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QUESTÕES DE GÊNERO EM FOCO NO TRABALHO DA CARTUNISTA E ESCRITORA BRUNA MAIA

Natural de Rio Grande, RS, e radicada em São Paulo, Bruna (JV 2012) se destaca na internet por suas criações em tom sarcástico e cheias de ironia. A bolsista foi selecionada em 2012 pelo programa Jornalista de Visão e embarcou para Madri, na Espanha, para cursar mestrado em Jornalismo Digital. Atualmente concilia projetos na Comunicação com o trabalho na área artística.

QUESTÕES DE GÊNERO EM FOCO NO TRABALHO DA CARTUNISTA E ESCRITORA BRUNA MAIA

Aos 36 anos, é extensa a lista de tudo o que faz e já fez, como se o dia tivesse mais do que 24 horas. Escreve livros, roteiros e colunas, ministra cursos, desenha, pinta, estuda, vive bem informada, presente nas redes sociais e encontra tempo para combater o patriarcado.

Aqui, vamos compartilhar um recorte do que Bruna vê, ouve, lê, pensa e produz, já sabendo que muita coisa acaba ficando de fora (e por isso é altamente recomendável que você a siga em seus canais oficiais, como o @dabrunamaia no Instagram e no Twitter, inclusive para bater um papo). 

A carreira até ser Jornalista de Visão

A decisão de cursar Comunicação foi natural para a aluna que tirava ótimas notas em todas as matérias do colégio e entendeu que o Jornalismo seria uma área interessante para quem “gostava de tudo”. Durante o curso na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, concluído em 2008, cogitou seguir na área de Cultura, mas foi o noticiário de Economia que a atraiu por ser complexo. 

“Nas primeiras vezes que lia, não entendia nada. Pensava assim: ‘por que um assunto tão importante é escrito de um jeito tão enigmático?’. Não à toa fiz meu TCC - trabalho de conclusão de curso - sobre a Economia no Jornal Nacional, abordada de um jeito fácil de compreender”, explica.

Desde então Bruna se especializou na área, emendando uma oportunidade na outra. Atuou na produção do Canal Rural, na redação do site do jornal Zero Hora e na revista Capital Aberto, onde ganhou prêmios por suas reportagens. De 2011 em diante, passou a cobrir uma ampla variedade de questões dentro do mercado de capitais.

O objetivo em todas estas posições sempre foi o mesmo: escrever de forma clara. A ida para São Paulo se deu um pouco antes, quando entrou para o prestigiado curso intensivo de Jornalismo Aplicado do Estadão. Por lá conheceu o jornalista Alexandre Gonçalves, que naquele ano recebeu a bolsa do Instituto Ling como Jornalista de Visão. Na seleção seguinte do mesmo programa, o colega de profissão indicou Bruna, que partiu para a Espanha por 10 meses para cursar o mestrado em Jornalismo Digital na IE Business School.

O período vivido em Madri trouxe os aprendizados técnicos da pós-gradução e também vivências multiculturais, além de deixar o inglês e o espanhol ainda mais afiados. Ao retornar ao Brasil, tornou-se correspondente internacional da agência Mergermarket, escrevendo matérias sobre  empresas privadas e de capital aberto nos setores de consumo, construção, manufatura e tecnologia.

O início na arte: o cotidiano como matéria-prima

A vida pessoal sofreu um abalo em 2017: um desequilíbrio psiquiátrico, como Bruna fala abertamente, sem papas na língua. Durante o acompanhamento para cuidar da saúde mental, recebeu o conselho médico que transformou tudo o que viria depois: era preciso mexer o corpo, ocupar as mãos, para lidar com a ansiedade. Assim entrou o desenho na rotina, como um hobby-terapia, sem nenhuma pretensão a não ser desopilar. E a arte passou a fazer parte definitiva de todos os seus dias. 

Por um tempo conseguiu conciliar o emprego de jornalista com os outros projetos artísticos, mas em dado momento sentiu que o ciclo na agência havia se encerrado. Hora de empreender e viver de arte no Brasil, o que sabemos que é um enorme desafio - duplamente. 

