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Executivo de finanças, criador de plataforma social, cidadão do mundo: a trajetória global de Mateus Almeida

Ao reler os textos que escreveu  quando se candidatou ao MBA, o gaúcho Mateus Almeida constata que atingiu seus objetivos: fazer a diferença na área de finanças, contribuir para a sociedade como um cidadão do mundo. Hoje em Hong Kong como CFO (Country Finance Officer) do banco Citi para os países do norte da Ásia e Austrália, faz um balanço bem-sucedida carreira financeira em vários países e cargos, onde aplicou o conhecimento adquirido no MBA na Universidade do Texas (2005). O que Mateus não previu é que a retribuição à sociedade iria além do usual apoio a entidades: devido a uma situação familiar, hoje coordena, ao lado da esposa Bianca, o Conexão Alimentar, plataforma de informações sobre alergia alimentar para conectar famílias brasileiras.

Executivo de finanças, criador de plataforma social, cidadão do mundo: a trajetória global de Mateus Almeida

Natural de Porto Alegre (RS) e crescido em Estância Velha, Mateus sempre soube que queria ser empresário. Inclusive ao contar para os pais, ambos bancários, sobre o desejo de cursar Administração de Empresas não ouviu muito incentivo imediato, mas logo entenderam que ali residia o talento do filho. A ironia do destino é que o jovem entrou na Universidade Federal do Rio Grande do Sul acreditando que ficaria longe de instituições bancárias como o serviço público estável dos pais, mas a habilidade com números logo provou que a ênfase em Finanças era seu caminho. 

Da época de universidade, duas lembranças se destacam. A primeira é o tempo dedicado à empresa júnior da UFRGS, criando projetos de consultoria para pequenos negócios, área interessante para abrir novas perspectivas. A segunda foi a execução de um projeto pessoal de estudar fora do Brasil, o sonho de ser cidadão do mundo, a aspiração que sempre nutriu. Ficou um ano planejando a viagem, algo distante de sua realidade financeira, e finalmente concretizado nas férias. A sementinha daquele mês de curso de inglês na Inglaterra seguido por um mochilão na Europa seguiu dando frutos até as etapas seguintes de sua vida.

Na Fitesa, empresa fabricante de nãotecidos em Gravataí (RS), ingressou como estagiário e ficou por seis anos em diversos cargos, sempre em ascensão. Essa primeira experiência profissional trouxe grandes aprendizados. 

 — Diariamente no trabalho eu via na prática o cuidado com a disciplina, a competência, no ambiente de trabalho. Foi um período importante para encontrar mentores, profissionais sênior que foram modelo para mim e me ajudaram a me guiar.

 Inclusive um destes encontros despertou a chama para estudar um Master of Business Administration no exterior. Estava com 27 anos, formado há quatro anos, e havia direcionado a carreira para a área financeira, tendo experiências com Comércio Exterior, importação e planejamento financeiro.

— Meu primeiro pensamento foi de que aquilo seria muito distante da minha realidade. Mas então pesquisei e comecei a achar que seria viável. Na própria empresa, tive muita flexibilidade e apoio para estudar, recebi muito suporte e incentivo. E da minha parte, chamo de resiliência: eu sabia muito bem o que queria. Meu objetivo era passar, então usei todos os recursos que estavam disponíveis, como estudar à noite, no almoço, fora do trabalho, até ser aprovado —  conta Mateus sobre as provas do TOEFL e do GMAT.

Aprovado em duas universidades, escolheu ir para a Texas McCombs School of Business por ter um forte programa em finanças e empreendedorismo. Para financiar os dois anos de curso, inscreveu-se para o programa de bolsas do Instituto Ling.

Mateus recorda que se identificou muito com o processo seletivo, carregando até hoje consigo valores como a valorização da educação e a reciprocidade, ou seja, retribuir as oportunidades recebidas em sua terra. Ao reler os essays (ensaios), as redações para a inscrição nos programas, fica emocionado ao ver que realizou todas as suas aspirações ali descritas, especialmente a convicção de que o MBA ajudaria a trilhar a trajetória de carreira em grandes corporações.

A então namorada que havia ficado no Brasil tornou-se esposa no segundo ano da pós-graduação e, juntos, abraçaram o plano de cidadãos globais. Para isso, o casal Mateus e Bianca se dedicou a aperfeiçoar ainda mais a língua inglesa, com uma disciplina que envolvia falar inglês até com os amigos brasileiros e treinar pronúncia com aulas particulares. Tanta dedicação obviamente foi recompensada: Mateus conta que, em determinado momento, passou a se sentir muito mais confortável trabalhando fora da língua materna, inclusive.

