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Tudo é possível | Como sair da zona de conforto nos leva a lugares inimagináveis, Por Alex Anton*

Estágio na Alemanha, MBA em Harvard, trabalho em três continentes, e até um sabático em Bali, um sonho antigo: aos 41 anos, Alex Anton fez do mundo a sua casa. De volta a sua Florianópolis natal depois de quase 300 dias fora de casa, Alex conta neste depoimento, escrito no último mês do sabático em Bali, como sair de sua cidade – e de sua zona de conforto – foi essencial para o desenvolvimento pessoal e profissional. A busca constante por conhecimento através das bolsas de estudo e experiências internacionais teve seus momentos de incerteza, mas o tornou mais resiliente, criativo, autoconfiante e, definitivamente, cidadão do mundo.

Tudo é possível | Como sair da zona de conforto nos leva a lugares inimagináveis, Por Alex Anton*
Celebrando o Nyepi, o ano novo balinês, na Marigold Community Learning, a escola frequentada pelas crianças em Bali. Março de 2024.

Curiosidade sempre foi uma característica forte da minha personalidade. Acho que foi por isso que, aos 18 anos, devorei um livro que narrava as aventuras de um jovem gaúcho que rodou o mundo com a grana curta e muito espírito aventureiro. O livro era enxuto, porém recheado de histórias que me fizeram acreditar que algo tão inusitado para a minha realidade da época era possível. Era 2001, e eu estava apenas no segundo ano da faculdade na minha linda Florianópolis. Como largar tudo e viajar era inviável, fui atrás de oportunidades que combinassem crescimento profissional, uma frente sempre muito importante para mim, com a expansão dos meus horizontes pessoais. Queria aprender para minha carreira, mas, acima de tudo, queria aprender para a vida. Floripa era linda, mas eu me sentia, literalmente, ilhado. Eu queria mais, e fui atrás. Depois de muito suor, veio a sonhada bolsa de estudos para a realização de um estágio científico em Potsdam, na Alemanha. Em 2003 eu parti sozinho pela primeira vez e essa foi a experiência formativa que definiu muito do que aconteceria depois.

Na Alemanha, aos 20 anos, eu não tinha rótulos e precisava me provar do zero, tendo pouco domínio do inglês e quase nada do alemão. Foi o tipo de experiência que me fez perceber o quanto eu ainda precisava crescer e aprender para viver a vida internacional que eu tanto sonhava. Tiveram momentos de incerteza sobre meu próprio potencial, mas ter superado cada um dos pequenos desafios do dia a dia, desde fazer novas amizades até trabalhar duro e provar o meu valor para receber um convite para voltar futuramente, me fez acreditar que eu conseguiria ir muito além, e me provocou para ir atrás de oportunidades cada vez mais transformadoras.

De volta ao Brasil, eu já não era o mesmo. Enquanto meus colegas de faculdade buscavam empregos, eu estava de olho em como conseguir uma bolsa de estudos para cursar um mestrado fora do Brasil. Bom, eu acredito que tudo em que colocamos nossa energia expande, e foi isso que aconteceu. Em 2006 eu me mudo para o Canadá, orgulhoso e temeroso do desafio de completar um mestrado acadêmico na Universidade de Manitoba, em Winnipeg, no meio do país. O Canadá me recebeu muito bem, me senti bem-vindo e sou muito grato pela generosa bolsa de estudos que me concederam. Eu me beliscava para acreditar, porque no Brasil os recursos disponíveis para bolsa de estudos para mestrado no exterior eram praticamente inexistentes na época, e o Canadá estava me pagando para crescer e aprender. Foi uma experiência e tanto, marcada pelos invernos de 40 graus negativos e a solidão que me assombrou nos seus 8 longos meses de duração, e o apoio de amigos, professores e colegas queridos que se tornaram família. Apesar de difícil do ponto de vista pessoal, meus dois anos de mestrado no Canadá me abriram portas jamais imagináveis: nesta altura, eu estava apaixonado pelo mundo e não queria voltar ao Brasil tão cedo. Buscava oportunidades profissionais de primeira linha e em 2009 iniciei minha carreira como trainee internacional da Nestlé, na Suíça. Com 26 anos eu me sentia cidadão do mundo, e aquele sentimento era libertador: estava confortável para conectar, trabalhar e co-criar com gente de qualquer lugar do planeta; eu sabia que sempre daria certo, era só ter paciência, abrir um sorriso e dar o meu melhor.

