Uma bolsa para formar lideranças na área de Urbanismo – Entrevista com Anthony Ling
Em 2024, o Instituto Ling passou a oferecer bolsa de estudo em uma nova área, Urbanismo. Chamada de UP (da sigla em inglês Urban Planning), a bolsa para mestrado em Planejamento Urbano foi uma sugestão de um integrante da terceira geração da família Ling, o arquiteto e urbanista Anthony Ling, 37 anos, que também é editor-chefe do Caos Planejado, plataforma de conteúdo dedicada ao tema. Tendo já passado pela experiencia de um MBA na universidade de Stanford, Anthony conversou com o blog sobre estudos no exterior, urbanismo e a importância de capacitar brasileiros em centros de excelência.
- Qual foi o seu objetivo ao cursar o MBA no exterior?
Me formei em arquitetura e urbanismo (na UFRGS) e, depois de alguns anos, saí do trabalho escritório de arquitetura onde eu trabalhava para empreender com uma startup na área de mobilidade. Era um projeto muito a ver com urbanismo, influenciado pelo fato de que eu acompanhava o assunto de mobilidade. Foi mais ou menos nesse período que eu percebi que não voltaria a trabalhar diretamente com arquitetura e vi que faltavam algumas competências na hora de empreender. Achei que o ensino de um MBA poderia me ajudar numa transição, ainda sem ter muito claro o que viria depois, mas me dando o ferramental para aumentar meu leque de opções.
- Quais os principais insights que a experiência de estudar no exterior lhe trouxe?
O que se ganhada experiência é a vivência, são as pessoas que a gente conhece e os lugares que a gente visita. No fim do dia, ajuda em uma reflexão mais abrangente sobre aspirações profissionais, competências e desejos para os próximos anos da vida. Isso porque, normalmente, marca uma transição de carreira, mesmo que dentro de uma mesma empresa ou até dentro de um mesmo cargo. Para mim, ajudou na reflexão de que eu queria voltar para o Brasil e passar a trabalhar com a empresa da minha família. (a holding Évora S/A).
- Como surgiu a ideia de incluir uma bolsa para Planejamento Urbano no portfólio do Instituto Ling?
Essa ideia surgiu com o intuito de expandir o programa de bolsas já existente em mestrados em políticas públicas. O planejamento urbano está diretamente relacionado à implantação de políticas públicas em nível municipal. Além disso, minha participação no Instituto Ling durante o processo seletivo dos programas de bolsas, com minha formação em urbanismo e a rede gerada pelo Caos Planejado na área de planejamento urbano, impulsionaram essa proposta.
As dificuldades diárias que todos enfrentam nas grandes cidades brasileiras mostram que nosso planejamento urbano fica aquém das melhores práticas globais. O Programa Urban Planning surge para capacitar brasileiros nos mais renomados centros de estudos urbanos do mundo. O programa inclui também a área de transportes, abordando em instituições especializadas nessa disciplina.
- O que é o “Caos Planejado” e como a plataforma contribuiu para o desenvolvimento do Programa UP?
“Caos Planejado” é a maior plataforma digital de conteúdo de urbanismo no Brasil, que iniciei dez anos atrás a partir de um blog pessoal sobre o tema. Ao longo dos anos, publicamos centenas de artigos e formamos uma rede nacional de profissionais colaboradores, colunistas e apoiadores, muitos deles com posições de liderança no desenvolvimento urbano brasileiro, como secretários de urbanismo, vereadores e até prefeitos, na qual nosso conteúdo teve grande impacto. Tivemos a oportunidade de acompanhar de perto o debate urbanístico em escala nacional e também internacional na última década. Observamos um avanço no debate científico nas universidades de ponta, principalmente no uso das ferramentas da ciência de dados e da economia urbana no estudo de cidades, e conseguimos identificar quais programas se destacavam neste aspecto. Com o tempo ficou mais tangível desenhar o Programa UP para endereçar o desejo de muitos talentos buscarem um ensino fora do Brasil.
- Você participou do projeto de construção do centro cultural do Instituto Ling. Pode nos contar um pouco a respeito?
O Centro Cultural do Instituto Ling, originalmente, surgiu como um empreendimento que os meus pais, o William e a Sandra, gostariam de fazer ou ter na cidade. Todo o início do desenvolvimento do projeto foi dentro da nossa estirpe familiar: eles, como os proponentes da ideia, e eu, que ainda estava cursando a Faculdade de Arquitetura, dando um apoio no desenvolvimento do projeto. Em 2008, indiquei para eles o nome de seis escritórios de arquitetura de São Paulo, para a gente conhecer e pedir propostas para desenvolver um projeto arquitetônico. Dentro desse processo, o arquiteto Isay Weinfeld foi o escolhido.
A partir de então, eu acompanhei o projeto como uma espécie de arquiteto representante da família, do início ao fim da obra. (Anthony trabalhou no escritório de Isay Weinfeld de 2011 a 2013) No início foi mais um trabalho de acompanhar o desenvolvimento do projeto, entender os desejos inicialmente dos meus pais e depois do Instituto como um todo, e ver se isso estava refletido de fato no projeto. Depois que eu me formei, que a gente começou numa fase de projeto executivo, eu passei a exercer um papel formal no processo de execução, nas compras e contratações de fornecedores, e num estágio mais avançado da obra, ali entre 2013 e 2014, no gerenciamento da obra em si e de fiscalização dos acabamentos. Foi um papel multitarefas ao longo de todo o processo, sendo o representante da família perante a equipe de projeto e execução da obra.
Sobre o UP
O UP - Mestrado em Planejamento Urbano concederá anualmente bolsa de US$ 65 mil para aprovados em mestrados relacionados ao tema em cinco universidades do exterior: NYU, MIT, UCLA, LSE e UC Berkeley. Consulte o site para saber mais.
02.02.2024