Tomás Lopes-Teixeira, teoria e prática em prol do desenvolvimento
Recém-chegado a Lima como o Representante do Grupo BID no Peru, Tomás Lopes-Teixeira Emendabili, 38 anos, tem uma extensa carreira na voltada ao desenvolvimento econômico. Apaixonado desde a escola por história, matemática e ciência política, o curso de Economia foi sua escolha natural ao chegar à graduação. Já formado e estando em banco de investimento há quatro anos, trocou a estabilidade de Wall Street por um cargo na ONU e, a partir de 2012, ingressou no Mestrado em Políticas Públicas (MPP) em Harvard. Desde então, construiu uma carreira voltada ao desenvolvimento econômico e ao propósito de gerar impacto em diferentes países. Com uma trajetória que inclui desde consultoria a governos africanos a uma passagem pelo governo federal, desde 2016 atua no Banco Inter-Americano de Desenvolvimento.
A vivência internacional acompanha Tomás desde a época da faculdade na USP. Foi durante a graduação que teve sua primeira vivência no exterior, durante um intercâmbio na Universidade de Victoria, em Vancouver, no Canadá. Em 2007, recém-formado, foi contratado para trabalhar em um banco de investimento. Ali trabalhou com aspectos de macroeconomia e operações financeiras para risco de moeda, e mercado de capitais.
Mas apesar de ter um excelente emprego que muitos sonham ter, Tomás não estava satisfeito. Sentia que o trabalho no banco era como uma escola, pelas oportunidades de aprendizado, mas não a carreira que aspirava. O que o atraía mesmo era o tema do desenvolvimento, e em seu tempo livre escrevia ensaios sobre o assunto, alguns deles publicados pela USP.
Foi então que ele tomou a decisão que mudou o rumo de sua carreira; aplicou para um cargo na ONU, que além de muitas exigências técnicas, tinha como pré-requisito fluência em português, e foi aprovado para trabalhar em Genebra, dedicando-se a partir de então para projetos de desenvolvimento produtivo e promoção da inovação na África.
Ele conta que foi apoiado pela família em sua decisão de buscar seu propósito de vida. Uma aposta que valeu a pena, pois o levou a descobrir um vasto mundo no desenvolvimento internacional. “Achei o meu lugar no mundo, combinava tudo que eu gostava: a modelagem econômica super avançada, a história, ciência política. Tudo aquilo que eu estava lendo na minha ‘vida paralela’, de interesse por esses assuntos, agora tinha virado meu trabalho.”, comemora.
Ao mesmo tempo em que trabalhava na ONU, Tomás seguiu nutrindo a vontade de aprofundar seus conhecimentos. Já havia feito alguns cursos em Harvard e o doutorado (PhD) era uma possibilidade, ainda que ele preferisse a prática à vida acadêmica. Optou então por uma solução intermediária a nível de mestrado, o MPP na Kennedy Harvard School, cujo trabalho de alguns professores ele já vinha acompanhando. Para levar este plano adiante, havia outro desafio: os altos custos da universidade. Sem poder contar com ajuda financeira da família, candidatou-se em 2012 a bolsas de estudo e foi contemplado com bolsa do Instituto Ling. Recebeu ainda auxílio da Fundação Lemann e, por dois anos seguidos, a Person of the Year Fellowship atribuída pela Brazilian-American Chamber de Nova Iorque.
Todo esforço, tanto em termos de estudo como financeiro, valeu a pena. Através do MPP, Tomás diz um mundo de diferentes possibilidades se abriu. Após o curso, finalizado em 2014, ele passou a atuar na área de desenvolvimento de diferentes formas. “Trabalhei com projetos próprios, outros de consultoria para governos como Advisor para formação de políticas econômicas e políticas de redução de pobreza. Na McKinsey, entrei para ajudar a liderança da instituição a fundar o Public and Social Center para desenvolvimento econômico no Brasil e na África, e trabalhei somente em projetos de desenvolvimento econômico”, comenta.
A trajetória de Tomás inclui ainda uma breve passagem pelo governo brasileiro, na hoje extinta Secretaria de Assuntos Estratégicos. O ano era 2015 e o ministro, de perfil técnico e seu antigo professor e Harvard, montou uma equipe multidisciplinar e apartidária. Desses nove meses em que trabalhou na SAE, considera que o maior aprendizado foi que “a dificuldade vale a pena”. Isso porque há possibilidade de causar impacto em larga escala. Entre o que mais se orgulha deste período estão as contribuições para o novo Código de Ciências e Tecnologia, para políticas de regulação de microempresas, para empreendedorismo e tecnologia.
A experiência no governo federal contribuiu diretamente para o desafio seguinte, o trabalho no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), onde ingressou em 2016 e segue até hoje. Em 2020, Tomás passou de técnico a gestor. Antes de assumir o novo cargo no Peru, estava trabalhando em Washington como chefe de estratégia no BID Lab, uma das três entidades do Grupo, focada em promover soluções inovadoras em desenvolvimento econômica, com a responsabilidade de definir como a inovação pode contribuir para o desenvolvimento dos países em que atuam.
“Uma das realizações das quais mais me orgulho é o projeto Agrotech (ou Agritech, dependendo do país) que desenvolvemos quando eu era especialista em tecnologia, focado na aplicação de tecnologia na agricultura. Desenvolvemos soluções para minimizar intermediários na cadeia de valor dos alimentos, reduzindo custos e aumentando a renda dos produtores. Estou especialmente orgulhoso do impacto positivo que tivemos não apenas nos preços dos alimentos, mas também na segurança alimentar e na redução da desnutrição, que é uma das facetas mais tristes da extrema pobreza. Além disso, fomos pioneiros na criação de fundos de venture capital, investindo em startups que aplicam tecnologia no setor agrícola”, conta.
O interesse de Tomás pelo impacto público e por desenvolvimento é compartilhado por sua esposa Júlia Vieira de Andrade Dias, que trabalha no BID em Washington. Além de trabalharem na mesma instituição, o casal tem outro ponto em comum: Júlia foi selecionada como bolsista do Instituto Ling em 2019 para cursar o Mestrado em Administração Pública (MPA) na Universidade de Columbia.
Sobre desenvolvimento, Tomás diz que já foram escritas várias bibliotecas inteiras sobre como melhor definir intelectualmente este termo; o objetivo, de todos os modos, é melhorar as condições de vida das pessoas, de forma que essa melhoria se reproduza no tempo. Do ponto de vista prático, o mais viável é identificar porque um país ou região sofre determinadas carências, de forma sistêmica. Especialiazado em desenvolvimento produtivo e competitividade, para ele, estudar esses temas é entender a estrutura da economia e todas suas implicações para os padrões econômicos e sociais de uma região, setor ou país. E sua utopia é um mundo em que um cargo como o seu já não faça mais sentido, pois todos a humanidade poderá focar em outros temas que não digam respeito a sua qualidade de vida.
Enquanto o sonho não chega, talentos como Tomás vão fazendo sua parte para tornar o mundo melhor.
04.10.2024