Paixão pelas possibilidades do Jornalismo: uma conversa com o mineiro Guilherme Ibraim
Guilherme Ibraim somava 10 anos como jornalista em Belo Horizonte em uma carreira sólida e plena de realizações. Até ser indicado ao programa Jornalista de Visão e selecionado, em 2018, e ver seu horizonte expandir de uma forma que transformou os passos seguintes. Aprovado para cursar um MBA no IE Business School, em Madri (Espanha), partiu para estudar Comunicação e Marketing, enfrentando desafios como a pandemia e a distância da esposa e da família. Hoje, aos 38 anos, de volta à cidade que ama, é editor de conteúdo de política no jornal O Tempo.
A principal inspiração para aceitar o desafio e se aventurar nos estudos no exterior foi o irmão de Guilherme, seis anos mais novo, formado em Geografia e de perfil desbravador. Desde a graduação, as experiências internacionais levaram o irmão pesquisador para lugares como Holanda, pelo Ciências sem Fronteiras, e Estônia, para um mestrado.
— Sempre vi o quanto essa bagagem era importante para a vida dele — narra Guilherme, nascido em Contagem (MG). — É uma figura de referência de vida para mim, de como vê o mundo e os horizontes de maneira ampla.
Não deixa de ser um contraste com o estilo de vida dos pais dos meninos, servidores públicos, agora aposentados, que desfrutavam de estabilidade e faziam o jornalista desejar a segurança que já tinha na carreira, mesmo que não fosse em empresa pública.
Guilherme traz este contexto para destacar o quanto foi desafiador participar da seleção para o programa Jornalista de Visão naquele ano. Sempre gostou de estudar, tanto que após se formar em Jornalismo pela Centro Universitário UniBH, também havia cursado o mestrado anos antes pela PUC-BH (Pontifícia Universidade Católica de Belo Horizonte), em Comunicação Social com ênfase em interações midiáticas. A linha de pesquisa se deu na área de política, analisando campanha eleitoral, comportamento eleitoral, discurso político e midiático. Estava contente com todas suas realizações até aquela etapa de vida.
— Jamais imaginava que ainda teria a oportunidade de uma experiência internacional, mas achava fascinante. Não iria me candidatar do nada a qualquer tipo de bolsa porque tinha 34 anos, já estava casado, havia concluído o mestrado, meu emprego era o melhor cargo possível dentro do meu objetivo na empresa e estava planejando ter filhos também — recorda. — Ou seja, não tinha nenhum motivo aparente para sair de onde estava — recorda o jornalista, que até então havia trabalhado em jornal impresso e rádio, tanto como repórter como chefe de reportagem e âncora.
Porém, como se diz popularmente, a vida não está nem aí para o seu planejamento. Um amigo jornalista - Júlio Lubianco - que havia sido bolsista do Instituto Ling, também atuando pela CBN, onde Guilherme trabalhava na rádio, indicou seu nome para o processo seletivo. Agradecido pela lembrança, Guilherme pensou que talvez não tivesse chance para concorrer, mesmo reunindo as competências necessárias. Mas como não havia nada a perder, decidiu participar das dinâmicas. E mesmo sem saber se seria aprovado, a própria experiência já foi transformadora: “abriu um portal”, em suas próprias palavras.
— Comecei com poucas expectativas, vendo tantos colegas de veículos grandes e de grandes cidades. Então entendi que o desafio é você com você mesmo, ou eu comigo mesmo, no caso. Quando iniciaram os debates, percebi que estava competindo de igual para igual. Foi uma grande conquista pessoal e profissional.
Logo, ao receber a notícia por telefone da contemplação da bolsa, já estava ao lado da esposa, a também jornalista Aline Aguiar, aguardando o resultado. Imediatamente ela comentou: “Então você vai!”. A partir daí ambos partiram para a comemoração e o planejamento. Aline não iria viajar junto, pois sua carreira estava em contínuo crescimento. Fariam uma pausa no plano de terem filhos, já que o curso no exterior teria duração de um ano. Sabendo que voltaria com novas perspectivas, Guilherme decidiu sair em comum acordo com a empresa.
— Achava importante fazer um desenlace para dar este salto. Pensei assim: “vamos ver o que o mundo tem além”, já que a bolsa estava me proporcionando esta oportunidade.
