• início
  • blog
  • MBA/MPA
  • Inovação na área da saúde no Brasil: a jornada da engenheira Isadora Kimura

Inovação na área da saúde no Brasil: a jornada da engenheira Isadora Kimura

A semente para empreender foi plantada no coração de Isadora Kimura (MBA 2016) na primeira vez em que pisou no Vale do Silício, ainda antes de se formar em Engenharia Mecânica. E o sonho de estudar em Stanford veio assim que conheceu o campus da universidade. A aprovação para cursar o MBA na renomada instituição abriu um universo de novas possibilidades. Hoje, a engenheira é CEO e uma das fundadoras da healthtech brasileira Nilo, dedicada a criar soluções digitais para empresas de saúde que desejam humanizar o atendimento digital a pacientes.

Inovação na área da saúde no Brasil: a jornada da engenheira Isadora Kimura

Para entender o alcance inovador destas soluções, vale explicar que desde 2002 o Conselho Federal de Medicina (CFM) já autorizava a telemedicina no Brasil. Porém, somente após a pandemia de covid-19, a prática foi liberada com a aprovação da Lei 13.989/2020 – e todos nós, até do “lado de cá” como pacientes, presenciamos o crescimento do setor. Mas quando a Nilo surgiu, em setembro de 2019, fundada por Isadora e os sócios Rodrigo Grossi e Victor Marcondes, era comum o feedback com comentários descrentes.

– Ouvíamos que era impossível dar certo – recorda Isadora, lembrando dos primeiros tempos, nem tão distantes assim. – A pandemia acelerou a transformação digital das empresas. E este mercado de tecnologia para o setor de saúde está apenas no início de sua revolução – afirma a CEO da Nilo.

A jornada de Isadora desde a época da graduação até a escolha por empreender é cheia de aprendizados a compartilhar. Começa pela decisão de cursar Engenharia Mecânica no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos, após se encantar pela instituição, criada com inspiração no modelo de ensino do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos EUA. 

Nascida no Rio de Janeiro, Isadora morou em Curitiba até os 6 anos e em Belo Horizonte até o fim da adolescência. A história de como conheceu São José dos Campos é curiosa. Quando estava no Ensino Médio, em um colégio pequeno, que cursava com bolsa integral por mérito, soube de uma escola inovadora que estava despontando em BH. Deixou uma cartinha escrita à mão endereçada ao diretor. Era o Colégio Bernoulli, à época com foco pré-vestibular e hoje colégio multicampeão do Enem. Por conta de suas excelentes notas, a jovem foi chamada por um dos cofundadores, os dois irmãos que dão nome à instituição, a estudar no Bernoulli e a conhecer o ITA, onde ambos estudaram.

– Fui com meu pai visitar o campus e fiquei super empolgada. Soube que queria fazer parte daquele universo, compartilhar daquela visão de ciência e tecnologia com tantas possibilidades – conta Isadora, que realizou o sonho e foi aprovada em 2008 para o curso de Engenharia Mecânica.

Quase na reta final da vida universitária, surgiram dúvidas sobre o futuro profissional. Com sua personalidade curiosa e interesses tão diversos como Filosofia, Música, Arquitetura e Economia, o penúltimo semestre trouxe questionamentos sobre qual caminho seguir. Mais uma vez, o pai deu o apoio fundamental no caminho, sugerindo que a filha trancasse a faculdade em vez de começar outra.

Naquele período, o convite de um amigo que morava em San Francisco, na Califórnia, acabou sendo providencial. Estava dando início a uma nova empresa, uma plataforma de investimentos, e pela experiência prévia de Isadora em estágios e empregos durante a faculdade, ela tinha o perfil ideal. Aquele ano inteiro de 2012 no Vale do Silício, uma das maiores aglomerações de empresas com domínio de tecnologia de ponta do mundo, rendeu uma experiência transformadora.

– Abriu meus olhos em relação a possibilidades de empreendedorismo. Conheci várias pessoas que me inspiraram muito nesse tempo lá. Inclusive várias eram engenheiras, o que me deu um estalo. A viagem abriu a cabeça para enxergar um mundo de possibilidades. Entendi que a Engenharia em si tinha a ver com o que fazer, não só “como” fazer – narra.

