Inspirando liderança e inovação: a história de Bruno Yoshimura

“Sejam empreendedores”. Este foi o conselho que Bruno Yoshimura e sua irmã ouviram do pai desde a infância. Como garoto interessado por tecnologia, Bruno não apenas seguiu a orientação, mas foi além:  passou a desenvolver sites e, aos 14 anos, havia transformado o hobby em negócio, chamando a atenção de grandes empresas de tecnologia. Antes de ir para o MBA em Stanford em 2017, já havia lançado o guia online Kekanto e o Delivery Direto, plataforma vendida à Locaweb em 2019. Hoje, à frente do fundo de venture capital ONEVC, ajuda startups brasileiras a terem acesso a capital e ao estado da arte na área da TI, aproximando o Brasil do Vale do Silício.  

Inspirando liderança e inovação: a história de Bruno Yoshimura

O conselho paterno soava estranho em 1998, uma época em que pouco se falava em empreendedorismo. Os pais de Bruno, descendentes de japoneses, sempre enfatizaram a importância do esforço e da busca pelo aprimoramento para obter resultados. O caminho de sucesso – que teve, claro, com alguns percalços - trilhado desde a infância até a fundação da ONEVC teve como base outro valioso conselho, este reforçado constantemente por sua mãe: você não tem que querer ser melhor que os outros, mas deve se esforçar para ser o melhor que puder ser.

Nascido há 38 anos em São Paulo, Bruno ainda muito jovem mostrou interesse pelo mundo da tecnologia e inovação. Fascinado por computadores, conta que começou a mexer com as máquinas para fazer desenhos. Logo passou a instalar componentes e, finalmente, consertava sozinho o próprio computador. Em 1997, a irmã mais velha aprendeu e o ensinou a fazer sites. Divertindo-se com a ideia de que qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo poderia acessar um conteúdo que ele tivesse colocado na rede, Bruno criou diversos sites sobre assuntos que variavam desde jogos a música, apenas para acompanhar os acessos em suas páginas. Em dado momento, conta que chegou a ter dezenas de sites simultaneamente no ar.

“Eu tinha uns 14 anos quando minha irmã e eu começamos a prestar serviços formalmente para outras pessoas, criando sites e oferecendo suporte. Além de entregar um bom resultado aos clientes, em casa era cobrado por excelência também na escola. Enquanto meus amigos apenas se preocupavam em estudar, eu conciliava os estudos com o trabalho. Era difícil, mas eu gostava muito”, conta.

Em 1998, insatisfeito com os buscadores virtuais então existentes, seu pai sugeriu que criasse um portal de buscas capaz de fazer uma varredura mais assertiva e completa na internet. Assim surgiu o Link Gratis, que funcionava como um diretório, que rapidamente atraiu a atenção dos usuários. E o que começou como uma simples brincadeira logo se transformou, sem querer, em um negócio sério, à medida que percebeu o potencial de ganhos com anúncios online.

O sucesso do site criado por um adolescente, à época com apenas 15 anos, repercutiu na imprensa, fazendo com que reportagens sobre o jovem prodígio da web pipocassem em jornais e revistas de grande circulação. Como resultado da repercussão, Bruno viu não apenas o número de acessos a seu portal aumentar, mas também o interesse de novos anunciantes. Empresários da área de tecnologia, curiosos e empolgados com suas realizações, também se aproximaram.

Bruno conta que essa fase da sua vida foi marcada pelo apoio de muitos mentores, mas uma empresa em especial, que despontava no mercado, liderando inovações tecnológicas trazidas do Vale do Silício, teve grande impacto em sua trajetória: o Mercado Livre.

“Eles me chamaram para uma reunião - quando eu nem sabia o que era uma reunião – e disseram: ‘Você está indo muito bem, crescendo muito, e queremos te ajudar a crescer ainda mais’. Fechamos um contrato de exclusividade para eu anunciar todos os seus produtos no meu portal e eles me ensinaram a fazer o site ficar muito grande, colocar ele no Google, ficar em primeiro lugar no buscador. Hoje em dia essas coisas são comuns, mas na época, eram de conhecimento restrito e o Mercado Livre detinha o ápice do knowhow nessa área”, conta. “Daquele momento até 2006, o Link Gratis tornou-se um dos maiores portais do Brasil, superando até mesmo veículos renomados como o Estadão em número de acessos.” 

