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O legado imortal de Jaco Pastorius

 

BIOGRAFIA E OBRA

“Você tem que entender que era o ano de 1976, James Brown, Stravinsky, Jimi Hendrix, Elvis Presley, Frank Sinatra, todas essas pessoas faziam música ao mesmo tempo, todos vestiam um crachá, ser diferente era um grito de guerra, os músicos eram donos do negócio da música. Esse cara se aproximou de mim, então, ele disse: ‘Eu quero me apresentar a você, meu nome é John Francis Pastorius Terceiro, eu sou o melhor baixista do mundo’. E eu disse: ‘Sai daqui!’”

 

(trecho da abertura do documentário Jaco)

 

Apesar de ter vivido pouco — 35 anos para ser exato —, Jaco Pastorius eternizou-se na história da música e fez valer o seu próprio bordão: é considerado até hoje um dos melhores baixistas do mundo.

 

 

John Francis Anthony Pastorius Terceiro nasceu em 1º de dezembro de 1951, em Norristown, Pensilvânia. Desde pequeno, foi chamado pelo apelido de “Jocko” (homenagem ao árbitro de beisebol, Jocko Conlan), que depois foi adaptado acidentalmente para Jaco por um músico francês amigo de sua família. John gostou da grafia e adotou como nome artístico.

Filho do cantor e baterista Jack Pastorius, Jaco foi iniciado na música pelo pai e ainda bem jovem comprou sua primeira bateria com o dinheiro economizado do trabalho como entregador de jornais. Seu desempenho como baterista acabou afetado após uma lesão no pulso, quando jogava futebol. Aos oito anos, muda-se com a família para o sul da Flórida, onde entra em contato com diversos estilos musicais, como o R&B, funk, soul e a música cubana e jamaicana. Autodidata e precoce, em 1966 integra a banda Las Olas Brass, inspirada no grupo The Tijuana Brass, onde chegou a tocar como baterista mas, após a chegada de um músico mais experiente, acabou assumindo a vaga de baixista, mesmo sem ter o conhecimento teórico e técnico do instrumento. Ele tinha então 16 anos e ainda cursava o ensino médio. Devemos gratidão a esse baterista, pois foi isso que fez com que Jaco se descobrisse como baixista!

Além do Las Olas Brass, Jaco fez parte de um trio de R&B chamado Woodchuck, sendo uma fase importante para o seu desenvolvimento musical. Na mesma época, ele conheceu Tracy, com quem casou e logo tiveram uma filha. Aos 19 anos, ele já era pai e, para ter melhores condições financeiras, acabou deixando o Woodchuck e aceitando um trabalho em um navio de cruzeiro no Caribe. Entre 1970 e 1971, tocou com Tommy Strand & the Upper Hand, onde foi aprimorando sua técnica no baixo, mas foi em 1972,  no breve período que integrou o grupo de Wayne Cochran and The CC Riders, que Jaco adquiriu conhecimento sobre leitura de partitura e arranjos.

Quando retornou à Flórida, já era um músico muito mais maduro e passou a tocar na Orquestra de Peter Graves, onde se aproximou do saxofonista e trompetista Ira Sullivan, que lhe convidou para fazer parte de seu grupo de jazz. A música do grupo de Sullivan logo conquistou jovens fãs, porque unia influências de funk e R&B. O grupo deu espaço para que Jaco tocasse suas próprias composições e isto foi importante para o álbum solo que viria algum tempo depois.

Até 1975, Pastorius era um talento local, reconhecido no circuito de clubes do sul da Flórida por sua técnica e seu jeito extravagante de se mover nos palcos. E talvez ele tivesse permanecido no anonimato se não tivesse conhecido Joe Zawinul, integrante da Weather Report, uma das bandas mais importantes do jazz fusion. Ao se apresentar para Joe, Jaco usou o bordão que estava ensaiando desde os 18 anos: “Meu nome é John Francis Pastorius Terceiro, eu sou o melhor baixista do mundo.” E, apesar de estar mais se divertindo com ele do que impressionado por sua técnica, Joe acabou sendo persuadido a levar para casa uma demo cassette de Jaco. (Spoiler alert! O jovem insistiu tanto que acabou conseguindo o que queria.)

 

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Na mesma época, Jaco conheceu Bobby Colomby, baterista da Blood Sweat & Tears, através da sua então ex-esposa, Tracy. Colomby pediu ao baixista um material de teste para um possível álbum solo e ele ficou completamente impressionado com o resultado. No ano seguinte, Jaco e Colomby reuniram um time de grandes músicos para gravar este álbum, que incluía o ilustre pianista Herbie Hancock!

