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A plenitude do amor sem término em Me Chame Pelo Seu Nome

 

“Eu sabia exatamente que parte o tinha provocado na primeira ocasião, e cada vez que tocava aquela peça o fazia como se fosse um pequeno presente, porque era mesmo dedicada a ele, um símbolo de algo belo que eu sentia e que não seria tão difícil de perceber, e que me incentivava a incluir uma ampla cadência. Só para ele.

Estávamos — e ele deve ter reconhecido os sinais muito antes de mim — flertando.” (trecho do romance Me chame pelo seu nome, de André Aciman)

 

A OBRA

O livro e o filme homônimos contam a história do relacionamento entre dois jovens que passam o verão numa pequena vila italiana e cuja atração crescente acaba nos levando por caminhos inesperados, instigantes e fascinantes. Elio (interpretado pelo encantador Timothée Chalamet), um enérgico rapaz de 17 anos, e Oliver (vivido por Armie Hammer), um universitário estadunidense nos seus vinte e poucos anos, nos convidam a mergulhar num romance fresco como suas juventudes.

A história é narrada em primeira pessoa por Elio, cujo pai é um renomado professor de cultura greco-romana que, todos os anos, durante as férias de verão, recebe um estudante para trabalhar com ele e ficar na companhia de sua família. Oliver é um desses estudantes: arqueólogo e classicista, ele tem habilidades filológicas admiráveis e conhecimento filosófico, lê Stendhal, Heráclito e Heidegger. É fácil entender porquê Elio encanta-se por ele e o livro recorda o amor vivido pelos dois durante as seis semanas em que o jovem americano mora em sua casa. Ao longo de suas páginas é possível descobrir suas angústias com o despertar do desejo, a admiração pela beleza e personalidade de Oliver, que, diferente dele, tem uma postura mais despreocupada e espontânea em relação ao mundo. Elio, na presença do universitário, se sente ouvido de verdade pela primeira vez e eles passam a ser companheiros durante os longos dias de verão, seja passeando de bicicleta, nadando, discutindo música ou filosofia. Tudo relacionado a Oliver durante aquelas semanas passa a ter um novo significado.

 

“Está gravado em cada música que foi sucesso naquele verão, em cada romance que li durante e após sua estadia, em tudo, do cheiro do alecrim em dias quentes ao canto frenético das cigarras à tarde — cheiros e sons com os quais cresci e convivi durante todos os verões anteriores àquele, mas que de repente se transformaram e adquiriram nuances diferentes, para sempre coloridos pelos acontecimentos daquele verão.” (trecho do livro, p.9)

 

No filme, somos engolfados pela atmosfera do diretor Luca Guadagnino que traz para a história de Elio e Oliver um quê de lirismo. Pessoas bonitas vivendo suas vidas e experimentando o que há de melhor na alta burguesia intelectual. A paixão e o drama atravessam suas vidas mas de uma maneira poética: palavras, atos e música cuidadosamente escolhidas; texturas vibrantes e contrastantes que envolvem os personagens — o mármore frio, a maciez de uma fruta suculenta, sombra e luz. É quase como se pudéssemos tocá-los, sentir seus corpos cobertos de verão.

 

 

O diretor Luca Guadagnino e o roteirista James Ivory foram os responsáveis pela adaptação e preferiram fazer algumas alterações no texto original. Ao situar o longa em 1983, acabam evitando que a atmosfera idílica do filme seja perturbada pelo contexto social retratado no livro: a onda conservadora desencadeada por Margaret Thatcher (Reino Unido) e Ronald Reagan (Estados Unidos) e a pandemia da AIDS que transformou-se numa arma política para estigmatizar as relações homossexuais.

A beleza de Me Chame pelo Seu Nome mora na plenitude do amor sem término, já que não enfrenta o dia a dia dos relacionamentos e seus conflitos. Ambos sabem que tem apenas aquele verão e isso não é um problema. O filme opta por terminar no momento em que Oliver informa Elio que está de casamento marcado e conversam sobre o sentimento genuíno que experimentaram juntos. No livro, a história avança até o reencontro dos personagens já mais velhos, quando eles falam sobre suas vidas depois daquele verão — não que não tenham vivido outros amores, mas o afeto entre eles resistiu ao tempo.

 

“... até que disse: — Me chame pelo seu nome e eu vou chamar você pelo meu.

Era algo que eu nunca tinha feito na vida e, assim que disse meu próprio nome como se fosse dele, fui levado a um domínio que nunca tinha compartilhado com ninguém, e que não compartilhei desde então.” (trecho do livro, p.118)

 

O AUTOR

André Aciman nasceu no ano de 1951, em Alexandria, no Egito. Criado em uma família de origem judaica, sua casa vivia rodeada de múltiplas culturas e comunicavam-se em francês, italiano, grego e árabe. Sua família foi expulsa do Egito e buscaram exílio na Itália, onde viveram por algum tempo, e depois mudaram-se para os Estados Unidos. Aciman estudou Literatura Comparada em Harvard e chegou a ser professor de literatura francesa.

Atualmente, trabalha como ensaísta, romancista e pesquisador, tendo como campo de pesquisa a literatura do século XVI. Também leciona no The Graduate Center, em Nova York. Publica obras de não ficção, como Out of Egypt (1994), e destaca-se pelos romances mais recentes, como Me chame pelo seu nome (2007) — que recebeu o prêmio de literatura LGBTQI+ mais importante do mundo, o Lambda Literary Award for Men's Fiction —, Variações Enigma (2018) e Me encontre (2019).

 

CURIOSIDADES

Uma sequência do filme com o elenco principal já foi confirmada pelo diretor Luca Guadagnino. 

O filme recebeu 4 indicações ao Oscar em 2018, nas categorias: Melhor Filme, Melhor Ator (Timothée Chalamet), Melhor Canção Original (Mystery of Love, de Sufjan Stevens) e Melhor Roteiro Adaptado (James Ivory), na qual venceu a estatueta.

 

DICAS DO LING

 

REFERÊNCIAS

ACIMAN, André. Me Chame Pelo Seu Nome. Edição digital 2018, Editora Intrínseca. Disponível em: https://lelivros.love/book/baixar-livro-me-chame-pelo-seu-nome-andre-aciman-em-pdf-epub-mobi-ou-ler-online/#tab-additional_information

BRADSHAW, Peter. Crítica do The Guardian. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/entrevista-andre-aciman-me-chame-pelo-seu-nome/

BRODY, Richard. Crítica do New Yorker. Disponível em: https://www.newyorker.com/culture/richard-brody/the-empty-sanitized-intimacy-of-call-me-by-your-name

DARGIS, Manohla. Crítica do The New York Times. Disponível em: https://www.nytimes.com/2017/11/22/movies/call-me-by-your-name-review-armie-hammer.html?auth=login-google

GRADESAVER. Resumo do livro Me Chame Pelo Seu Nome. Disponível em: https://www.gradesaver.com/call-me-by-your-name/study-guide/summary

MARTÍNEZ, Beatriz. Crítica do El País. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/17/cultura/1516227848_567076.html