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Advogado com atuação internacional, Bruno Becker abraça a causa da diversidade

Vida pessoal e profissional se entrelaçam na história do gaúcho Bruno Bastos Becker. A decisão de cursar Direito na UFRGS levou o advogado a seguir na carreira acadêmica com mestrado e doutorado em paralelo ao mercado. Aprovado na Yale University para um ano de LL.M. (Master of Law), encontrou na experiência fora do Brasil o autoconhecimento para “sair do armário”, em suas palavras. Desde então, a causa LGBTQIAPN+ não saiu do seu radar, conectada à atuação profissional, como hoje na Abbott Laboratories, em Chicago, onde é líder global do grupo Pride Network.

Advogado com atuação internacional, Bruno Becker abraça a causa da diversidade

Se hoje aos 38 anos Bruno é apaixonado pela advocacia, na adolescência demorou a descobrir qual seria seu caminho profissional. O amor pela música — tocava flauta e saxofone — e pelas artes — cogitava ser arquiteto — seguiu como hobby. Chegou a experimentar alguns semestres de Publicidade e Biblioteconomia antes da decisão final. Foram três anos buscando a aprovação no disputado curso de Direito diurno da UFRGS, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, até que no derradeiro vestibular veio a aprovação em primeiro lugar.

O fato de ter começado a faculdade quatro anos após o previsto trouxe a maturidade como vantagem. Trazendo já na bagagem a experiência de agitar no grêmio estudantil do colégio em Porto Alegre, engajou-se em grupos de extensão na faculdade. Junto a colegas criou um grupo de estudos liberais (NEDEP — Núcleo de Extensão em Direito, Economia e Políticas Públicas) para análise interdisciplinar destes temas.

Gostava tanto de Economia que chegou a pensar em uma segunda graduação, enquanto cursava as disciplinas da faculdade como extras, pelo menos duas por semestre. Entrou como membro para o IEE - Instituto de Estudos Empresariais, associação civil sem fins lucrativos ou compromissos político-partidários na Capital gaúcha. No início do curso, viajou para um intercâmbio na Alemanha, na Justus-Liebig-Universität Giessen, para aprender mais sobre Direito Internacional e Empresarial.

E antes da formatura realizou um estágio em Autoridade de Concorrência, na agência nacional regulatória Bunderskatellamt, em Bonn. 

As aspirações acadêmicas após receber o diploma foram realizadas em São Paulo, para onde se mudou uma semana após a formatura ao receber uma oferta para se integrar ao time de Direito da Concorrência no escritório de advocacia BMA, hoje um dos principais escritórios da América Latina.  Ao mesmo tempo, iniciou um mestrado convertido em doutorado na Universidade de São Paulo (USP). Ainda sonhava em estudar fora do país, mas naquela época o dólar batia a R$ 3 na conversão e Bruno pensava que seria um sonho inalcançável.

Um almoço com dois professores de Direito acabou sendo o empurrão que faltava para não abandonar o objetivo do LL.M. Na época, Bruno estava no doutorado da USP enquanto trabalhava como pesquisador na FGV. A coordenadora da pesquisa havia sido convidada para lecionar em Harvard. Quando mencionou a falta de recursos, recebeu o apoio necessário para partir atrás de bolsas, tanto da instituição quanto externas. E assim, com menos de um mês de prazo para as applications, o advogado organizou documentação e cartas para enviar às universidades.

Das cinco escolhidas, passou em quatro, exceto Harvard. Elegeu o programa da prestigiada Yale University como destino. Neste período, também concorreu à bolsa do Instituto Ling, destacando o quanto gostou do processo seletivo, lembrando até hoje das dinâmicas em grupo, com profissionais tão qualificados disputando.

— Hoje em dia é impeditivo o custo de fazer um LL.M. É realmente incrível o que o Ling entrega para a comunidade, por ser a única bolsa de mestrado de direito privado existente no Brasil, algo que agrega muito na nossa formação — relata Bruno.