 

A decisão de cursar um MBA

Ao lado do Vale do Silício, na região de Palo Alto, na Califórnia, está uma das universidades mais renomadas do mundo. Quando visitou o campus de Stanford pela primeira vez, Isadora ficou impactada e passou a sonhar com o dia em que voltaria como estudante, ampliando ainda mais seus conhecimentos. 

Primeiro era preciso voltar ao Brasil e concluir a faculdade, o que aconteceu em seguida, em 2013. Focada no objetivo, recusou propostas de trabalho que a manteriam na trilha da consultoria e abraçou a oportunidade de atuar em uma startup. Foram quatro anos como product manager na Geekie, plataforma de tecnologia que oferece soluções educacionais personalizadas, adequando o ensino ao perfil de cada aluno.

Estar imersa no ecossistema de tecnologia deu a certeza de que era o ambiente onde queria seguir atuando. Mas o desejo de se aprimorar ainda mais estava latente. Como tantos outros estudantes, esbarrava no desafio de financiar uma pós-graduação, ainda mais sendo no Exterior. Pesquisando alternativas para obter recursos, conheceu o Instituto Ling. Aprovada no processo seletivo de bolsas, comemorou a chance de viabilizar o sonho do MBA em Negócios. 

No ano em que viajou para Stanford, em 2016, também recebeu bolsa da Fundação Lemann e o título de Person of The Year Fellow pela Brazilian-American Chamber of Commerce. O mestrado na School of Business teve duração de dois anos, com dedicação total ao ambiente acadêmico. Após a conclusão, Isadora ainda ficou mais um ano morando na San Francisco Bay Area trabalhando na BetterUp, uma startup que fornece serviços de saúde mental. Na prática, é uma plataforma móvel que conecta colaboradores de empresas a serviços de psicologia e coaching individual com objetivo de promover mais qualidade de vida. E tudo isso de forma online e com valor acessível.

A atuação na BetterUp, atualmente uma das top unicórnios digitais nos EUA, motivou Isadora a querer trazer modelo semelhante para o Brasil.  

– A ineficiência no setor de saúde custa muito mais do que perdas financeiras, ou seja, a falta de acesso custa vidas. A experiência do paciente é muito quebrada hoje no sistema de saúde brasileiro. Imagina o impacto que teríamos se a gente conseguisse fazer esse modelo no Brasil com diferentes especialidades a baixo custo, em escala, usando a tecnologia? 

 

Soluções focadas na experiência do paciente

A ideia não ficou só na imaginação, e é por isso que hoje existe a Nilo Saúde. O nome da healthtech tem como origem o Rio Nilo, o mais extenso do mundo, para passar a visão de fluidez da vida, de passagem, de longevidade, uma analogia com o tipo de cuidado prestado na startup. Focada na prevenção e promoção de um envelhecimento saudável, é uma clínica multidisciplinar e virtual com o objetivo de solucionar uma série de problemas existentes no atendimento médico. 

Além da experiência no setor, os três fundadores compartilhavam o fato de terem enfrentado experiências pessoais na lida com doenças na família, como a avó de Isadora, que estava em processo de diagnóstico do Alzheimer.

O modelo da Nilo permite tratar cada paciente de maneira única, criando uma porta de entrada aproveitando o popularizado uso do WhatsApp, permitindo uma triagem dos casos de maneira escalável. Além das indicações de consultas com especialistas, inclui lembretes de marcação de exames e remédios, prescrição médica e link para as teleconsultas. Outras empresas podem utilizar a plataforma da Nilo e lançar seus próprios planos de saúde digitais, uma demanda acelerada pelos novos comportamentos pós-covid 19.

– Durante a pandemia, a gente percebeu uma mudança de paradigma, com muitas pessoas que deixaram de se deslocar para espaços físicos de cuidados. Ou seja, todo o sistema de saúde estava precisando de uma plataforma tecnológica para que esse atendimento acontecesse à distância, de uma maneira mais custo-efetiva – explica Isadora, referindo-se a clientes como hospitais, clínicas e laboratórios que utilizam as soluções da Nilo, que hoje conta com 120 funcionários.

