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Na rotina de engenheira e mãe, gestão do tempo é fundamental para Priscila Godoy

Mãe da Valentina, engenheira química formada pela UFRGS e supervisora comercial em uma multinacional do ramo de nãotecidos. Esta é Priscila Godoy, 37 anos, que era estagiária na Fitesa em 2011 quando a empresa a indicou para participar do programa GUESP do Instituto Ling e passar um semestre de estudos no Illinois Institute of Technology, em Chicago.  À época com 24 anos, Priscila aproveitou o período no exterior para agregar conhecimentos de gestão ao seu currículo, e que hoje são usados não apenas no trabalho, mas para administrar o tempo em que se dedica a seu mais recente projeto, a maternidade.

Na rotina de engenheira e mãe, gestão do tempo é fundamental para Priscila Godoy

Priscila aprendeu desde cedo os desafios que muitas mulheres com filhos enfrentam para ter uma carreira.  A sua mãe tinha 17 anos quando ela nasceu, em Cachoeira do Sul (RS) e, para levar adiante o sonho de cursar a faculdade de Biologia, precisou deixar a filha de um ano aos cuidados da avó.  As duas só voltaram a morar juntas quando Priscila tinha 8 anos e se mudou para Porto Alegre, onde a mãe, já formada, trabalhava como professora de biologia.

Criada pela avó carinhosa no aconchego do interior do Rio Grande do Sul, Priscila conta que outro familiar teve influência decisiva na sua formação. A convivência com seu padrinho, engenheiro químico e empreendedor, foi fundamental na sua escolha pela engenharia. “Mesmo antes de entender o que um engenheiro faz, já dizia que essa seria minha profissão” conta. Ao passar fins de semana em sua companhia, visitando sua empresa e conhecendo o mundo empresarial, a menina foi conquistada pela química e pela engenharia.

Com o exemplo da mãe, a inspiração do padrinho e o amor pelas disciplinas de exatas, Priscila escolheu não um, mas dois cursos ligados à química ao final do Ensino Médio. Como tinha o desejo de ingressar no mercado de trabalho rapidamente, optou por iniciar o curso técnico em química logo que saiu da escola. Simultaneamente, foi aprovada para Engenharia Química na UFRGS, e foi conciliando os dois cursos. Quando possível, engajava-se em outros projetos universitários, participando de competições e demonstrando habilidades práticas – o ponto alto foi vencer o concurso de pontes de macarrão da UFRGS.

Em 2011, Priscila foi contratada como estagiária da Fitesa, primeiro em nível técnico e depois na graduação.  Priscila iniciou no chão de fábrica, ocupando uma posição tradicionalmente considerada masculina, que muitas vezes exigia força braçal. Tinha sob sua responsabilidade a gestão das manutenções preventivas e elaboração de instruções de trabalho dos operadores. Em poucos esses, seu desempenho chamou a atenção e ela foi selecionada, entre diversos estagiários, para ser indicada pela empresa para ser a primeira bolsista do Programa GUESP – Global Undergraduate Engineering Scholars Program, promovido pelo Instituto Ling.

 

A experiência de estudar fora

E foi assim que, em janeiro de 2012, a menina de Cachoeira do Sul partiu os Estados Unidos para se dedicar integralmente aos estudos durante um semestre no Illinois Institute of Technology, parceiro do Instituto Ling para o GUESP.  Priscila já tinha em mente aproveitar o período em Chicago para adquirir conhecimentos que extrapolassem a engenharia e, com o apoio de uma das lideranças da Fitesa, selecionou disciplinas que pudessem complementar sua formação brasileira, algumas com foco em gestão.

Os primeiros tempos não foram fáceis. O rigoroso inverno da cidade impôs um desafio adicional à experiência de estar só, longe da família e dos amigos, sendo ainda tão jovem. “A paisagem branquinha, a neve caindo sem parar e o frio castigando perdem a graça depois de poucos dias”, comenta.

Ainda assim, Priscila estava decidida a tirar o máximo proveito de seu período de estudos no IIT e adquirir conhecimentos aos quais não teria acesso da mesma forma no Brasil, como o aprendizado sobre a importância dos planos de contingência, algo muito forte nos Estados Unidos. Lá aprendeu sobre a importância de antecipar possíveis problemas e agir de forma estratégica diante das adversidades. Um exemplo prático disso foi quando visitou uma empresa que havia enfrentado um ataque cibernético e conseguiu manter suas operações graças a sua preparação.

“Com toda essa experiência, amadureci não apenas profissionalmente, mas também pessoalmente. Aprendi a ser mais autêntica, a valorizar as diferenças culturais e a ter mais empatia. Além disso, pude vivenciar uma maneira de aprender e ensinar muito diferente do que estava acostumada, o que me fez refletir sobre a importância de agregar a prática à teoria na educação”, salienta.