“Inicialmente, adentrei o mundo da programação de forma descontraída, apenas por diversão. Na época, meu foco não era ser um grande empreendedor, mas sim aprender a programar melhor. Foi assim que descobri o curso de Ciência da Computação, e quando fui aprovado na USP em 2004, aos 17 anos, comprei meu primeiro carro com o dinheiro que ganhava com o portal, mesmo sem ainda poder dirigir. Enquanto Ciência da Computação era um campo desconhecido para muitos na época, para mim foi uma aposta que deu certo”, conta.

 

 

Conexões e oportunidades

Enquanto conciliava a faculdade com a gestão do portal, Bruno, que nutria o sonho de um dia estudar no exterior, não hesitou em candidatar-se a uma vaga no David Rockefeller Center for Latin American Studies, da Harvard University, tornando-se o primeiro estagiário de tecnologia da instituição.

“Durante a faculdade fiz sites, sistemas para outras pessoas e empresas, fiz estágios e me engajei em todo o tipo de oportunidade”, relata. No IME Jr - Empresa Júnior do IME-USP, Bruno conheceu Fernando Okumura, e Allan Panossian e, em 2009, fundaram juntos o Kekanto, um guia de restaurantes que se tornou um dos primeiros aplicativos geolocalizados da Apple, em uma época em que o Android ainda não existia – surgiu um ano depois. Bruno destaca a importância das conexões feitas ao longo de sua trajetória: “Um dos primeiros investidores a apostarem na Kekanto, foi a Kaszek, que tinha entre seus fundadores um cofundador do Mercado Livre, voltando na minha história.”

A Kekanto cresceu, ganhou mercado e chegou a atrair a atenção de uma grande empresa americana. Os sócios, entretanto, empolgados com o crescimento, optaram por não vendê-la. Infelizmente, após recusarem a proposta, o mercado mudou, tornando-se muito desfavorável. Em 2016, precisaram repensar a estratégia e decidiram que era hora de parar tudo e recomeçar do zero, com recursos limitados, mas com determinação para seguir em frente. A difícil conversa com um dos investidores os inspirou a mudar o rumo e, a partir de uma ideia lançada pelo CMO de outra empresa, então cliente da agora extinta Kekanto, lançaram o Delivery Direto, um aplicativo para restaurantes premium que não queriam divulgar seus negócios nos grandes aplicativos de alimentação disponíveis.  

Bruno comenta que tinha o perfil típico de um engenheiro da área de tecnologia. Era tímido, detestava falar em público, não gostava de lidar com ligações, ou qualquer atividade que não estivesse relacionada à parte técnica do trabalho. Apesar de não se considerar um líder natural, percebeu a necessidade de impulsionar o negócio, focando não apenas no desenvolvimento do software, mas também nas estratégias de marketing e vendas.

“Ali tomei uma das decisões mais difíceis da minha vida, que foi começar a atuar com vendas. Foi uma das fases em que mais aprendi – comparada apenas com o meu MBA. É muito desconfortável, mas muito útil para a vida aprender a se comunicar, a vender um produto. Motivar desenvolvedores era algo que dominava, mas motivar uma equipe de vendas era um desafio constante, especialmente sendo jovem e precisando de apoio”, relembra. Sair de sua zona de conforto foi uma escolha arriscada, porém acertada. A Delivery Direto cresceu, se consolidou no mercado e, quando ficou claro que não tinha mais como dar errado, Bruno e os sócios decidiram que era hora de colocar o negócio à venda.

 

MBA em Stanford e empreendedorismo no Brasil

Com a decisão de vender a Delivery Direto tomada, Bruno entendeu que era o momento ideal para aplicar para o tão desejado – e postergado - MBA. “Cheguei a Stanford com 30 anos de idade. O que eu fui buscar não é exatamente o que a maioria das pessoas busca no MBA. Fui em busca de conhecimento técnico de investimento: macroeconomia, microeconomia, modelagem, etc. Via o período no Vale do Silício como uma oportunidade de refletir e aprender para tomar os próximos passos em direção a um propósito que já estava claro para mim. Queria concluir os dois anos de estudos e retornar ao Brasil para ajudar os empreendedores brasileiros, contribuindo para esse ecossistema do qual eu fazia parte”, explica.

Expectativas à parte, Bruno conta que aprendeu muito mais do que esperava. “Stanford é excelente para desenvolver softskills. Aprendi valiosas lições sobre tomada de decisões e a importância da comunicação estratégica, um aspecto muitas vezes subestimado, mas essencial para o sucesso. No Brasil, a comunicação, especialmente em faculdades de exatas, tende a ser subestimada. Nos Estados Unidos, os alunos participam ativamente, contribuindo para discussões e levantando questões. Aprende-se a estruturar o pensamento, dosar o momento certo de falar e se expressar de forma clara e assertiva”, explica. 

