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A trajetória de liderança da primeira bolsista do Instituto Ling, Daniela Barone Soares

A história do Instituto Ling como instituição que promove educação e a trajetória profissional de Daniela Barone Soares são indissociáveis. Em 1995, pouco após se formar em Economia pela Unicamp, ela foi a primeira bolsista do Instituto Ling, saindo de São Paulo para cursar MBA justamente em Harvard, a mais antiga e conhecida universidade dos Estados Unidos. Hoje, aos 50 anos, reside em Londres e atua como CEO da Snowball, um fundo de investimento que visa criar resultados positivos para as pessoas e o planeta, ao mesmo tempo em que gera atraentes retornos financeiros.

A trajetória de liderança da primeira bolsista do Instituto Ling, Daniela Barone Soares

Os critérios decisórios no processo de bolsas aqui do Instituto Ling são os mesmos desde então. E conhecendo a história de Daniela fica evidente identificar o “match” do perfil: potencial de liderança, excelente desempenho acadêmico e motivação para usar os conhecimentos adquiridos para atuar em prol da sociedade. Não à toa acumula reconhecimentos mundo afora, com prêmios como estar entre nas listas “20 pessoas que estão mudando o Brasil e o mundo para melhor” (2017, da Istoé Dinheiro) e “100 pessoas que fazem da Grã-Bretanha um lugar melhor” (2008, do jornal The Independent).

Mudar o mundo para melhor é um propósito real, iniciado aos 12 anos quando percebia as desigualdades existentes e pensava no que poderia fazer para ajudar. A menina que fazia voluntariado em instituições de atendimento a crianças, idosos e pessoas em situação de rua hoje atua em escala global. Tanto a atual posição quanto as experiências anteriores foram norteadas pelo objetivo de gerar mudanças positivas. Olhando para toda sua trajetória, é com alegria que compartilha cada etapa vivida desde aquela decisão de ir estudar fora aos 24 anos.

– Desejava muito ter uma experiência fora do Brasil, ampliar os horizontes no exterior. Depois disso tudo foi acontecendo de forma orgânica, uma coisa levando à outra, até hoje – conta Daniela. "Não tem preço conseguir trabalhar com o que você gosta, com algo pelo qual se tem paixão e que se alinha com seus valores. É extremamente gratificante.”

 

Aprovação em Harvard como ponto de partida

Se atualmente está na ponta dos dedos buscar informações sobre bolsas de estudo, digitando em um buscador e obtendo incontáveis resultados, vale lembrar que era tudo bem diferente nos anos 90. Quem viveu antes da chegada do digital procurava oportunidades de outras maneiras. Formada em Economia havia três anos e trabalhando na multinacional Citibank na capital de São Paulo, Daniela queria uma vivência fora do Brasil. Ensaiou ser transferida para outra sede do banco, em Nova York, mas o prazo previsto seria distante. O desejo de cursar uma pós-graduação já existia; por que não tentar fora do país, então? O aprofundamento em um MBA faria todo o sentido.

Por meio da Fundação Estudar conheceu o Instituto Ling. Descobriu só depois de aprovada em todo o processo seletivo que era a bolsista número 1 de todo o programa (agora, em 2023, mais de mil brasileiros já foram contemplados com bolsas de estudo, desde ensino fundamental a PhD). Com o aceite, partiu para inscrições nas universidades mais fortes que conhecia. Havia sido aceita nos programas de MBA na Wharton School, da Pensilvânia, e na Universidade de Chicago, resultados comunicados por correspondência.

– O aluno sabia que havia sido aprovado quando chegava um pacote bem pesado, cheio de papéis, pelo correio – recorda Daniela na nossa entrevista em maio de 2023, esta sim facilitada pelas ferramentas digitais.

Logo, quando recebeu pelo correio um envelope fininho com o logotipo da Harvard Business School, imaginou que não havia sido selecionada. Pelo contrário: era um convite para uma entrevista presencial no campus de Boston, no estado americano de Massachusetts. A viagem serviu para reforçar ainda mais a vontade de estudar na prestigiada instituição, o que ocorreu de 1995 a 1997, ampliando os horizontes exatamente como Daniela sonhava.

 

Talento para negócios direcionado ao terceiro setor

Um convite para trabalhar com private equity (patrimônio privado) a manteve nos EUA após o curso; no Brasil, esta área era ainda incipiente. Responsável por aquisições em mercados como Espanha, Portugal e Itália, anos depois passou a atuar no escritório da empresa em Londres. Até que em 2004 se deu uma importante transição de carreira, com a dedicação focada no setor social. O voluntariado nunca havia sido deixado de lado. A motivação para a mudança de área se deu ao colaborar com a fundadora de uma ONG que precisava de um plano de negócios. 

– Algo que é difícil para outra pessoa, como elaborar uma estratégia de negócios, era simples e intuitivo para mim. Percebi que meu conhecimento e habilidades poderiam ser úteis no terceiro setor. Esta experiência me deu o impulso de combinar a área de negócios com a social.

Daniela levou seu know how para dirigir a Aliança Internacional Save the Children em 2004, que engloba 29 países, ficando responsável pela estratégia e desenvolvimento dos fundos para a instituição. Dois anos depois, passou a presidir a Impetus, primeira organização no Reino Unidos a aplicar a abordagem de “filantropia de resultados” (venture philantrophy), modalidade de investimento que aplica conceitos do mercado financeiro no mundo da filantropia. O objetivo da organização é transformar a vida de jovens em situação de vulnerabilidade, garantindo que eles recebam o apoio certo para ter sucesso na escola, no trabalho e na vida. 