A abordagem de ensino norte-americano, que propõe que os alunos aprendam estudando sozinhos e utilizem as aulas para tirar dúvidas; o contato com professores que, além de excelentes acadêmicos, eram também profissionais do mercado, com experiências práticas a serem compartilhadas; e a metodologia de ensino dinâmica com a qual teve contato despertaram em Priscila o desejo de, um dia, também compartilhar seus conhecimentos na academia como professora. “Explorar novas formas de aprendizado, encarar desafios e lidar com diferentes culturas foram alguns dos pontos altos dessa trajetória. E, acima de tudo, trouxe a certeza de que, no futuro, quero compartilhar essas experiências e inspirar novas gerações com aulas práticas e reais”, conta.

“Trago comigo lições valiosas que pretendo compartilhar no futuro, seja dando aulas ou orientando profissionais em suas carreiras. A experiência no exterior não apenas enriqueceu meu conhecimento profissional, mas também me fez sentir mais conectada com o mundo e pronta para enfrentar qualquer desafio que surgir”, comentou.

 

Maternidade e uma nova visão de mundo

Após sua jornada no exterior, Priscila retornou para a Fitesa, onde está há 13 anos. Tendo passado por diversas áreas, atualmente é supervisora comercial.  Nesse meio tempo, concluiu dois MBAs e, há três anos, decidiu ser mãe. Hoje, a pequena Valentina, de dois anos, preenche todos os espaços que antes ficavam livres na agenda.

Equilibrar os compromissos da maternidade com uma carreira que demanda viagens constantes tem sido um grande desafio. “Enfrentei momentos de julgamento e choro, mas entendi que muitas mães passam por situações similares. Ficar cinco dias longe de uma criança de dois anos é difícil, mas sou profissional, engravidei quando decidi ser mãe, e já fazia parte da equipe comercial. Lembro da minha primeira viagem no retorno da licença maternidade. Chorei daqui até Buenos Aires, por uma hora e meia, me sentindo a pior mãe do mundo porque estava deixando um bebê de seis meses em casa. O que eu estava fazendo? Mas temos que nos adaptar, e meu marido me apoia e participa bastante”, salienta.

Para Priscila, a maternidade passou por uma transformação significativa nas últimas décadas. “O interessante é como hoje falamos melhor sobre a maternidade. Antes, era vista como uma obrigação, uma experiência fácil e sem problemas. Mas a realidade não é um mar de rosas. É maravilhosa, sim, mas requer um amor tão imenso que compense todo o trabalho árduo de ser mãe. Aqui na Fitesa recebo muito apoio, o que é ótimo. Por exemplo, numa viagem, minha filha foi internada e tive que comunicar a meu chefe, dizendo que precisava voltar. Por coincidência, ele também estava passando pela mesma situação, pois sua filha foi internada no mesmo dia. Foi reconfortante ver que ele compreendia o que eu estava enfrentando”, lembra.

Priscila diz que perceber o maior envolvimento dos homens na paternidade e maternidade, vendo pais assumindo tarefas antes relegadas apenas às mães, como acompanhar a adaptação dos filhos nas escolas, levar a médicos e participar de eventos importantes na vida deles é encorajador. “Esse movimento em direção à igualdade de gênero é inspirador e molda a forma como encaramos os desafios da maternidade e do mercado de trabalho”, comenta.

Para ela, quando um casal se equilibra no cuidado com os filhos, isso reflete também no equilíbrio dentro das empresas. “Essa mudança de mentalidade e de atitudes em relação à coparentalidade também se reflete no ambiente de trabalho. A igualdade nos cuidados com os filhos e na criação das crianças está se tornando uma realidade cada vez mais presente nas empresas. Ainda assim, existem desafios a serem enfrentados pelas mulheres, que ainda ocupam menos cargos de liderança do que os homens”, frisa.

Ela reconhece que a vida nem sempre segue o planejado, mas aprendeu a aceitar as imperfeições e a ter a flexibilidade necessária. Um dos desafios que enfrenta é lidar com possíveis traumas e educar à distância, questões que nem sempre são previsíveis. Por exemplo, às vezes a filha fica chateada quando está ausente e se recusa a falar com ela. “Isso é algo com que não contava, mas encaro como mais uma dificuldade a ser superada”.

Priscila conta que um dos principais aprendizados da maternidade passa pela gestão do próprio tempo. “Hoje me sinto mais produtiva, pois preciso entregar mais em menos tempo já que quero limitar o horário de trabalho para o trabalho e o horário off para a minha filha. Eu sempre me considerei produtiva, mas antes de ser mãe, eu não me importava em estender o horário no escritório. Hoje isso me custa mais e por isso me esforço ao máximo para evitar essa prática. Alinhado a isso, a priorização se tornou algo essencial no trabalho. Foco no que é importante e delego o que pode ser delegado”.

Perguntada sobre a melhor parte de ser mãe, lhe faltam palavras para dimensionar o que sente. “Difícil responder isso, pois é um sentimento único. O amor de mãe pelo filho é algo muito especial e indescritível”.

3.5.2024

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