Prédio do Instituto Ling: Um marco da arquitetura em solo gaúcho
Em 31 de outubro de 2014 abriu as portas, acolhendo toda a comunidade, o centro cultural Instituto Ling. O espaço, desde então, promove atividades culturais como cursos, palestras, teatro, música, cinema, literatura, artes visuais e gastronomia, entre outros.
Mas a sua história começou duas décadas antes. O casal Sheun Ming Ling e Lydia Wong Ling, vindos da China e influenciados pelo confucionismo, que preza pelo valor da reciprocidade, queria uma forma de retribuir à comunidade brasileira. A maneira encontrada foi criar bolsas de estudo e investir em jovens promissores de diversas áreas do conhecimento. Surgiu então um projeto que, desde 1995, proporciona a profissionais de todas as partes do Brasil a oportunidade de viver e estudar em importantes universidades dos Estados Unidos e Europa possibilitando não apenas o crescimento individual destes cidadãos, mas alavancando também o poder de empreender, inovar e gerir de forma eficiente, promovendo transformação na sociedade brasileira.
EXPANSÃO DO CONHECIMENTO
Enquanto ampliava o programa de bolsas de estudo, surgiu na família Ling a vontade de expandir sua atuação dentro da área da cultura, arte e conhecimento. A inspiração veio de centros culturais como a Casa do Saber, que promovem cursos, palestras e debates em áreas como a literatura, filosofia, arte, literatura, ciência e psicologia.
Por volta de 2006 a família deu início à procura do espaço para o centro cultural, até que apareceu a oportunidade de comprar uma casa no bairro Três Figueiras, em uma área bem residencial. Enquanto planejavam a parte estratégica deste novo desafio e escolhiam o arquiteto ideal para criar o projeto, surgiu a oportunidade de comprar um terreno ao lado daquele já adquirido - e assim, sem planejamento prévio, o Instituto Ling praticamente dobrou em tamanho mesmo antes de ser desenhado.
ISAY WEINFELD
A vontade da família, que tem em seu núcleo uma artista plástica Sandra Ling e um arquiteto e filho de Sandra, Anthony, era de criar um espaço com arquitetura contemporânea e minimalista. O arquiteto escolhido por eles para liderar o projeto foi o paulista Isay Weinfeld, cujo vasto portfólio de criações, com visão arrojada e moderna, agradou a família Ling. Profissional requisitado, Weinfeld tem entre as suas criações hotéis para o Grupo Fasano e também projetos em países como Sérvia, Mônaco e Uruguai.
Foto: Isay Weinfeld.
A família já cultivava um relacionamento com ele e compartilhavam a visão de criar um espaço acolhedor, confortável e que desse a sensação de estar em casa. Com isso em mente, começaram os estudos e esboços para criar um projeto que valorizasse não apenas a localização do terreno, mas aproveitasse ao máximo a luz natural, valorizando também o paisagismo e criando peças versáteis para abrigar uma gama muito diversa de atividades.
Naquela época, Anthony Ling, neto dos fundadores, estudava arquitetura e acompanhou de perto a escolha do profissional e também todo o desenvolvimento teórico e prático da obra.
ESPAÇO MÚLTIPLO
Se a ideia inicial era ter um espaço pequeno para receber palestras e cursos, com a ampliação de área adquirida o projeto cresceu. O Instituto Ling foi concebido para receber eventos de diversos formatos, ganhou também uma galeria para exposições de arte, um café e até mesmo uma loja de design/artesanato. Existe ainda uma cozinha completa, que além de dar suporte aos eventos, é palco de cursos de gastronomia. Demais salas multiuso abrigam cursos, treinamentos e palestras. Há ainda um auditório para 89 pessoas que recebe espetáculos de música, teatro, cinema e outras atividades.
Foto: Lounge e galeria do Instituto Ling. Créditos: Carlos Stein/Viva Foto.
PEDRAS PELO CAMINHO
Enquanto ainda estava no papel, o projeto foi desenhado e pensado por muitos profissionais. Houve sempre a preocupação de utilizar ao máximo a luz natural, além de respeitar os aspectos naturais do terreno. Todos os revestimentos escolhidos são à prova de fogo – uma exigência da Lei Kiss – e foi criado um estacionamento, que funciona no subsolo.
Na primeira etapa da construção, já se depararam com um grande problema – o terreno tinha uma enorme quantidade de pedras. Muitas delas não puderam ser removidas com bate-estacas e foram retiradas manualmente, num incrível esforço e investimento, para que então pudessem colocar as fundações.
TIJOLO SOBRE TIJOLO
Enquanto as obras progrediam, pequenos problemas surgiram – como, em geral, acontece em todas obras dessa magnitude. As esquadrias foram importadas, pois não havia no Brasil da maneira que o projeto exigia. O terreno irregular trazia por si só alguns desafios, inclusive na questão paisagista. Sandra Ling assumiu a árdua tarefa de usar a parte verde para não apenas nivelar partes do terreno, mas também valorizá-lo. Tanto no jardim que abraça a fachada, quanto na área livre que fica aos fundos do prédio, os desenhos verdes criados por Sandra trazem beleza e harmonia, abraçando o prédio de forma harmoniosa.
Na parte interna, foi adotado um visual minimalista, que não é fácil de ser implementado na prática. Era necessário esconder pequenos detalhes, como tomadas, rodapés e ar condicionado para manter o visual limpo que todos desejavam. Na fachada, a ideia era criar uma transparência, para que as pessoas pudessem ver, de fora, um pouco do que acontece lá dentro. Este objetivo foi alcançado ao criar uma estrutura de vidro e metal.
Foto: Fachada do Instituto Ling. Créditos: Leonardo Finotti.
VERSATILIDADE
Desde o início a família tinha a preocupação de que o Instituto Ling tivesse autonomia financeira. Ou seja, suas atividades teriam que pagar seus custos de manutenção. Com isso em mente, todos os espaços precisavam ser versáteis – e por essa razão, todas as peças têm isolamento de som e trilhos de iluminação, por exemplo. Além disso, espaços como a cozinha têm espera para projetores. Essa versatilidade é muito útil no dia a dia do centro cultural. O café já foi locado para saraus, encontros familiares e shows. O hall de entrada já recebeu coquetéis e até mesmo lançamento de livros. As três salas do subsolo têm uma gama imensa de utilidades. Por lá já passaram festas, treinamentos, feiras e eventos de diversas naturezas. Até mesmo a cozinha é multiuso: além de dar suporte aos eventos, recebe aulas e cursos, sendo uma espécie de laboratório gastronômico.
AMOR PELA ARTE
O Instituto Ling respira arte. Além da galeria localizada no andar térreo, existem várias obras de arte expostas em salas e corredores do centro cultural. Estas obras, de artistas como Vik Muniz, Dudi Maia Rosa, Cristina Canale, Walmor Correa, Ivan Serpa, Siron Franco e Karin Lambrecht, fazem parte do acervo pessoal da família Ling.
Imagem: Encontro, de Karin Lambrecth, 2013.