Acompanhar a linha do tempo da Impetus desde a chegada de Daniela até sua saída, após quase 10 anos, é testemunhar um case de sucesso. Quando assumiu o desafio, estava ao lado dos dois fundadores do projeto e mais uma funcionária. Ao se despedir da empresa, a Impetus somava 40 colaboradores e uma rede de mais de 200 parceiros. Outra métrica também impressiona: o funding inicial de £1 milhão havia crescido para quase £250 milhões. Em 2008, a ONG venceu o Charity Awards, prêmio que reconhece as principais organizações filantrópicas inglesas.  A organização Influenciou também políticas públicas, e Daniela foi conselheira do governo Britânico em 2013-15 quando o Reino Unido presidiu o G7 e montou uma iniciativa para desenvolver o mercado de investimento social. 

Para além dos números, vale destacar o pioneirismo de desenhar toda essa engrenagem, composta por uma pluralidade de partes envolvidas, desde governos e ONGS com seus beneficiários até empresas contribuidoras financeiras. Antes de dar o passo seguinte na carreira, organizou com cuidado sua saída da empresa, em um processo de sucessão pensado e planejado.

– É uma questão muito importante: como se constrói uma organização resiliente, que não dependa de uma só pessoa? Na minha experiência, é preciso existir uma liderança distribuída. Ter clareza da estratégia, contratar uma equipe excelente que compartilhe a mesma visão de futuro e empoderar as pessoas para terem autonomia. É impossível fazer qualquer coisa sem time: você faz através dos outros. 

 

Abrindo caminhos para gerar impacto em escala

“Snowball” significa “bola de neve”, nome mais do que apropriado para definir a proposta da empresa em que Daniela é CEO desde 2019. O Snowball é um fundo de investimento diversificado que foca em soluções práticas e com escala para contribuir para a equidade social e questões ambientais –  gerando retornos financeiros atrativos. Para Daniela, investimento precisa vir de mãos dadas com impacto legítimo: é a única forma de investir se quisermos prosperidade para todos, num planeta saudável. 

Ao olhar para as oportunidades, a procura é por projetos que possam ser replicados e abrir caminhos para mais financiamento, colocando então a bola de neve das mudanças positivas em movimento. 

– Quanto mais a gente faz, mais a gente entende que esta não é uma classe diferente de ativos: é uma nova forma de investir e é a melhor para garantir sustentabilidade no mundo – define a CEO. – São investimentos em projetos que chamamos de “lockstep”. Quanto mais o impacto aumenta, mais o lucro aumenta. E vice-versa. Olhamos para modelos de negócios onde os dois fatores andam juntos.

Dois exemplos de investimentos resumem a dinâmica da Snowball, empresas que são consideradas unicórnios, startups inovadoras que valem mais de US$ 1 bilhão antes mesmo de entrar em bolsa de valores. Uma delas é na Indonésia, país com milhões de pequenos aquicultores que vivem da pesca. Com o uso de um sensor inteligente que fica submerso e alimenta os peixes de forma precisa, é possível economizar até 50% dos custos. O efeito bola de neve se dá no impacto ambiental e social, pois a redução no custo dos pequenos aquicultores melhora a qualidade de vida das famílias e a quantidade correta de alimentos impacta positivamente o meio-ambiente local.  A tecnologia ainda tem grande potencial de expansão para outros países.

Alinhada ao conceito da economia circular, outra empresa aposta no aluguel de todos os tipos de eletrônicos, de computadores e videogames até scooters. O consumidor paga uma mensalidade e utiliza o equipamento que desejar, seja um smartphone de última geração ou um drone. Quando não quiser mais, devolve à startup, que fará a manutenção ou, caso esteja no fim de sua vida útil, encaminha para reaproveitamento de peças e reciclagem. Com esse modelo de tech rental, ocorre uma melhor utilização dos recursos e a consequente redução do desperdício de lixo eletrônico. É com orgulho e brilho nos olhos que Daniela contou sobre cada um desses detalhes acima.

– Saber que estou fazendo o meu melhor, dentro de uma proposta que é eticamente alinhada com meus valores e minhas habilidades, é a própria definição do “Ikigai”, o propósito de vida. É muito gratificante contribuir para solucionar esses problemas complexos do mundo.

 

Recarregando energias

O trabalho tão intenso em Londres exige pausas de tempos em tempos para recarregar as energias, como as visitas ao Brasil pelo menos duas vezes por ano, e aproveitar para curtir o mar. Natural de Belo Horizonte, Minas Gerais, Daniela busca a natureza também em outros cantos do planeta. Na semana em que conversou conosco para esta entrevista, havia acabado de voltar de uma aventura no norte do País de Gales. Ao lado do companheiro e também do enérgico shih-tzu Elvis, estava renovada pelo hiking, com trilhas de até 20 quilômetros por dia, montanha abaixo e montanha acima.

Nas viagens ao Brasil é hora de matar a saudade da família e amigos, especialmente do pai e da mãe, lembrando com carinho dos aprendizados e do exemplo que recebeu. Vindo de família humilde, o pai de Daniela conquistou mobilidade social graças aos estudos, sendo o primeiro que cursou faculdade e mestrado em sua época. Na infância e na adolescência, já morando em São Paulo, Daniela lembra que sempre houve o incentivo para ela e para o irmão estudarem, tanto idiomas quanto música ou esporte. Demais gastos não eram prioridade.

– Educação sempre foi o mais importante na nossa família. Juntamente com a ética, integridade e respeito à vida e ao planeta,  foram os valores transmitidos a nós, filhos, e são os valores em que também acredito  – conclui.

 

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