Encerrado o MBA em 2005, surgiu a oportunidade de participar do programa de desenvolvimento de lideranças do Citi, instituição onde o executivo está até hoje. A primeira parada foi em Nova York, para onde se mudaram “de mala e cuia”, como dizem os gaúchos. Sair de Estância Velha com seus 42 mil habitantes para Austin e seus 300 mil moradores e depois para a Capital financeira do mundo, a Grande Maçã, foi a realização do sonho, agora com Mateus como analista de planejamento financeiro em NY e depois atuando em praticamente todos os negócios do Citi do ponto de vista global na função de planejamento financeiro.

Passada a crise financeira global de 2008/2009, marcante em diversos aspectos e com muitas incertezas, restou o aprendizado por conta das oportunidades de reestruturação de negócios, entre outros desafios. Pouco depois, em 2011, o casal se muda para Londres, onde Mateus assume a área de planejamento financeiro para Europa, Oriente Médio e África de uma das unidades do Citi Holdings. Bianca estava grávida do primogênito, Lucas, que nasceu na capital britânica naquele ano. E aqui a vida pessoal pede licença na narrativa. 

 À época da introdução alimentar, os pais de primeira viagem descobriram que o bebê era anafilático, ou seja, tinha severas alergias alimentares. Uma primeira crise os levou direto para o atendimento de emergência. Mateus e Bianca nunca tinham ouvido falar no assunto e a ausência de informações no sistema público de saúde britânico, em formato tão diferente do que conheciam no Brasil ou nos EUA, tampouco colaborava para trazer tranquilidade.

Ao final de dois anos por lá, em 2013, o Citi promove o executivo a head global da área de planejamento financeiro, e então a família volta a Nova York, onde ficam até 2016, quando é promovido a CFO global de Citi Holdings. Em 2017 Mateus recebe a responsabilidade de CFO do Citi Brasil, ajudando a gerenciar a venda dos negócios de varejo do Citi no Brasil. E de volta ao país natal, vivendo em São Paulo, aproveita a oportunidade para retribuir as oportunidades recebidas, agora na questão social. 

— Motivado por tudo o que vimos lá fora, entendi que efetivamente poderia fazer a diferença nesse sentido e engajar. Naquele período, mais do que dobramos os investimentos em obras sociais e instituições sem fins lucrativos do Citi Brasil nesse período. Também assumi o posto de co-coordenador do setor de disabilities (PCD), uma experiência transformadora, a chance de me conectar com o país e contribuir com a sociedade. É com muito orgulho que falo isso — conta Mateus.

Nos três anos e meio morando no Brasil é que se consolidou a ideia de ajudar outras famílias com alergias alimentares. Em Londres e Nova York, Bianca Kirchner já estava em contato com outras mães que também se desdobravam para cuidar das refeições potencialmente alérgicas, bem como a questão da caneta de adrenalina, carregada para todos os lugares para uso em emergências. Disposta a reunir ainda mais informações e ajudar outras famílias, surgiu o Conexão Alimentar, uma OSC (organização da sociedade civil) para conectar pessoas vivendo o mesmo desafio.

— Ouvíamos histórias de reações bem graves por desinformação ou falhas de comunicação, por exemplo a nutricionista da escola que muda a receita do lanche e não comunica a ninguém. E isso pode ter efeitos graves em quem tem alergias — explica Bianca, citando um exemplo cotidiano. — Tendo contato com outras realidades, percebemos que se estava difícil para nossa família, que tem acesso e instrução, imagina para outras pessoas. A gente se deu conta de que compartilhar o que sabíamos poderia ajudar muita gente.

No Brasil não existe a comercialização da caneta de adrenalina; no site do Conexão Alimentar, Bianca compartilha o passo a passo para a importação, entre outros atalhos para tornar a vida mais fácil. Além disso, a realização de eventos para conectar presencialmente as famílias também é uma das iniciativas, como o primeiro deles feito em São Paulo este ano. Outras ações como campanhas de conscientização sobre alergia alimentar ou movimentos como a “abóbora azul” no Halloween, incentivando a doação de itens não comestíveis, integram o projeto.

— Percebemos que informar e dividir conhecimento empodera as pessoas. Todo mundo pode levar uma vida normal e fazer uso da informação de maneira correta. Ouvir o feedback dos pais e das mães que foram ajudados pelo Conexão é muito emocionante, como a mãe de uma criança que criou coragem para ir à escola pedir que o filho seja incluído nas festividades, com alimentação inclusiva adaptada — exemplifica Bianca, a diretora da Conexão.

Depois de passar três anos e meio no Brasil, a família agora ampliada mudou-se para Hong Kong, onde Mateus é CFO do Citi para Hong Kon, China, Coreia, Taiwan, Austrália e Nova Zelândia.

Os filhos Lucas, 12 anos, e Felipe, de 7 anos, adoram chimarrão e ouvem música tradicionalista, herança do gosto dos pais, além do mais velho também curtir ouvir Engenheiros do Havaí. Já estão super adaptados à perspectiva globalizada de viver em outros países, aprendendo a cultura de cada localidade e seguindo o plano de também serem cidadãos do mundo. 

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