Para além de todo o aprendizado, Bruno afirma que a maior contribuição de Stanford foram as conexões estabelecidas no programa. “O convívio intenso por dois anos proporciona uma rede de contatos valiosa e muito forte, que pode ser fundamental para o sucesso profissional. A diversidade de habilidades presentes em um ambiente de MBA é impressionante, enriquecendo as discussões e projetos desenvolvidos. Você volta mais humilde dessa experiência. Você olha para a sua turma, e todos na sua volta são realmente geniais, todos ali são referência em algum assunto”, pontua.

“Penso que QI é importante, mas eu precisei aproveitar outras habilidades para compensar. Especialmente na indústria em que atuo hoje, de venture capital, ser carismático, se relacionar bem, saber vender, conseguir se conectar com as pessoas são características essenciais. Desafiar-se a explorar novas possibilidades e desenvolver novas habilidades tem sido a chave para meu crescimento profissional. Sempre fui muito esforçado e muito resiliente, e acho que a combinação desses dois fatores foi o que me tornou um bom empreendedor”, reflete.

Para Bruno, é fascinante observar a evolução do cenário de empreendedorismo, tanto no Brasil quanto no exterior, e fazer parte desse movimento de transformação e inovação. “O empreendedorismo é uma fonte constante de inspiração e fascínio, e estou comprometido em compartilhar meu conhecimento e experiências para incentivar o surgimento de novas ideias e negócios de sucesso. Quando iniciei minha jornada, havia poucos exemplos no Brasil de pessoas que saíam da faculdade para empreender e inspirar outros. Minha missão era orientar empreendedores e estudantes universitários, mostrando-lhes as possibilidades que poderiam alcançar”.

Desse propósito, nasceu a ONEVC, fundo de investimentos cofundado por Bruno entre 2016 e 2017. “Começamos ajudando a trazer a Rappi para o Brasil. Ainda não tínhamos exatamente um fundo consolidado, fazíamos investimentos de projeto em projeto, chamando os amigos para investir. A ideia era constituir o fundo durante o MBA, e o timing foi perfeito para isso, porque o mercado estava muito aquecido”, conta.

A rotina intensa de trabalho somada à carga de estudos de um MBA full time era exaustiva. Apesar disso, Bruno afirma não ter desperdiçado nenhum momento do mestrado, sendo um dos poucos em sua turma que deu conta de ler todos os cases apresentados, participado de todas as aulas e se dedicado a todos os projetos enquanto trabalhava para a consolidação da ONEVC. Ao final do primeiro ano, conta que precisava de uma “folga” do empreendimento, e decidiu fazer um summer job em uma área completamente diferente, em uma empresa de turismo.

Retornou do summer com as baterias recarregadas e, no segundo ano do MBA, juntamente com outros cinco ou seis colegas, fundou a Brazil at Silicon Valley, conferência que, com o tempo, ganhou o apoio de alunos da universidade de Berkeley e tornou-se um grande movimento que conecta empreendedores brasileiros ao Vale do Silício, visando elevar a competitividade do país através da tecnologia. Para Bruno, a fundação da Brazil at Silicon Valley é um legado do qual sente muito orgulho em função do impacto concreto dessa iniciativa. Além do surgimento de inovadores empreendimentos brasileiros a partir de ideias discutidas nas conferências lá promovidas, o movimento também tem contribuído para o aumento de investimentos norte-americanos no Brasil.”

Concluído o MBA, Bruno retornou sua dedicação total à ONEVC que, desde então, cresce enquanto ajuda outras empresas a crescerem. “Temos ajudado muita empresa legal, auxiliando os fundadores do ponto zero ao um. Ajudamos a montarem o time de tecnologia, a trazer investimento de fora e nós também investimos. Claro que somos um business, mas nosso negócio é também nossa missão, a de impulsionar os empreendimentos brasileiros”, explica.

Questionado sobre planos para a abertura de outros negócios, o empreendedor-serial diz acreditar que a ONEVC será seu foco até a aposentadoria. “Da forma como atuamos, acho que fazemos mais do que um simples fundo de investimentos. Sinto como se estivéssemos constantemente co-empreendendo. A ONEVC é o projeto da minha vida. Eu já via o empreendedorismo como uma maneira de impactar positivamente. Mas agora, sendo fonte de recursos para startups, sinto que estou um passo antes ou acima. É muito gratificante contribuir dessa forma para o ecossistema. É muito diferente do que eu fazia antes, mas sinto que é exatamente o que eu buscava quando apliquei para o meu MBA”, diz.

 

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