• início
  • blog
  • Jornalismo
  • Raquel Salgado: jornalismo focado em negócios de impacto e iniciativas sustentáveis

Raquel Salgado: jornalismo focado em negócios de impacto e iniciativas sustentáveis

Após 12 anos como repórter e editora, Raquel Salgado promoveu uma transição de carreira para colaborar com o mercado de Comunicação do ponto de vista de negócios. O mestrado em Mídia, Estratégia e Liderança na Northwestern University foi o pontapé para a mudança, com o objetivo de unir a experiência de jornalista com a visão comercial. Agora empreende como sócia do Reset, veículo digital independente, focado em aprofundar o debate sobre boas práticas ESG, repensando o papel das empresas e propondo uma postura mais consciente em relação à sociedade e ao ambiente.

Raquel Salgado: jornalismo focado em negócios de impacto e iniciativas sustentáveis

Apaixonada por Comunicação, Raquel cursou Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero (São Paulo) de 2001 a 2004. Recém-formada, começou a atuar como repórter no Valor Econômico, depois passando para a reportagem da revista Veja e para a edição na revista Época. Assim, acumulou experiência na cobertura de temas de economia e negócios. E por dominar tanto estes assuntos é que tinha uma visão mais ampla, além das pautas que escrevia. Inquieta, questionava o momento delicado que os veículos de imprensa viviam. 

– Na Comunicação, seguimos como princípio a divisão “entre Igreja e Estado”, como costumamos chamar, ou seja, separar o editorial do comercial e vice-versa. Mas passei a sentir muita vontade de entender melhor os modelos de negócios de veículos, as formas de monetização, o que estava sendo criado de interessante nessa área – conta Raquel.

Essa curiosidade saiu do campo das ideias e foi colocada na prática quando seu então chefe a indicou para o programa Jornalista de Visão. Após ser aprovada no processo seletivo, em 2011, Raquel encontrou uma possibilidade de curso de pós-graduação que trazia o match perfeito que buscava, uma combinação de negócios e comunicação. 

O conteúdo de aulas no mestrado em Mídia, Estratégia e Liderança contemplava tópicos que o jornalismo tradicional (ainda) não abraçava, como marketing de conteúdo, modelos de negócios de mídia ou construção de audiências, com professores especializados e muita interdisciplinaridade para dar conta dos tópicos.

– Era uma época em que ainda nem se falava em marketing de influência, de produção de conteúdo digital como conhecemos hoje, com cases de novos produtos e possibilidades de monetização. Foi um ano para abrir os horizontes, ampliar a visão muito além dos muros da redação mesmo – conta Raquel.

O ano de estudos na Medill School de Northwestern University, de 2013 a 2014, foi complementado pela vivência na riquíssima cena cultural de Chicago, onde Raquel e o marido moraram naquele período, a uma hora de distância do campus da universidade em Evanston.

 

Virada de chave no mesmo mercado

De volta ao Brasil, como colocar em prática tudo que se viu por lá? Primeiro, um pouco de paciência para recalcular a rota, com o apoio de um coaching para desenhar as possibilidades de transição de carreira. Também o primeiro filho chegou nesse momento, deixando claro que, no retorno da licença-maternidade, já seria hora dos novos rumos profissionais. E assim Raquel teve outra experiência como jornalista no surgimento de um novo veículo, o Brazil Journal, em 2016, pensando o modelo de negócios junto ao fundador.

Em seguida, recebeu o convite para estruturar o crescimento do Jota, startup de jornalismo,  comandando os times de pré-vendas, vendas e customer success. Deu-se a virada de chave de repórter para o lugar de executiva de comunicação, olhando a empreitada jornalística com o objetivo de fazer prosperar. O Jota havia sido criado há dois anos, em 2014, quando Raquel chegou ao time. O foco do conteúdo era uma nova forma de cobrir as instituições públicas brasileiras. E o foco de Raquel era contribuir para o negócio ser financeiramente sustentável. 

