pesquisadora e curadora independente. É doutora em História, Teoria e Crítica de Arte pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais do Instituto de Artes da UFRGS. Em 2017, foi pesquisadora visitante no departamento de fotografia do Centre for Research and Education in Art and Media (CREAM) da University of Westminster, Londres, Inglaterra. É Mestre em História, Teoria e Crítica de Arte pelo mesmo programa e jornalista formada pela PUCRS. Nos últimos anos, realizou a curadoria de exposições, individuais e coletivas, em diferentes espaços como Fundação Ecarta, Goethe-Institut Porto Alegre, Instituto Ling, Espaço Cultural ESPM-Sul e Fundação Vera Chaves Barcellos. Desde 2018, coordena, junto com Eduardo Veras, o projeto de catalogação da obra da artista plástica Gisela Waetge. Em 2019, foi curadora geral do Linha, espaço independente de artes visuais, em Porto Alegre. Em 2021, recebeu o XIV Prêmio Açorianos de Artes Plásticas na categoria Jovem Curadora/Aliança Francesa. 

 

O Ling Apresenta tem realização do Instituto Ling e Ministério do Turismo / Governo Federal, com patrocínio de Crown Embalagens e Fitesa.


ficha técnica da exposição

  • Artista

    Bruno Tamboreno

  • Curador

    Luísa Kiefer

  • Identidade Visual

    Adriana Tazima

  • Produção Executiva

    Laura Cogo

  • Programa Educativo

    Camila Salvá


Sobre o Artista

Bruno Tamboreno
Crédito: Arquivo pessoal

Bruno Tamboreno (Bagé/RS, 1989)

Artista visual e pesquisador. Mestre em Poéticas Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e bacharel em Artes Visuais pela mesma instituição. Explora a construção da imagem através de um pensamento gráfico concebido no diálogo entre o desenho e a fotografia. A partir da experiência do olhar oblíquo sobre a paisagem

urbana, observa, registra e acumula imagens fragmentárias deste espaço e busca recombiná-las em uma investigação interessada no próprio processo do desenho. Enquanto membro do Núcleo de Arte Impressa da UFRGS interessa-se pela gravura em seu conceito expandido, como uma linguagem que agrega tradição e experimentação. Participa regularmente de eventos ligados à arte em exposições individuais e mostras coletivas no Brasil e exterior. Atualmente vive e trabalha em Porto Alegre/RS.