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A inesquecível e breve trajetória de Bill Evans no Jazz

 

VIDA E OBRA

Bill Evans é um dos pianistas mais importantes da história do jazz moderno. O músico e compositor deixou seu nome marcado como um dos artistas mais inovadores do século 20, influenciando as próximas gerações, além de desenvolver o conceito moderno de trios de piano (com contrabaixo e bateria).

William John "Bill" Evans nasceu em 16 de agosto de 1929, em Plainfield, Nova Jersey. Transformou-se em referência no estilo de piano de jazz pós anos 50, por sua genialidade em obras cheias de toques leves, líricos e solos introspectivos. Na infância, tocou violino, flauta e piano, destacando o favoritismo pelo último. Com 5 anos de idade, já era capaz de escutar as músicas tocadas pelo irmão mais velho e reproduzi-las no piano! Uma característica que o seguiu na carreira: a reprodução rigorosa das notas nas partituras.

A família de Evans foi a maior encorajadora para o seu aprendizado na música. Com as aulas de outros instrumentos, começou a aprender muitas coisas como o estilo cantabile (forma de tocar o instrumental, imitando a voz humana), posteriormente um diferencial em algumas de suas obras. Logo encantou-se pelo jazz e rapidamente desenvolveu habilidades como a substituição de acordes para a mudança de harmonia em uma canção. Ele acreditava na capacidade de utilizar a improvisação relacionada à técnica teórica. Ainda na pré-adolescência, participou de competições musicais e recebeu prêmios por sua performance ao piano. Ao terminar o ensino médio, recebeu uma bolsa de estudos para… Flauta! Graduou-se como Bacharel em Música na Southeastern Louisiana University, ampliando seus horizontes e mantendo a importância da bagagem clássica para sua evolução musical.

Na década de 40 começou a carreira profissional tocando com diversos grupos, chegando a realizar algumas turnês. Quando completou a graduação, prestou serviço militar e ficou durante um tempo em casa, dedicando-se aos estudos, até decidir ingressar na pós-graduação na Mannes School of Music, em Nova York, para desenvolver melhor a composição. Neste período, buscou tocar em shows que contemplassem um conteúdo de jazz diferente do que ele acompanhava na universidade. Isso tudo até o momento em que conheceu o trompetista Miles Davis, em 1958, com quem tocou durante meses e, mesmo após deixar sua banda, Evans se envolveu no planejamento e execução do álbum épico de Davis, Kind of Blue. Aqui, seu trabalho pessoal recebeu grande visibilidade, pois sua maneira de tocar já havia se consolidado e abria diversas portas no cenário jazzista.

Liderou o Bill Evans Trio, ainda hoje aclamado como a melhor configuração de equipe do pianista. Autores dos álbuns clássicos Portrait in Jazz, At the Village Vanguard e Waltz for Debby, a banda ainda contava com o baterista Paul Motian e o baixista Scott LaFaro, que faleceu em um trágico acidente de carro, em 1961. O evento o abalou fortemente, mas também não seria o último golpe na vida do artista que, logo depois, perderia sua ex-companheira Ellaine Schultz e o irmão Harry, ambos vítimas de suicídio. Após o acidente, o artista ficou recluso por quase um ano, retornando à cena musical com Paul Motian para gravar, junto do baixista Chuck Israels e o guitarrista Jim Hall – que também participou de uma sessão com o trompetista Freddie Hubbard e o quinteto Interplay.

 

Bill Evans Trio - Waltz for Debby (Bill Evans, Paul Motian e Scott LaFaro).

 

Em 1962, Bill Evans vai assinar com a Verve Records, renomada gravadora que teve em seus catálogos grandes nomes do jazz. Lá foi incentivado a continuar participando de trabalhos em formatos variados e, desta época, podemos destacar as colaborações com Gary McFarland e a performance do Bill Evans Trio com orquestra sinfônica e arranjos suntuosos de Claus Ogerman. Aparece novamente a figura de Jim Hall, que foi um grande amigo de Evans, principalmente após a morte de LaFaro, além de parceiro em uma das suas gravações mais marcantes, o álbum Conversations with Myself. É nesse trabalho que Evans vai eternizar o método – até então visto como controverso – de dobrar três faixas de piano na mesma, levando duas sessões em sequência.

Evans conseguiu manter um padrão impecável de qualidade musical em sua discografia. Ele era adepto de estudos para gerar bases em seus trabalhos, afirmando que isso não se tratava de uma fórmula para o sucesso, mas aquilo que ele gostaria de ouvir em suas faixas, resultando na marca de um pianista capaz de atingir profundidades emocionais impressionantes.

