Informação do texto ao áudio: Rodrigo Vizeu e a revolução dos podcasts

Bolsista da terceira turma do Programa Jornalista de Visão, Rodrigo Vizeu foi pioneiro na popularização dos podcasts jornalísticos no Brasil. Responsável pela criação do Presidente da Semana e do Café da Manhã, parceria entre Spotify e Folha de S.Paulo, em 2019 ele se tornou o primeiro editor de Podcasts do jornal. Mais de uma década depois de retornar do mestrado em ciência política cursado na Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III, França, e desembarcar direto na redação da Folha de S.Paulo, em 2020 o jornalista passou para o outro lado do balcão. Hoje, lidera a área de parcerias de conteúdo do Spotify no Brasil – sem deixar toda a bagagem de repórter e editor de lado.

Informação do texto ao áudio: Rodrigo Vizeu e a revolução dos podcasts

Nascido e criado em Belém, Rodrigo deixou a capital paraense jovem para cursar audiovisual na Universidade de Brasília, mas logo no início do curso descobriu uma paixão pelo jornalismo, em especial o político, e mudou de direção. Começou sua carreira na sucursal de O Globo na capital federal, partindo pouco depois para São Paulo após ser selecionado como trainee da Folha, aos 23 anos, em 2009.

A atuação na Folha rendeu a ele uma indicação para participar da seleção do programa Jornalista de Visão em 2012, resultando em uma bolsa para iniciar no mesmo ano a pós-graduação em ciência política na Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III, concluída em 2014.

Da experiência do mestrado na França, saiu com interesse renovado na cobertura de política, não apenas brasileira, mas internacional. “A grande contribuição do programa é uma ampliação de perspectivas. O mestrado me deu mais maturidade profissional e intelectual”, define.

Mais de uma década depois de retornar do mestrado na França e desembarcar direto na redação da Folha de S.Paulo, o jornalista Rodrigo Vizeu passou para o outro lado do balcão. Hoje, lidera a área de parcerias de conteúdo do Spotify no Brasil – sem deixar toda a bagagem de repórter e editor de lado.

 

Dominando a caneta e o microfone

Quando retornou da França, Rodrigo passou de repórter para editor-assistente da seção internacional da Folha. Pouco depois passou ao mesmo cargo, e depois a editor-adjunto, na editoria de política. Acompanhou anos movimentados de 2015 a 2017 na política brasileira, e começou a pensar em como traduzir os acontecimentos para um novo formato jornalístico.

A ideia de criar um podcast do zero surgiu durante um período de respiro na rotina frenética da redação: “Em 2017, minha esposa, então namorada, foi selecionada na Folha para uma bolsa Knight-Wallace para estudar jornalismo na Universidade de Michigan. Acabei por tirar uma licença para ir junto”, lembra.

Aproveitou a temporada nos Estados Unidos para aprender mais sobre o universo do jornalismo em áudio, voltando com um projeto para sugerir à Folha.

Ele retornou ao Brasil, e o projeto não só foi aprovado pela direção do jornal como conquistou uma legião de fãs. O podcast Presidente da Semana foi lançado em 2018, em uma série de 29 episódios que cobrem a história de todos os presidentes brasileiros, de Deodoro da Fonseca até Bolsonaro, recém-eleito à época.

“Até então, a imprensa não tinha dedicado um olhar aos podcasts. O Presidente da Semana também foi feito no estilo guerrilha, mas caiu muito nas graças de professores, alunos que estudavam para o ENEM, um público jovem”.

No ano seguinte, o conteúdo que partiu do roteiro em texto para os ouvidos do público fez o caminho inverso, e foi transformado em um livro lançado pela editora HarperCollins. “Como experiência pessoal e profissional, nada foi tão incrível quanto o Presidente da Semana. Foi um projeto autoral, e me encontrei nesse papel de divulgação histórica, em que explicamos as coisas dando um passo atrás”, celebra Rodrigo.