Com minha querida orientadora de mestrado, Dr. Susan Arntfield, na Universidade de Manitoba, Canadá, Agosto de 2007.

 

A ideia deste texto não é que ele seja uma autobiografia, mas sim uma narrativa que usa experiências diretas para defender a riqueza que existe quando largamos nossa zona de conforto e nos jogamos no mundo. Durante meus três anos de Nestlé na Suíça, tive o privilégio de liderar um projeto importante na Indonésia, país que passei a frequentar intensamente e a apreciar. Foi na Indonésia que percebi o quanto sou apaixonado pelo mundo dos negócios e decidi aplicar para cursar um MBA de primeira linha. Naquele momento, eu tinha experiências profissionais sólidas, mas pouca vivência com o mundo dos negócios, e enxergava o MBA como um caminho claro. Foram alguns meses de estudos para o GMAT, preparo de redações, cartas de recomendação e momentos de introspecção para conectar os pontos. No final de 2010, recebi a ligação do admissions officer da Harvard Business School me informando que havia sido aprovado para a turma que começaria em 2011. Minhas mãos tremiam, a voz gaguejava e os olhos lacrimejavam naquele momento. Com o auxílio generoso do Instituto Ling e da Brazilian-American Chamber of Commerce (BACC), embarquei para Boston em julho de 2011, e em maio de 2013 recebi o canudo desta tão sonhada instituição.

Harvard não foi apenas a catalisadora de uma mudança de carreira, mas de uma mudança de vida: expandi possibilidades profissionais como jamais havia concebido. Como projeto pós-MBA, em 2013 iniciei as operações da Easy Taxi em Kuala Lumpur, na Malásia, que me fez perceber o quanto gosto do ambiente dinâmico das startups e empresas de tech. Depois, mergulhei no mundo de consultoria estratégica com a McKinsey&Company em São Paulo, e na sequência entrei para o universo em que me encontro hoje e do qual sou devoto: operação e investimentos em startups e empresas de tecnologia de alto crescimento. Nada disso teria acontecido sem aquele primeiro estágio em Potsdam, que me fez acreditar que tudo é possível.

Hoje, escrevo este artigo de Bali, Indonésia. Estou de volta ao país que vivenciei profissionalmente em 2009 e 2010, mas num contexto completamente diferente. Agora, vivo uma volta ao mundo de 10 meses com minha esposa e meus dois filhos, a Aisha (8) e o Kai (6). Nosso objetivo é mostrar para as crianças como o mundo é lindo e repleto de possibilidades, e como as experiências fora da nossa zona de conforto nos tornam mais criativos, resilientes e autoconfiantes, trazendo um senso de protagonismo na autoria das nossas histórias. Que privilégio poder ensinar isso na prática. Não é só “faça o que eu digo", é “faça o que eu faço", aprendendo através de experiências diretas nas salas de aula das diferentes escolas que já passaram aqui em Bali e, o mais importante, na escola da vida. Estamos oferecendo aos nossos filhos um pouquinho do que vivemos na nossa juventude e, em contrapartida, respirando o senso de descoberta através do olhar deles, como se fosse nossa primeira vez. Em paralelo, tenho ajudado empreendedores, empresas e investidores, alavancando os meus aprendizados através de mentorias e consultorias. Me sinto um nômade digital, só que aos 41 anos e com filhos. Tudo é possível, não é mesmo?

 

*Alex possui 20 anos de carreira, sendo 10 deles no ecossistema tech e de Venture Capital da América Latina, onde foi estrategista chefe do iFood, empreendedor em residência na Kaszek Ventures (o maior fundo de VC da região), e sócio do Global Founders Capital (GFC) para a América Latina por 4 anos, onde investiu em mais de 80 startups o montante somado de +$210M (mais de R$1B).

Alex é Bioquímico formado pela UFSC e MBA pela Harvard Business School, quando em 2011 foi agraciado com a Bolsa Start MBA do Instituto Ling e com o Person of the Year Fellowship.

Conecte-se aqui: LinkedIn, Substack

3.5.2024

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