 

Imersão em outra cultura e foco no autoconhecimento

O ano era 2016, Bruno tinha 31 anos e estava em um relacionamento com uma mulher. Na partida para New Haven, acabou deixando para trás a repressão da sua orientação sexual. O momento de autoconhecimento proporcionado pela experiência no Exterior foi um divisor de águas na vida pessoal.

—  A segurança de estar entre novos amigos naquela comunidade acadêmica, todos muito próximos uns dos outros, em um lugar fora de casa, foi importante e interessante. Eu sabia que era gay, mas estava no armário. Tive um momento de epifania — recorda Bruno, detalhando o término do relacionamento como um dos momentos mais difíceis que viveu. 

Junto à maturidade adquirida, livre da pressão social, a turma em Yale, que tinha 24 colegas cursando o LL.M. na época, é considerado um dos principais pontos de suporte.

— Depois daquele dia, o pessoal brinca dizendo que eu não apenas “saí do armário”, eu explodi o armário, pois em uma semana já havia contado para o mundo todo, até a amigos de infância de Porto Alegre.

O destino tratou de colocar um novo romance em sua vida durante o mestrado. Ao voltar para o Brasil, o namorado americano também se mudou “de mala e cuia”, como se diz no RS. O ano era 2017, e o advogado retornou para atuar no escritório BMA, em São Paulo. Trabalhava com a área que mais gosta: direito da concorrência e antitruste, uma parte do Direito Econômico que supervisiona operações de carteis e fusões e aquisições.

Também concluiu o doutorado na USP e abraçou a docência, sendo professor universitário de Direito Comercial na Faculdades São Judas Tadeu e depois na FGV - Fundação Getúlio Vargas.

Além dos trabalhos diários com o Direito, assumiu mais um desafio: foi convidado a montar um grupo de diversidade no escritório, que tinha centenas de funcionários. Como acontece em empresas inclusivas, o BMA Diversidade colaborou para desenvolver ações assertivas no dia a dia dos colaboradores. 

 

Um capítulo global sendo escrito com orgulho

Na etapa seguinte da carreira, Bruno foi convidado para atuar na equipe brasileira da Abbott, em 2018, como gerente jurídico senior. Uma das primeiras coisas que fez após ser contratado foi procurar no site da multinacional a existência de um grupo similar ao que havia criado. O Pride Network — rede de funcionários para associados identificados como LGBTQA — até então só atuava nos Estados Unidos. Não demorou para Bruno ser convidado a assumir a criação do braço brasileiro do grupo.

Dois anos depois, quando a pandemia arrefeceu, a sede da Abbott em Chicago fez a tentadora proposta de trabalho para o advogado atuar nos EUA, um cargo internacional que a experiência do LLM em Yale possibilitou. E então Bruno novamente fez as malas, desta vez para este desafio ainda maior. Hoje é responsável por questões jurídicas relacionadas a produtos de diagnósticos rápidos para doenças infecto-contagiosas em mercados emergentes. O grupo de diversidade continua fazendo brilhar os olhos: agora Bruno é Co-Líder Global do Pride Network. O posto é cíclico, de modo que no final do ano será preciso dizer adeus. Mas o legado construído é motivo de orgulho gigante.

— É muito importante e faz parte de mim usar minha força e voz para melhorar uma comunidade que ainda é sub-representada. É uma minoria na sociedade, então reconheço que posso usar o privilégio que tive para devolver para a sociedade, em benefício da comunidade.

Em paralelo a tantas  novidades, a vida pessoal também se atualizou. Quando voltou ao EUA, estava em um novo relacionamento, com um brasileiro; agora casados, os  dois aproveitam as oportunidades em Chicago destacando a alta qualidade de vida que a cidade proporciona. O primeiro ano foi de descobertas, desde entender o quão pesado pode ser um inverno a 20 graus negativos até explorar as praias incríveis da cidade no verão. Festivais, bares e eventos ocupam o tempo livre de Bruno, que celebra a liberdade e convida mais pessoas a se engajarem nesta importante causa.

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