 

O foco no jornalismo diário – agora em áudio

O próximo passo do jornalista foi um salto bastante grande: a criação do Café da Manhã, podcast diário original do Spotify produzido pela Folha. O conteúdo conquistou o público, que passou a incluir as notícias em áudio em sua rotina.

Mesmo que a forma de trazer as informações fosse nova, Rodrigo já tinha na bagagem uma carga de conhecimento para capacitá-lo para o desafio. “No jornalismo aprendi a apurar, entrevistar, a escrever e, acima de tudo, a ter curiosidade pelas coisas e pelas pessoas. No mestrado, tive oportunidade de me aprofundar na ciência política, e essa experiência me deu mais repertório para analisar a realidade”, resume.

Desde o lançamento, em janeiro de 2019, o Café da Manhã acumula quase 120 milhões de streamings. “O Café da Manhã abriu caminho para outros podcasts noticiosos diários e gerou até um novo cargo na Folha”. De editor-adjunto de Política, Rodrigo se tornou o editor de Podcasts do jornal.

Junto da jornalista Magê Flores, apresentou o podcast até junho de 2020, quando assumiu o cargo de Senior Content Producer no Spotify.

A nova etapa surgiu do desejo pessoal de unir informação e estratégia corporativa. “Meu DNA é o conteúdo, o roteiro, o jornalismo. Mas tinha interesse de trabalhar com uma empresa de caráter global e ir além do conteúdo, me envolvendo com os objetivos estratégicos de uma empresa”.

 

De volta aos roteiros

Em 2022, ele teve a oportunidade de voltar a colocar a mão na massa – ou melhor, no roteiro e no microfone – novamente, dessa vez com o podcast Passado a Quente. A série documental, um original do Spotify, foi publicada como um especial do Café da Manhã, e destrinchou os principais acontecimentos da política brasileira, de 2013 a 2022.

A experiência foi de retornar aos primeiros episódios desenvolvidos por Rodrigo em sua carreira, mas agora com mais recursos e experiência. “A série é uma espécie de sucessora mais ambiciosa do Presidente da Semana. No Presidente da Semana, cada episódio ouviu um especialista. Nesta série também ouvimos os personagens da notícia”.

Alguns dos entrevistados pelo microfone de Rodrigo ao longo dos 11 episódios foram Sergio Moro, Marina Silva, Michel Temer e Gleisi Hoffmann. A equipe de produção viajou para Brasília e para o Rio de Janeiro para retomar de perto as reviravoltas da década.

“Os episódios estão entre os mais consumidos do Café da Manhã. Mais importante que audiência, porém, foi oferecer aos ouvintes um conteúdo com muito aprofundamento e pesquisa para explicar anos tão complexos da história do Brasil e do mundo”.

E o projeto não deixou de lado um dos princípios do cotidiano jornalístico: relatar a história enquanto ela acontece. O Passado a Quente foi lançado em 2022, antes das eleições presidenciais, e incluiu um episódio especial após o resultado das apurações e da posse presidencial.

 

Qualificando o jornalismo com os podcasts

De 2019 a 2025, muito já mudou no cenário brasileiro de jornalismo em áudio. Mas o legado de quem abriu caminho para novas propostas noticiosas segue como parte marcante dos podcasts mais recentes. “Hoje, o podcast se tornou algo mainstream, consumido e compreendido por muita gente. Fico feliz de ter feito e de ainda fazer parte desse movimento”, avalia Rodrigo. O formato também conquistou os mais jovens ao unir áudio e vídeo, aproximando essa faixa etária do jornalismo.

A partir de setembro de 2023, Rodrigo passou a ocupar o cargo de Content Partnerships Lead no escritório brasileiro do Spotify. Como responsável pela gestão das parcerias entre veículos de comunicação brasileiros que publicam podcasts e o Spotify, Rodrigo se vê no meio de uma relação que ajudou a criar no país.

Para o jornalista, o formato do podcast resume bem a tendência multiplataforma da imprensa mundial. “É mais uma frente para o jornalismo brasileiro levar à população informações e análises apuradas, com cuidado e profissionalismo, algo central para a qualidade do debate público”, pontua.

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