Um dos cases de grande sucesso é o projeto TeleNordeste, em uma das regiões brasileiras com a menor razão de médicos por mil habitantes. Na parceria com o Proadi-SUS, o programa permite acesso a profissionais da Medicina de hospitais privados para realizar atendimentos virtuais em unidades básicas (UBS) no Nordeste. É com orgulho que Isadora relata essa inovação, que permite levar a expertise de especialidades mal distribuídas no Brasil a quem não teria acesso de outra forma.

 

Propósito compensa os desafios diários do empreendedorismo 

“An entrepreneur at heart”, uma empreendedora de coração, é o que diz a biografia resumida da engenheira no LinkedIn. A frase foi escrita no retorno ao Brasil após a primeira experiência no exterior e ainda se mantém fiel ao propósito de Isadora: fazer grandes produtos e projetos acontecerem e inovar para o desenvolvimento social.

– Pensar que estou colaborando para mudar a vida das pessoas de forma significativa é o que me motiva –  resume. –  Não é pelo clichê de “mudar o mundo”: se você vai fazer algo por muito anos é preciso acreditar. Não é só a compensação financeira de um negócio: tem que ter algum nível de transcendência. É aquela motivação que nos faz seguir em frente diante dos altos e baixos que existem. 

Para dar conta da vida intensa de empreendedora, a engenheira segue a filosofia do “walk the talk” e não descuida da própria saúde. Praticante de basquete na infância e na adolescência, segue conectada com práticas esportivas, mas tem preferido outras atividades, como a yoga, que considera uma terapia diária. Aos 34 anos, vive em São Paulo com o namorado americano, relacionamento que começou na época em que morou na Califórnia. Agora, constroem um novo capítulo por aqui, conhecendo a cultura brasileira. 

leia também

Inspirando liderança e inovação: a história de Bruno Yoshimura

“Sejam empreendedores”. Este foi o conselho que Bruno Yoshimura e sua irmã ouviram do pai desde a infância. Como garoto interessado por tecnologia, Bruno não apenas seguiu a orientação, mas foi além:  passou a desenvolver sites e, aos 14 anos, havia transformado o hobby em negócio, chamando a atenção de grandes empresas de tecnologia. Antes de ir para o MBA em Stanford em 2017, já havia lançado o guia online Kekanto e o Delivery Direto, plataforma vendida à Locaweb em 2019. Hoje, à frente do fundo de venture capital ONEVC, ajuda startups brasileiras a terem acesso a capital e ao estado da arte na área da TI, aproximando o Brasil do Vale do Silício.

Ler mais

O papel da logística no Brasil, com Pedro Palma

Um dos maiores exportadores agrícolas do mundo, o Brasil depende de excelência logística para que a produção chegue aos mercados consumidores. Essa é uma das missões do engenheiro Pedro Palma à frente de uma gigante nacional na área, a Rumo, onde ocupa o cargo de CEO desde março deste ano. Quando ainda poucos jovens do Nordeste faziam MBA, em 2001 Pedro trocou a segurança do emprego em sua Recife natal pelo curso na London Business School, para o qual contou com apoio do Instituto Ling. Na conversa com o blog, ele compartilha sua trajetória desde então e fala da importância da logística para a economia brasileira.

Ler mais

Tudo é possível | Como sair da zona de conforto nos leva a lugares inimagináveis, Por Alex Anton*

Curiosidade sempre foi uma característica forte da minha personalidade. Acho que foi por isso que, aos 18 anos, devorei um livro que narrava as aventuras de um jovem gaúcho que rodou o mundo com a grana curta e muito espírito aventureiro. O livro era enxuto, porém recheado de histórias que me fizeram acreditar que algo tão inusitado para a minha realidade da época era possível. Era 2001, e eu estava apenas no segundo ano da faculdade na minha linda Florianópolis. Como largar tudo e viajar era inviável, fui atrás de oportunidades que combinassem crescimento profissional, uma frente sempre muito importante para mim, com a expansão dos meus horizontes pessoais. Queria aprender para minha carreira, mas, acima de tudo, queria aprender para a vida. Floripa era linda, mas eu me sentia, literalmente, ilhado. Eu queria mais, e fui atrás. Depois de muito suor, veio a sonhada bolsa de estudos para a realização de um estágio científico em Potsdam, na Alemanha. Em 2003 eu parti sozinho pela primeira vez e essa foi a experiência formativa que definiu muito do que aconteceria depois.

Ler mais