– Consegui fazer a transição que eu queria, sair da redação e continuar dentro do Jornalismo, contribuindo para o crescimento de uma empresa jornalística. É um diferencial ter alguém que entende de fazer conteúdo, mas também quer monetizar esse conteúdo. Vivi uma super experiência aplicando na prática o que tinha visto no mestrado – resume Raquel. 

O amor pela escrita continuou existindo de outra forma, unido a outra paixão: o balé. Durante 24 anos, Raquel foi bailarina. Para não perder o contato com a dança, seguiu escrevendo eventualmente para o jornal Valor Econômico sobre notícias relacionadas ao universo do balé. Inclusive, Raquel credita à dança aprendizados importantes como resiliência e disciplina, além da busca pela excelência e uma constante dedicação, habilidades necessárias para o sucesso em qualquer área. 

 

Reinício com propósito ambiental e social

Bailarina, mãe, jornalista, executiva e também agora assina como empreendedora. Desde o fim de 2021, Raquel é sócia e diretora de negócios do Reset, veículo de jornalismo digital e independente dedicado a cobrir negócios sustentáveis e inclusivos. O Reset traz matérias em profundidade destacando de forma crítica empresas e investimentos que buscam soluções para desafios ambientais e sociais. O nome do projeto faz alusão a um “reset” (reinício) necessário, na visão das fundadoras, para a transformação do capitalismo como o conhecemos. 

– Temos uma bandeira muito clara. Acreditamos que o capitalismo é um sistema que foi vencedor, mas que precisa ser reformado; se o dinheiro não mudar de direção, se não for rumo a uma economia mais limpa e uma sociedade mais diversa, não chegaremos onde precisamos no futuro – define Raquel.

“Acreditamos no poder do capital como motor das transformações e no papel do jornalismo como catalisador do debate”, conforme a apresentação do site. E faz bem para todos essa postura de repensar o mercado: empresas que adotam boas práticas ESG tendem a ter menor custo de capital, atrair os melhores funcionários, estão menos propensas a perder relevância num mercado dinâmico e mais preparadas para enfrentar cenários adversos.

As duas sócias-fundadoras, as jornalistas Vanessa Adachi e Natalia Viri, atuam na área do conteúdo, produzido sempre do ponto de vista do impacto ambiental, social e governança. Em todas as matérias há esse direcionamento. Se até pouco tempo atrás não se falava nestes assuntos em pautas de economia, negócios e finanças, agora é fundamental abordar tópicos de ESG. Raquel explica como funciona na prática:

– É como usar um novo óculos, enxergar por uma nova lente, e aí passar a olhar o mundo com essa visão. Se for uma empresa de joias, como são produzidas? De onde vem o ouro? A empresa rastreia essa cadeia? É um olhar para o negócio e para o impacto dessa empresa no mundo, o que está sendo feito ou não para resolver tais questões – destaca Raquel.

Também não basta falar do meio ambiente e deixar de lado a diversidade, já que o social impacta da mesma forma o mundo que vivemos. E então os repórteres que o Reset está treinando vão atrás de respostas como número de mulheres na empresa e nos cargos de direção ou pessoas ocupando vagas afirmativas. 

– Lembro que nos tempos de repórter, as entrevistas eram feitas só com homens brancos, por exemplo. Algo que nos incomodava, mas ninguém olhava a fundo para isso. Aqui, hoje em dia, estamos sempre de olho. Esse é um jornalismo muito desafiador  – destaca Raquel.  – Como a Vanessa e a Natalia dizem, “cada matéria é um MBA”.

E sem medo também de “colocar o dedo na ferida”, como ressalta a diretora de negócios, ou de recusar parcerias comerciais com empresas que não estejam alinhadas aos valores essenciais da Reset. Pois entre os principais insumos está a credibilidade do veículo e a independência editorial, e não publicidade a qualquer custo. Quem faz esse papel de gatekeeper é a própria Raquel, buscando parcerias comprometidas com o mesmo propósito. 