Decisão que hoje sabe ter sido a mais acertada.
— De fato, vi outro mundo que eu não imaginava a essa altura da carreira. Decidi manter as perspectivas bem abertas e abraçar as chances que chegavam.
Hora de decidir entre países de língua inglesa ou espanhola, dado que o jornalista dominava ambos os idiomas. A Espanha, então, o encantou quando tomou conhecimento do programa do IE Business School e suas ofertas de cursos, especialmente o núcleo de Human Science and Technology, pela parte comportamental. Entendeu que havia chegado a hora de se atualizar além do Jornalismo para outras habilidades, como marketing, comunicação pública e áreas correlatas, ampliando as possibilidades de trabalhar em outros ambientes de mercado. “Um olhar para o futuro”, resumiu.
Em setembro de 2019, partiu para a aventura além-mar, vivendo o dia a dia de estudante de Marketing na cosmopolita Madri, com dezenas de colegas de nacionalidades diferentes e backgrounds distintos, “desde os mais humildes até herdeira de reis, tudo que você possa imaginar”, comenta Guilherme. A esposa chegou a conseguir ir visitar por três ocasiões, mas quando a pandemia estourou em 2020 tudo mudou de proporção. Nos países da Europa, o lockdown foi extremamente rigoroso no início: o jornalista ficou mais de dois meses completamente fechado no apartamento que dividia com outros estudantes, ficaram apenas ele e um colega chileno. Os demais haviam voltado a seus países.
— Foi um período muito difícil, pois em uma sexta-feira estávamos todos juntos à espera do final de semana de folga e, na segunda-feira, o país quase fechando e todos partindo. Decidi ficar para não levar o vírus para o Brasil, para minha família; resolvi esperar para ver as coisas melhorarem.
Como sabemos, ainda demorou para melhorar. Guilherme recorda que morava de frente para dois hotéis e diariamente via sacos pretos sendo retirados em macas, indicativos da gravidade da pandemia em Madri à época. Sem a certeza de que a universidade iria reabrir para aulas presenciais, logo que foi possível (em junho de 2020), o jornalista voltou ao Brasil para concluir o curso com aulas online.
O grande aprendizado que o curso trouxe à carreira, além das habilidades técnicas, veio de dentro para fora:
— Saí de lá sabedor do quanto tenho potencialidades e capacidades. É um ganho humano para além da experiência técnica de aprender marketing e comunicação corporativa. Tenho a confiança de que é possível, com dedicação, preparação e qualificação.
No primeiro momento, ao concluir a pós-graduação, exercitou na prática o que viu na teoria. Também concluiu um curso mais instrumental de Gestão de Projetos na Fundação Getúlio Vargas e trabalhou com branding em uma empresa de saúde e depois em uma agência de comunicação com clientes das áreas de tecnologia e saúde. Mas logo foi picado novamente pelo bichinho do Jornalismo e voltou a fazer conteúdo. Primeiro para a Fundação de Desenvolvimento e Pesquisa de Belo Horizonte e depois trabalhando em veículos, da Sempre Editora, que edita o jornal O TEMPO, onde havia iniciado a carreira.
Hoje de volta à rádio, empresta sua imponente voz como âncora do principal jornal da empresa, com um bloco específico de coluna política, entrevistando políticos locais e nacionais, desde Bolsonaro e Lula até ministros, deputados, senadores, e nomes do mercado econômico. A empresa que idealizou ao voltar da Espanha, focada em comunicação e marketing, por enquanto ficará em stand by até a hora oportuna chegar.
— Jornalismo ainda me dá muito gás. Gosto de atuar com pautas de relevância social, levando o máximo de informação que eu consiga obter de quem às vezes não quer dizer muita coisa. É nosso papel social, e hoje me sinto muito mais maduro para fazer isso.
E lembra do plano adiado de ter filhos? Pois o primogênito, Otto, está completando um ano agora em novembro, “uma experiência absolutamente ímpar, que toma conta da gente como um todo”, em suas palavras. Guilherme e Aline também estarão envolvidos, além da comemoração do aniversário de Otto, neste mês da consciência negra, com as conversas promovidas pelo Coletivo Lena Santos, formado por jornalistas negros da cidade, cujo objetivo é aumentar a presença de profissionais negros no mercado da Comunicação no Brasil.