“São áreas em que o privilégio conta muito, tanto a arte quanto o empreendedorismo. Você só pode se permitir viver ambos sem se preocupar se for herdeiro. No meu caso, é um trajeto muito complicado: não sou herdeira e sou mulher. Mulheres artistas foram invisibilizadas ao longo da história. Há muito machismo. E no empreendedorismo também”. 

Não é à toa que seu material criativo sempre aborda questões de gênero e críticas a este machismo estrutural de forma sarcástica, ácida e cheia de ironia. Os temas estão presentes desde os primeiros cartoons, que antes eram publicados sob o codinome @estarmorta (perfil que ainda existe como backup de conteúdos). Esta produção em quadrinhos foi compilada na obra "Parece que Piorou" (Companhia das Letras), com humor inspirado em dilemas do cotidiano.

Mais focada no resultado da criação do que no traço, Bruna ensina outros interessados na arte do cartoon a criarem suas próprias histórias digitais, as webHQs, como na oficina ministrada no ano passado no Instituto Ling, em Porto Alegre, e outras edições. Também 2022 foi o ano de sua primeira exposição: em “Loca; Inestable”, a artista protesta contra o estigma atrelado a pessoas neurodivergentes. A mostra levou pinturas e tirinhas feitas em caneta nanquim, marcadores e tinta acrílica à na 9ª Arte Galeria, na Rua Augusta, em São Paulo, além de uma diversidade de autorretratos nus pintados a guache.

Lembra que falamos que o dia parece ter mais de 24 horas? Pois também um primeiro romance surgiu e foi lançado com ótima repercussão. "Com Todo o Meu Rancor", publicado pela Editora Rocco, narra a jornada de autodescobrimento de uma mulher saindo do papel de vítima de um relacionamento tóxico e reagindo em busca de vingança contra o ex-namorado. 

“Os feedbacks mais legais que recebo é quando algum leitor comenta que leu rapidamente, leu em um ou dois dias, algo catártico. É um excelente elogio para mim. Porque vejo por mim: se estou demorando muito para ler alguma coisa é porque não está bom, tem algo de errado”, opina.

Neste ano, Bruna também passou a assinar como colunista na coluna X de Sexo na seção F5 da Folha. E o jornalismo também continua, entre uma coisa e outra, como freelancer. 

Indicações culturais para consumir a qualquer tempo

Pedimos a Bruna que compartilhasse indicações de referências interessantes para serem consumidas não só neste chamado Mês da Mulher, mas a qualquer tempo e por qualquer público. Suas escolhas ecléticas vão de música a filmes, passando por podcasts e vídeos que valem o seu tempo.

Para ler
“A Amiga Genial”, “História do Novo Sobrenome”, “História de Quem Vai e de Quem Fica” e “A Menina Perdida”, que formam a tetralogia napolitana da Elena Ferrante, “o Dostoievski da nossa geração”, nos comentários de Bruna.
E também: o livro “Canção de Ninar”, um terror/suspense que traz os desafios da maternidade com recorte social. Por fim, uma história em quadrinhos chamada “A Origem do Mundo”, Liv Stromquist, “para homens que querem entender as mulheres”, reforça a cartunista.

Para assistir
Maratonar o canal do youtuber Thiago Guimarães, Ora Thiago, “que faz as análises mais profundas de cultura pop e comportamento”, afirma.
Na HBO Max, o seriado “I may destroy you”, uma comédia dramática britânica na qual a roteirista Michaela Coel “mostra de forma didática anos de elaborações sobre consentimento”
“A vida dos outros”, um filme sobre a Alemanha ocidental e oriental, focado na liberdade de expressão
Por fim, para entender o papel do jornalismo, o filme “Spotlight” (2015).

Para ouvir
Todas as edições do podcast “O Assunto”, agora apresentado pela jornalista Natuza Nery.
Músicas da Fiona Apple, “uma das maiores poetas vivas”, na opinião de Bruna.

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