Quando a parceria próxima te leva mais longe: a trajetória de duplas de irmãos bolsistas
A inspiração para estudar fora e perseguir sonhos pode vir de longe: figuras de renome, grandes líderes globais ou pioneiros das áreas muitas vezes ocupam o lugar de ídolo e nos motivam a começar. No entanto, outras vezes o pontapé para iniciar uma candidatura ou trocar de carreira vem de perto. Para celebrar o dia do irmão, comemorado anualmente no 5 de setembro, selecionamos quatro histórias para te inspirar a olhar para quem caminha do seu lado desde cedo. Gabriela e Júlio Lamb; Eduardo e Rodrigo Baer; Bruno e Marcelo Mourão foram bolsistas do Instituto Ling e são exemplos de como o laço fraterno pode servir de base para voos mais altos.
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Gabriela Jereissati e Júlio Lamb: cruzando diferentes trajetórias
Gabriela, advogada formada especializada pela FGV/SP, estudou na Universidade de Georgetown, no prestigiado Global Competitiveness Leadership Program (GCLP). Fazer o curso naquele momento poderia ser uma decisão ousada: na época da candidatura, ela liderava um escritório de advocacia de Porto Alegre e era a responsável jurídica pela empresa de sua família.
Mas a trajetória de seu irmão, Júlio Lamb, foi um esteio onde ela pode se amparar. “Meu irmão cursou o mesmo programa (GCLP) um ano antes. Eu consegui me preparar e entender o que o curso esperava de mim com mais clareza”, conta ela.
A inspiração do irmão levou a uma verdadeira virada de chave na vida de Gabriela: “a experiência internacional poderia ser um divisor de águas, motivo pelo qual eu apliquei para a bolsa, por meio de indicação do Instituto de Estudos Empresariais”.
Durante o curso, que dura 10 semanas, Gabriela seguiu à frente do escritório. “Quando não estava em aula, estava trabalhando. Foram semanas muito intensas”. Hoje, ela mora em São Paulo com o marido e os dois filhos: Álvaro (três anos e nove meses) e Rosita (dois anos), continua a advogar e faz parte do conselho de administração de duas instituições sem fins lucrativos – a ViaFoto e Torre Alta. “O curso em Georgetown abriu um novo horizonte de aprendizado, conexões e perspectivas profissionais e, não fosse por ele, não teria a coragem de buscar atividades que não fossem estritamente jurídicas, entendendo que o meu conhecimento poderia ser ferramenta e não usado como um fim em si mesmo”, conta.
Júlio trilhou seu caminho em uma área de conhecimento diferente: a engenharia. Quando foi selecionado para a bolsa de estudos em Georgetown, recém havia encerrado sua gestão à frente do Instituto de Estudos Empresariais.
Assim como Gabriela, ele ocupava um cargo na empresa fundada pelo pai dos dois, a Lamb Engenharia e Construção. Mas cada vez mais, se aproximava da área de negócios: cursou uma pós-graduação na FGV em Gestão Estratégica e Econômica de Negócios e, então, embarcou para o intensivo em Georgetown.
“O curso me deu uma visão global de negócios e liderança e me colocou em contato com líderes de outras regiões do continente e contatos internacionais, além de um conhecimento ímpar em negócios e liderança, os quais até hoje eu utilizo para gestão da minha empresa e para conduções em entidades e institutos dos quais faço parte”, lembra.
Hoje, ele é CEO da Lamb Engenharia e mora em Porto Alegre. Mesmo com pontos de partida acadêmicos distintos – ele, na engenharia, e ela, na advocacia – os irmãos chegaram a um ponto similar na carreira. “Acabamos exercendo papéis muito similares na vida adulta”, reflete Gabriela. “O Júlio foi Diretor de Fórum da Liberdade e depois presidente do IEE; eu fui Diretora de Fórum e depois presidente do IFL-SP; institutos estes que são muito similares na sua composição. Temos uma diferença de 4 anos de idade, mas temos inúmeros amigos em comum”, conta.
Uma amiga de ambos, aliás, acredita que os irmãos têm mais semelhanças do que diferenças: “Dá para notar que têm a mesma criação, mesmos valores, pessoas super éticas, posicionadas, educadas. Acho que o Júlio talvez seja mais arrojado, a Gabriela mais tímida talvez, mas só no primeiro momento”, revela Joanna Renner. Júlio concorda: “temos em comum a ambição e nossa vontade de aprender e progredir na vida, de forma ética e correta”. O curso como bolsistas na Georgetown é só um ponto nessa constelação de similaridades.
Rodrigo e Eduardo Baer: nas duas faces do empreendedorismo
Hoje, Rodrigo e Eduardo Baer atuam em pontos distintos do processo empreendedor: enquanto Eduardo está à frente da operação da fintech Nomad, Rodrigo investe em startups de tecnologia com a Upload Ventures.
Nessa trajetória, a influência dos irmãos marcou escolhas acadêmicas e profissionais. “O Rodrigo fez administração na FGV. O Carlos, meu outro irmão, fez publicidade na ESPM. Eu acabei ficando indeciso e fiz administração na USP e publicidade na ESPM simultaneamente”, conta Eduardo.
Rodrigo foi o primeiro estudar fora. Depois de se graduar na FGV, foi aceito na prestigiada faculdade Kellogg de administração, na Universidade Northwestern, para um MBA. O apoio do Instituto Ling o ajudou a chegar até lá.
“Durante a graduação, estagiei na Droga Raia, em uma área de novos negócios. Foi como uma experiência de startup. Então fui para consultoria e passei dois anos atuando como consultor na América Latina. Minha ideia do MBA era juntar a experiência empreendedora com o papel de consultor. À época, eu sequer sabia que existia venture capital”, conta Rodrigo.