Faleceu muito jovem, em 15 de setembro de 1980, em Nova York, aos 51 anos, após lidar com a deterioração prolongada de sua saúde, decorrente do excessivo uso de drogas durante a vida, como cocaína e heroína. Deixou um imenso legado de discos e performances – a estética de sua discografia, recheada do seu talento, cheia de influência dos clássicos, técnicas apuradas e sonoridade calma e inspiradora. Ao escutar o som das mãos de Bill Evans ao piano, até aqueles que não ouvem jazz conseguem sentir que o mundo para por alguns segundos e a música toca profundamente suas almas.

 

PRÊMIOS

Grammy:

1980 - Melhor Performance Instrumental de Jazz, Solista (por I Will Say Goodbye)      

1980 - Melhor Performance de Jazz Instrumental, Individual ou em Grupo (por We Will Meet Again)

1971 - Melhor Performance de Jazz Instrumental, Individual ou em Grupo (por Bill Evans Album)

1971 - Melhor Performance de Jazz, Solista (por Bill Evans Album)

1970 - Melhor Performance de Jazz Instrumental, Individual ou em Grupo (por Alone)     

1968 - Melhor Performance de Jazz Instrumental, Individual ou em Grupo (pelo album Bill Evans at the Montreux Jazz Festival)

1963 -  Melhor Performance de Jazz Instrumental, Individual ou em Grupo (por Conversations with Myself)

 

CURIOSIDADES

A maior influência pianística do jazz para Bill Evans foi Nat "King" Cole! Evans era encantado pela abordagem melódica, clara e pelo frescor de ideias e sonoridade de King Cole ao piano.

Você sabia que nas décadas seguintes à morte do pianista, uma grande leva de gravações inéditas e de arquivos foram divulgadas? Aqui algumas delas: o Grammy Lifetime Achievement Award de 1994; Turn Out the Stars: The Final Village Vanguard Recordings em 1996; The Last Waltz de 2000; A Resonance Records com os álbuns Some Other Time: The Lost Session from the Black Forest, Another Time: The Hilversum Concert e Live at Ronnie Scott's, respectivamente em 2016, 2018 e 2020. Essas e outras obras podem ser acessadas nas plataformas digitais ou em formato físico em diversas lojas.

Na universidade, chegou a receber advertências sobre a falta de ensaios práticos, o que é engraçado levando em consideração sua excelente prática junto ao piano, característica reconhecida em sua trajetória. Evans costumava dizer que não tinha talento, então precisava se esforçar muito e chegava a estudar em média 6 horas diárias.

O último álbum gravado em estúdio, nos últimos meses de vida, foi intitulado de “We Will Meet Again”, em tradução livre como “Nós nos encontraremos novamente”. Em pouco mais de uma hora, sua música e sonoridade são capazes de transmitir diversos sentimentos que refletiam sua angústia e melancolia. O álbum, ganhador do Grammy no ano seguinte, foi escrito em memória do seu irmão, que morreu pouco tempo antes.

 

DICAS DO LING

Escute o capítulo do podcast Jazz Panorama dedicado à música de Bill Evans! 

Confira a playlist especial que preparamos para você entrar no clima musical do grande Bill Evans! Disponível no Spotify do Instituto Ling. 

Escute as obras de Bill Evans no Spotify, YouTube Music ou Deezer!

Assista ao documentário sobre a vida do pianista, “Bill Evans Time Remembered”, com duração de  90 minutos, foi produzido por Bruce Spiegel e conta a história da vida de Bill com cerca de 40 entrevistas e materiais do acervo do artista, amigos e familiares. Ficou curioso? Confira o trailer. Disponível para alugar online no site REEL HOUSE.

Que tal escutar essa rápida entrevista do produtor musical João Marcello Bôscoli  sobre a música 'Lullaby for Helene', do álbum 'From Left to Right'. Gravado com piano elétrico e acústico.

 

REFERÊNCIAS

BRANDÃO, Lucas. O gênio do piano Bill Evans. Comunidade Cultura e Arte, 2020. Disponível em: https://comunidadeculturaearte.com/o-genio-do-piano-de-bill-evans/

GINELL, Richard S. Biografia e Discografia. Site AllMusic. Disponível em: https://www.allmusic.com/artist/bill-evans-mn0000764702/biography

MURRAY, William J. O Jazz de Bill Evans: formação, influências, obras e estilo composicional. Biblioteca Eletrônica SciELO, 2013. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pm/a/YHKXwbpMzRGbG5FxnXM9KtK/?lang=pt

REZENDE, Marcelo. Bill Evans expõe a melancolia dos anos 60. Folha de São Paulo, 1997. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq200526.htm

Site Bill Evans. Disponível em: https://billevansofficial.com/about/

TIKKANEN, Amy. Bill Evans: American Musician. Britannica. Disponível em: https://www.britannica.com/biography/Bill-Evans

WD. Fenômeno Bill Evans, um gênio do jazz que foi morto por drogas. Site Clarín, 2020. Disponível em: https://www.clarin.com/espectaculos/musica/bill-evans--genio-jazz-mataron-drogas_0_vh6qE-i8o.html