Bernardo Weaver: Um sonho de liberdade, para si e seus clientes
Cresci em Copacabana, um lugar de encontro das mais diversas nacionalidades, que faziam dos apartamentos administrados por minha avó seu pouso seguro no caótico Rio de Janeiro. Cercado de estrangeiros dentro e fora de casa, meu grupo de infância era formado de um taiwanês, um paraense de origem emirati, um austríaco, um português e eu, que da minha história só sabia ser órfão de pai e de ter sido adotado à brasileira.
Se as sementes de uma vocação internacional foram plantadas em mim desde muito cedo, só viriam a florescer em forma de vocação muitos anos mais tarde, combinando as experiências de casa com as vívidas experiencias das ruas do Rio.
No Arpoador, me fiz homem navegando a diversa fauna que só o Rio dos anos 90 foi capaz de amalgamar. Eram surfistas, lutadores, criminosos dos mais variados e, claro, estrangeiros de todos os cantos do mundo. De lá até Harvard e, posteriormente, passando pela chefia de uma unidade no BID e por sociedades nas maiores bancas de advocacia do Brasil, tracei um longo caminho, do qual tenho muito orgulho.
Em uma cidade com complexo de monarquia europeia e decadência econômica de ex-capital, as oportunidades eram limitadas até para as melhores famílias. O caminho natural era o concurso público, mas logo percebi que tanto minha personalidade quanto minha estrutura familiar não me permitiriam passar longos anos colecionando opiniões sobre natureza jurídica da abóbora.
Se as portas estavam fechadas em casa, no Rio, navegar seria preciso. Movido pela carioca certeza de que um lugar melhor só fora do Brasil, comecei a estudar cartografia acadêmica buscando uma universidade que acolhesse minhas aspirações profissionais.
O destino natural de penalistas sempre foi a Alemanha, mas fazer o mesmo que os outros nunca foi meu forte. Era preciso ir a mares nunca dantes navegados e, por isso, mirei o mundo anglo-saxão, com particular interesse na Inglaterra e seus custos acessíveis, se comparados com os da educação americana.
Candidaturas prontas, pensei que seria um desperdício deixar de tentar as universidades americanas. Para minha total surpresa, fui aceito na mais prestigiosa universidade de direito do mundo: Harvard. Mais inesperado ainda foi que, somadas as bolsas do instituto Ling e os descontos e financiamentos da universidade, precisei desembolsar apenas seis mil dólares pelo ano acadêmico.
O preço do pioneirismo é ter de trilhar seu próprio caminho. Sem nunca ter conhecido alguém que fizera um LLM, muito menos um ex-aluno de Harvard, escolhi ser pupilo de grandes professores de penal da universidade. Entre eles o advogado de OJ Simpson, Alan Dershowitz; o mais brilhante processualista penal que conheci, William Stuntz e o Vice-Procurador Geral Americano, Phillip Heymann. Fui o primeiro, e talvez único aluno de LLM, a focar no direito criminal americano e internacional.
Enquanto o Brasil decolava na capa da The Economist, eu tinha dificuldade de explicar aos meus colegas por que, além das muitas horas de estudo em Langdell, eu também dedicava tantas horas às candidaturas de emprego nos EUA e Europa. O esforço rendeu frutos, e tive de escolher entre ofertas de trabalho para três organizações internacionais diferentes, na Holanda, na Tanzânia e nos EUA.
Terminei com a difícil e inusitada missão de criar uma unidade dentro do sistema anticorrupção do BID, em Washington. Do espaço físico aos procedimentos internos, passando por um sistema de gestão de casos, aos 32 anos tinha colocado para funcionar um tribunal internacional.
O ano era 2014 e uma revolução se iniciava no Brasil com o uso da delação premiada, instrumento que eu conhecia bem na common law. Grandes escritórios brasileiros me contataram para abrir suas áreas de penal e, depois de rejeitar alguns convites, aceitei o antes impensável: retornar ao Brasil.
Na sociedade em dois dos maiores escritórios de advocacia empresariais brasileiros tive a chance de trabalhar em enormes casos, tanto do ponto de vista financeiro quanto técnico, e aprendi uma importante lição: o Direito Penal é um animal exótico que vive tão bem numa grande banca de advocacia quanto um tucano na Noruega. Lições aprendidas, tirei minha carta de alforria e fui fazer o que sempre quis.
No Rio de Janeiro uma em cada 115 pessoas é advogado, e 60% da profissão ganha até R$6000 por mês. Nesse cenário, só existe sucesso na atuação extremamente focada em áreas de alto valor agregado, onde poucos conseguem atuar. Por isso, e baseados no lugar mais lindo do Brasil, nos especializamos em atender situações críticas em que outros criminalistas não querem ou não sabem como atuar. Advogamos em diversas línguas, lidamos com tecnologias avançadas, e aceitamos casos dos mais espinhosos. E ainda nos damos ao luxo de não atuar em causas nas quais não acreditamos.
Nossa firmeza e independência permitiu sermos os primeiros advogados a atuar na maior prisão em massa da história do Brasil, no 8 de janeiro, e litigar em um dos processos mais atípicos do direito brasileiro. Sem acesso aos autos por semanas, com inovações jurídicas do calibre de mandados de prisão em flagrante, contra o peso de todo o aparato policial do estado, e diante de magistrados que são vítimas, investigadores e juízes ao mesmo tempo.
Com elevada capacidade técnica e linguística, defendemos estrangeiros das mais diferentes nacionalidades e atendermos a vítimas de crimes cibernéticos envolvendo hackers chineses, turcos e russos.
Serenidade e foco também nos permitiram ter sucesso nos mais difíceis casos do ponto de vista probatório, uma quase inversão do ônus da prova criminal. Em falsas alegações de violência sexual, o acusado inocente precisa constituir a mais diabólica das provas: que algo não aconteceu, quando a palavra da vítima é frequentemente considerada prova dos fatos.
Depois de rodar o mundo, vivo hoje o sonho de liberdade que me conectou ao Instituto Ling, em meu prol e em de meus clientes.
28.06.2024