Por toda sua experiência nestas áreas, Raquel é procurada por empreendedores iniciantes ou colegas que querem aprender também a pensar negócios de Comunicação de forma estratégica. A diretora de negócios, que integra a Ajor (Associação de Jornalismo Digital) considera essas mentorias como seu “pro-bono”, auxiliando quem tem dúvidas como monetização da produção de conteúdo ou estruturação de crescimento do negócio. 

 

VIDA PESSOAL

Em paralelo à carreira nova sendo construída, a chegada dos filhos também colaborou para deixar a visão de mundo e futuro ainda mais clara. Aos 41 anos, Raquel é mãe dos pitocos João, 8 anos, e José Carlos, prestes a fazer 4. Empreender e maternar trouxe o foco diário para o que realmente importa.

– A maternidade ensina a não perder tempo com o que não é importante. Me motivou a trabalhar com coisas que realmente valem a pena – afirma. – Quando olho para trás, nem consigo lembrar o que fazia com tanto tempo livre antes de ter filhos – brinca.

Lembrando da trajetória até chegar aqui, é com orgulho que constata ter cumprido o objetivo que sonhava nos essays ao concorrer às bolsas das universidades ou nas entrevistas de seleção. 

–  Ter um propósito claro é muito importante: é um vetor de mudança. “Quero voltar ao Brasil”, como tantas vezes escrevi ou falei, “para ajudar o jornalismo do meu país”. E agora olho para trás e penso: nossa, eu consegui fazer isso! –  comemora.

leia também

O Oriente Médio pelos olhos do jornalista Diogo Bercito

Especialista em Oriente Médio, Diogo Rodrigues Bercito, 36 anos, é interessado no tema desde antes do diploma de jornalista pela Casper Líbero. Em 2011, já estava posicionado na Folha de São Paulo como especialista e, tendo conhecimentos de hebraico e árabe, aos 24 anos se tornou correspondente internacional em Jerusalém e, a seguir, em Madri. Ao ser contemplado com bolsa do programa Jornalista de Visão em 2016, aprofundou seus conhecimentos no tema com um mestrado em Estudos Árabes, na Universidade de Georgetown, a mesma onde agora está na reta final do doutorado em História do Oriente Médio.  Hoje, trilha uma carreira multidisciplinar: é jornalista, autor dos livros “Vou Sumir Quando a Vela Se Apagar” e “Brimos”, historiador e acadêmico. Sua trajetória inclui ainda trabalhos como freelancer em veículos como o Daily Star (Líbano) e Haaretz (Israel) e textos para HQs “Remy” e “Rasga-Mortalhas” Em bate-papo com o blog, ele compartilha momentos marcantes da carreira e fala sobre a experiência de exercer o jornalismo em territórios conflagrados.

Ler mais

Jornalismo e tecnologia andam juntos – conheça Natália Mazotte

Natália Mazotte (JV 2017) decidiu ser jornalista a partir da vontade de narrar histórias, mas foi seu encantamento pela tecnologia que determinou os rumos de sua trajetória. Co-fundadora da Escola de Dados no Brasil e da publicação Gênero e Número, Natália foi uma das pioneiras no jornalismo de dados no país. Com a carreira consolidada em veículos de imprensa, organizações do terceiro setor e também na academia, precisou se adaptar ao mundo corporativo em 2022 quando juntou-se ao time da Google. Hoje, à frente da área de relacionamento com a indústria jornalística, usa a experiência adquirida ao longo dos anos para impulsionar novos veículos, contribuindo para o fortalecimento da imprensa brasileira.

Ler mais

Anna Virginia Balloussier: religião também é notícia

A carioca Anna Virginia Ballousier (JV 2013) sempre soube que o jornalismo era sua vocação. O que ela não imaginava é que, ao ser escalada para acompanhar cultos religiosos durante uma cobertura das eleições presidenciais de 2010, estava se tornando pioneira no tratamento dado a temas ligados à religião. Hoje referência nacional na área, traz na bagagem um período de estudos na Universidade de Columbia e, além de jornalista, é autora de livros. Há pouco, lançou sua segunda obra, “O Púlpito”, em que propõe um novo olhar sobre os assim chamados crentes e sua fé.

Ler mais