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Jornalista e professor, Alexandre Gonçalves se dedica a pesquisar novos cenários da mídia

A formação híbrida em Jornalismo e Ciências da Computação trouxe um olhar multidisciplinar de grande potencial para o pesquisador Alexandre Gonçalves, bolsista do Jornalista de Visão em 2011. Aprovado em impressionantes 11 dos 12 mestrados a que se candidatou em universidades americanas, decidiu cursar a pós-graduação no MIT (Massachusetts Institute of Technology), referência em inovação em ciência e tecnologia. Apaixonado por estudar as interações humanas mediadas digitalmente, dedicou os últimos anos a lecionar Comunicação e concluir seu doutorado na Columbia University, com tese que deve ser publicada como livro em breve. 

Jornalista e professor, Alexandre Gonçalves se dedica a pesquisar novos cenários da mídia

Hoje, aos 42 anos, o pesquisador recorda que a vontade de estudar no Exterior surgiu quando trabalhava como repórter de Ciências no jornal O Estado de S. Paulo. Naquela época, teve a primeira experiência como professor dando aula de jornalismo científico no Curso Estadão de Jornalismo, o famoso “curso focas”, jargão para jornalistas iniciantes na profissão. Percebeu o quanto gostava de compartilhar conhecimento e decidiu se aprimorar ainda mais.

O histórico acadêmico já era um diferencial: antes do bacharelado em Jornalismo na Faculdade Cásper Libero (de 2004 a 2007), Alexandre havia se formado em Ciências da Computação pela Universidade Estadual de Campinas, de 1999 a 2002. Chegou a trabalhar por cinco anos como desenvolvedor de software antes de migrar para a Comunicação Social. O reconhecimento vindo com o prêmio Jornalista de Visão do Instituto Ling permitiu realizar o plano da pós-graduação no Exterior.

– Lembro até hoje que estava cobrindo o encontro da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) em Goiânia quando recebi a ligação do Instituto Ling comunicando a bolsa, fiquei extremamente feliz – recorda Alexandre. 

O passo seguinte era procurar os programas de mestrado que desejava cursar. E o jornalista não poupou esforços, atingindo um feito admirável: enviou sua inscrição, a famosa “application”, para 12 universidades americanas; foi admitido em 11. Com tantas opções disponíveis, escolheu a que mais se encaixava em seu perfil de inovação e tecnologia, o renomado Massachusetts Institute of Technology (MIT), em Cambridge, Massachusetts.

Passou a integrar o laboratório que trabalhava com o uso de novas mídias para a promoção da democracia, o então Center for Civic Media. Por dois anos, trabalhou diretamente com o diretor do centro, Ethan Zuckerman, uma referência na área. Em 2014, concluiu o mestrado em estudos comparativos de mídia com uma dissertação sobre a cobertura midiática dos “rolezinhos” — flashmobs em shopping centers organizados por jovens da periferia em 2013 e 2014. 

Olhando para trás, quase 10 anos após o início da vida acadêmica no Exterior, sua primeira experiência fora do Brasil, Alexandre recorda as principais conquistas e também as dificuldades nos primeiros tempos. O inglês era uma das principais questões para desenvolver, especialmente em uma área como a Comunicação que exige expressão social a todo tempo.

– Quando não se tem domínio de um idioma, você fala como se fosse uma criança. O vocabulário é restrito e isso gera aflição. Na sua mente, você tem uma ideia que é complexa e que demanda uma quantidade infinita de nuances, mas não consegue se expressar porque faltam palavras – recorda.

Sua grande vantagem não só no começo, mas durante toda a jornada, era a linguagem universal da programação, extremamente útil no contexto do MIT.

–  É uma comunidade pequena e que valoriza muito a tecnologia; o mestrado neste grupo tinha 8 alunos e, da minha turma, eu era o que mais entendia de desenvolvimento de software, sabia como implementar as coisas. Foi um período de muitos projetos simultâneos – relata.

Um dos projetos, por exemplo, chamava-se Promise Tracker (rastreador de promessas), com o objetivo de monitorar promessas de candidatos políticos eleitos. O aplicativo de celular era de uso coletivo, ou seja, alimentado pela comunidade, para documentar os compromissos assumidos até que fossem cumpridos. Com o fim do Center for Civic Media, este projeto migrou para a USP - Universidade de São Paulo, estando em uso até os dias de hoje.

Logo após o mestrado, Alexandre emendou a seleção para o doutorado na Columbia University, iniciado em 2014. Aliás, parênteses: assim como na época do mestrado, foi aprovado para o PhD em 5 das 6 universidades para as quais se inscreveu.

– Estando imerso na cultura americana, entendi como funcionam as applications, quais têm mais chance de aprovação, desde o personal statement até as cartas de recomendação – revela.

Ao longo dos últimos anos, seguiu atuando em projetos na intersecção da tecnologia e do jornalismo, especialmente em dois centros de pesquisas na Columbia Journalism School: o Tow Center for Digital Journalism e o Brown Institute for Media Innovation, uma parceria da Columbia com a escola de Engenharia de Stanford. No Tow, predominaram as pesquisas sobre consumo de mídia digital. No Brown, colaborou com diversos projetos, entre eles uma ferramenta para abrir os dados orçamentários do Departamento de Defesa americano e uma plataforma de Inteligência Artificial para uso em redações de jornal de pequeno porte, o Local News Lab.

Em sua trajetória de pesquisador, Alexandre também sempre se interessou por estudos relacionados a como democratizar a mídia – ou como a mídia é usada para fortalecer a democracia. Não fugiu ao seu propósito ao escolher o tema da tese de doutorado, defendido no ano passado. “O papel das mídias sociais na ascensão da nova direita brasileira”, já foi escrito como se fosse livro, mas com profundo trabalho acadêmico. O texto enfoca o papel dos intelectuais públicos, ativistas e outros empreendedores culturais que abriram caminho para a vitória de Bolsonaro no Brasil em 2018, analisando suas práticas de comunicação e modelos de negócios. Agora, o próximo passo é oferecer a obra para editoras de universidades americanas, pois várias contam com selos especializados em América Latina.

Alexandre agora dedica-se a formar jornalistas e a pesquisar o impacto social das novas mídias. Ele divide sua vida entre o Brasil e os Estados Unidos. Lá, ele é professor assistente de jornalismo na University of Illinois at Urbana-Champaign. Aqui, ele faz parte do corpo docente do curso Master em Negócios de Mídia para editores e diretores de empresas jornalísticas, no núcleo de Comunicação da ISE Business School, em São Paulo. A vocação para dar aulas é a grande motivação mesmo em um mercado de crise mundial como o Jornalismo tradicional.

 – É gratificante ensinar e compartilhar, ter o contato humano com os alunos, além do impacto de estar formando profissionais que vão estar realizando esse mesmo tipo de trabalho no futuro, ou seja, tem um efeito multiplicador que recompensa demais  – conclui.

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