Hoje, ele já acumula 15 anos de trabalho na área de venture capital, e mora em São Paulo, atuando com investimento em startups de tecnologia – justamente a área de preferência de Eduardo, que ajudou a fundar o iFood e a DogHero.
“Temos muitas semelhanças: nós dois fizemos administração. Eu era o amigo mais experiente da turma de empreendedores da qual o Eduardo faz parte. Fui o primeiro investidor do iFood”, releva Rodrigo.
De cara, os pais da dupla eram um tanto avessos à ideia de estudarem fora. Rodrigo, então, pavimentou o caminho para Eduardo. “Fui primeiro. Meus pais tinham muito receio da decisão que eu estava tomando, não tinham perspectiva do impacto que ia ter”, diz Rodrigo.
Já Eduardo, que cursou MBA na Universidade de Stanford, encontrou as portas já abertas pelo irmão. “O fato do Rodrigo ter ido me mostrou que era viável ser aprovado em uma escola de ponta. Além da questão financeira, que ele me mostrou ser um obstáculo possível de resolver”, afirma Eduardo.
Hoje, ambos influenciam o restante da família, mostrando para os primos e outros familiares jovens como é possível estudar fora.
Em diferentes escolhas e projetos, Eduardo e Rodrigo sempre caminharam lado a lado, se cruzando em muitos momentos. “Quando estávamos prestes a lançar o iFood, fui falar com ele: ‘temos essa ideia, mas não temos dinheiro. Será que atrairia investimentos?’, perguntei”, lembra Eduardo. A resposta positiva foi a garantia de que ele precisava para levar a ideia adiante. “Rodrigo foi essencial para que a gente lançasse o iFood e eu me descobrisse como empreendedor”, afirma Eduardo.
Agora, Eduardo atua como Chief Operating Officer na fintech Nomad, que oferece contas globais gratuitas para brasileiros que desejam viajar, investir, comprar ou poupar em dólar.
Ambos concordam, também, quanto ao papel da bolsa do Instituto Ling em suas carreiras. A flexibilidade foi um apoio para que tivessem a confiança de se arriscar e montar seus próprios negócios. “Me ajudou bastante para que eu pudesse sair do MBA e empreender”, pontua Eduardo. “Ter essa flexibilidade me permitiu tomar riscos que foram essenciais para montar a carreira que acabei tendo”, completa Rodrigo.
Bruno e Marcelo Mourão: o cientista e seu irmão
O ponto atual da trajetória dos irmãos Marcelo e Bruno Mourão não é exatamente o que eles imaginavam na infância. Quando perguntavam ao pequeno Marcelo o que ele sonhava em ser quando crescesse, o mais velho da dupla sempre respondia “cientista”. Bruno, o caçula, por sua vez, dizia de prontidão que desejava ser “o irmão do cientista”.
Hoje, os irmãos que cresceram brincando juntos vivem a quase cinco mil quilômetros de distância. Ambos formados engenheiros elétricos pela Universidade Federal de Minas Gerais, Bruno é managing director na BCG e mora em Bogotá, na Colômbia; enquanto Marcelo é managing director na Gryphon Investors e mora em San Francisco, nos Estados Unidos.
“Costumo brincar que, até o MBA na Universidade de Chicago, eu era o irmão do cientista”, conta Bruno. “A partir do MBA, cada um foi para seu lado e hoje temos carreiras muito diferentes. Depois do MBA, descobrimos nossas paixões.”
Marcelo foi o pioneiro no movimento de estudar fora. Foi aprovado para o MBA na Universidade de Chicago, com bolsa do Instituto Ling, na turma de 2010. “Passei quatro anos trabalhando em consultoria, e cheguei a um momento em que fiquei curioso para saber o que mais havia lá fora.” O curso no exterior foi fundamental para que ele fizesse a transição de carreira que o levou ao mercado financeiro.
Trabalhou por mais de oito anos na Apax e levou sua família para morar em Nova York, sede da empresa. Bruno seguiu um caminho semelhante. “O Marcelo entrou na engenharia elétrica, eu também. Marcelo entrou no MBA em 2010, eu fui logo atrás, em 2012. Ele sempre foi uma influência positiva, que me incentiva a seguir crescendo”, diz Bruno.
“Hoje trabalho com energia e mineração, como sócio do BCG. Para chegar aqui, foi preciso experimentar coisas diferentes, me expor a diferentes indústrias, e grande parte disso se deve ao MBA”, conclui Bruno. Durante o MBA, conheceu sua esposa, colombiana, com quem se mudou para Bogotá.
Apesar de Bruno dizer ser inspirado pelo irmão mais velho, Marcelo não poupa elogios ao caçula. “Nós crescemos juntos, muito próximos, e Bruno combina uma extrema qualidade profissional com habilidade artística incrível. Ele também é uma inspiração para mim”, afirma Marcelo.
“A bolsa e o MBA transformaram muito mais que nossas carreiras, transformaram nossas vidas”, conclui Marcelo. “Dificilmente você conseguiria imaginar o Bruno terminando na Colômbia e eu aqui se não tivéssemos ido para o MBA.
” Apesar da guinada nas carreiras ter sido inesperada, ela não é desconhecida para Bruno e Marcelo – pelo contrário, ecoa uma história bastante familiar. “Nossa mãe é a mais velha de 10 irmãos e nasceu em Divinópolis, interior de Minas Gerais. Ela também tinha essa curiosidade e se mudou sozinha para Belo Horizonte para estudar. Depois, outros sete irmãos foram atrás dela. O centro de gravidade da família mudou – assim como aconteceu comigo e com Bruno”, pontua Marcelo.
1.9.2025