Jaco Pastorius foi e continua sendo um álbum inspirador. Segue sendo um álbum que todo baixista deve ter: seja pela simplicidade da sua capa ou pelas camadas incríveis de instrumentação que escorrem de cada música.

Durante a gravação deste álbum, Jaco continuava em contato com Joe Zawinul pois levava muito em conta sua opinião. E foi neste período que Alphonso Johnson, baixista da Weather Report, deixou a banda no meio da gravação do álbum Black Market e abriu uma brecha para que Jaco o substituísse, primeiro, no término das gravações e, depois, permanentemente. Durante os seis anos em que foi membro da Weather Report, Pastorius viveu o período mais criativo da sua vida e também se viu ocupando a posição que ele sempre soube que era sua — a de melhor baixista do mundo.

 

“Jaco tinha essa coisa mágica sobre ele, o mesmo tipo de coisa que Jimi Hendrix tinha. Ele era um artista eletrizante e um grande músico. E foi ele o responsável por trazer as crianças brancas para os nossos shows.”

(Joe Zawinul, do Weather Report, sobre Jaco Pastorius)

 

O ano de 1977 foi marcante: Jaco co-produziu o álbum Heavy Weather e viu sua banda atingir sucesso comercial. Foi também o ano em que estava explícito que havia uma relação pai-filho entre Pastorius e Zawinul, seu mentor. Mas, como nem tudo são flores nesta vida, Jaco começou a apresentar um comportamento cada mais imprevisível fora dos palcos, comportamento que muito provavelmente seria diagnosticado como depressão bipolar nos dias de hoje.

Os anos 1980 não seriam menos geniais na música, mas acirraram ainda mais sua condição instável. Ao deixar as asas de seu mentor, Joe Zawinul, e entrar em turnê com sua própria banda, Word Of Mouth, Jaco e seu comportamento autodestrutivo tornaram-se difíceis demais de lidar. O abuso de álcool e drogas o tornaram violento e constantemente ele se via envolvido em brigas e era expulso de casas de shows.

Infelizmente, uma dessas brigas resultou em tragédia: agredido pelo segurança Luc Havan — do Midnight Bottle Club, em Fort Lauderdale — ele foi deixado inconsciente na rua. Chegou ao hospital já em coma e, após algumas complicações, acabou tendo morte cerebral decretada. Faleceu em 21 de setembro de 1987, aos 35 anos. O segurança Luc Havan foi preso por homicídio, mas cumpriu apenas quatro meses de prisão — ou, como disse Ingrid, segunda esposa de Jaco, um mês para cada filho que o artista deixou para trás.

Apesar da morte trágica e precoce, Jaco vive! Não só nas músicas que deixou, mas também em seus filhos — todos músicos. Sua personalidade única e musicalidade gloriosa seguem inspirando por aí, nos mostrando que seu legado é imortal.

 

CURIOSIDADES

Você sabia que, em 1982, Jaco participou do Montreal Jazz Festival, no Canadá? Assista a apresentação na íntegra!

Em 1968, mesmo sem saber ler as partituras, Jaco gravou uma fita de sua versão de The Chicken, de Pee-Wee Elis, e enviou para a pianista Alice, viúva de John Coltrane. Na gravação, ele tocou todos os instrumentos da música e, incentivado por Alice, The Chicken tornou-se parte do repertório do músico em seus shows. 

Devido a sua excepcional forma de tocar, Jaco Pastorius chegou a ensinar baixo como professor adjunto no departamento de jazz da Universidade de Miami.

 

DICAS DO LING

Em 2014, um documentário chamado Jaco foi lançado em homenagem ao icônico baixista. Com produção de Robert Trujillo (baixista do Metallica), o filme traz depoimentos de grandes músicos como Carlos Santana, Flea, Sting, Joni Mitchell e James Hetfield. Disponível no YouTube.

Está a fim de conhecer mais um pouco sobre a vida e a obra deste artista? Acesse o site de Jaco Pastorius.

Ficou com vontade de ouvir a obra dele? Escute nas plataformas: YouTubeYoutube Music e Spotify.

Além de Jaco Pastorius, que tal ouvir a playlist especial que criamos no Spotify com todos os homenageados que passaram pelas nossas queridas Audições Comentadas de Jazz?

 

REFERÊNCIAS

Artigo Jaco Pastorius: in appreciation para o Guitar World. 2020. Disponível em: https://www.guitarworld.com/features/jaco-pastorius-in-appreciation

AIEX, Tony. Jaco Pastorius e a trágica genialidade de um dos maiores músicos de todos os tempos para o site Tenho Mais Discos Que Amigos. 2018. Disponível em: https://www.tenhomaisdiscosqueamigos.com/2018/12/04/jaco-pastorius-historia/

Site oficial Jaco Pastorius. Disponível em: jacopastorius.com/life/