JULIA DE LAMARE, ADVOGANDO EM PROL DO MEIO AMBIENTE

A pauta climática não era tão corriqueira quando Julia de Lamare se interessou pelo tema durante a graduação na FGV Direito Rio. No Brasil, atuou como advogada ambiental por seis anos e cursou um mestrado e uma pós-graduação, mas logo percebeu que a regulação do meio ambiente era mais sofisticada e madura nos Estados Unidos. Decidiu então que gostaria de estudar por lá e assim veio a aprovação para o LLM - Master of Laws na Universidade de Stanford (2019-2020), focado na área de Environmental Law and Policy (Direito e Política Pública Ambiental). Hoje, aos 33 anos, trabalha em São Francisco, na Califórnia, no que chama de seu emprego dos sonhos, com brilho nos olhos: o cargo de Clean Energy Advocate na ONG internacional Natural Resources Defense Council, focada em políticas públicas para proteger o clima e o meio ambiente.

JULIA DE LAMARE, ADVOGANDO EM PROL DO MEIO AMBIENTE

O primeiro contato com o segmento do meio ambiente surgiu durante um intercâmbio da faculdade para a Holanda, quando participou de uma aula de direito ambiental que despertou seu interesse. À época, cursava Direito na Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro. Ao retornar, chegou a hora de cursar a mesma disciplina. Por coincidência,  a FGV era a única universidade do RJ com Direito Ambiental obrigatório na grade curricular até então.

O primeiro estágio já foi na área do direito ambiental, assim como o tema do trabalho de conclusão de curso em 2013, aos 23 anos. Julia escreveu a monografia sobre as possíveis contribuições da análise de custo-benefício como método de decisão para a criação de normas sobre meio ambiente, tendo como pano de fundo a edição do então chamado Novo Código Florestal (Lei 12.651/2012). O trabalho recebeu menção honrosa no Prêmio Miranda Rosa de Qualidade, da FGV.

Atuando como advogada em um grande escritório no Rio – Rennó, Penteado, Reis & Sampaio Advogados, onde ficou por seis anos – Julia lidava no dia a dia com vários órgãos ambientais e diferentes tipos de regulamentação existentes. Surgiu, então, uma curiosidade intelectual sobre o processo de elaboração de normas ambientais no Brasil. Quais são os critérios considerados pelos reguladores? Quais são as ferramentas usadas na tomada de decisão? Como tornar a elaboração de normas ambientais mais eficiente? Para responder a essas perguntas, Julia conciliou a atuação como advogada com o mestrado acadêmico em direito da regulação também na FGV Direito Rio.

Em seguida, mais uma pós-graduação no Brasil, desta vez na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), com o Master of Business and Environmental Resources, dentro do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia. Durante o curso, finalizado em 2017, teve contato com temas técnicos de diferentes ciências, como engenharia, biologia e economia.

– Depois de tantos anos estudando aqui, chegou a hora de ter contato e aprender com ordenamentos mais maduros e sofisticados. Eu pensava: "Quero ir para os Estados Unidos estudar esses temas" – relata.

 

Um novo capítulo de estudos, agora no Exterior

Assim foi dada a largada para realizar o desejo de cursar um LLM – Master of Laws – nos Estados Unidos, onde as agências ambientais já acumulavam grande experiência na utilização de ferramentas econômicas e de conceitos emprestados das ciências naturais. Aceita no programa de Environmental Law and Policy da Universidade de Stanford, era hora de buscar financiamento, o que ocorreu no processo seletivo de bolsas do Instituto Ling em 2018.

Além das muitas matérias oferecidas pela escola de direito, a advogada também mergulhou nas oportunidades de estudo interdisciplinar que este LLM oferecia, como disciplinas em departamentos como School of Earth, Energy & Environmental Sciences.

– É a oportunidade de entrar em contato com um conhecimento de ponta e refletir sobre como melhorar a regulação ambiental no Brasil – narra Julia, na conversa direto do campus de Stanford, onde ainda mora desde então.

Logo que concluiu o curso, a brasileira conseguiu uma oportunidade que define como “o emprego dos sonhos” na Califórnia: hoje está atuando com políticas públicas em uma organização de mais de 800 funcionários e com tradição de mais de 50 anos nos EUA, com escritórios em vários estados americanos. O cargo de Clean Energy Advocate na ONG internacional Natural Resources Defense Council é a realização do propósito de trabalhar ajudando os reguladores a elaborarem as melhores normas ambientais.

– A NRDC é a maior organização de environmental advocacy dos Estados Unidos. Trabalho no programa de Clima e Energia Limpa liderando as estratégias regulatórias para cumprimento dos objetivos de descarbonização na Califórnia. Me sinto muito privilegiada de ter chegado até aqui e quero absorver o máximo de conhecimento possível. Meu sonho é encontrar uma forma de aplicar o que aprendo na NRDC ao Brasil e ajudar o nosso país a usufruir dos benefícios climáticos, ambientais, sociais e econômicos decorrentes da descarbonização.

A ONG tem doadores de todos os portes e perfis, desde cidadãos anônimos até o fundador da Amazon, Jeff Bezos, passando por celebridades como Leonardo DiCaprio e Meryl Streep, o que deu ainda mais notoriedade ao trabalho ambiental. A atuação é internacional e inclui projetos na China e na Índia, com pontos de contato na América Latina.

– Quero que meu próximo projeto na NRDC seja relacionado ao Brasil. Estou desenvolvendo uma pauta sobre Amazônia e tenho certeza que teremos muitas oportunidades com parceiros locais – comenta empolgada e desde já com a nossa torcida também.

 

Iniciativas sustentáveis em alta mundo afora

Se hoje em dia vemos grandes ícones do mundo corporativo falando sobre pauta climática, há 10 anos definitivamente não era assim. Até mesmo no período logo antes da pandemia, como destaca Julia, a temática ambiental era de acesso mais restrito e vinha com estereótipos.

– Quando comecei a estudar o assunto, havia duas visões polarizadas para quem trabalhava na área de meio ambiente: ou você era taxado de “ecochato” ou de poluidor. Essa abordagem não era produtiva. . Com a pandemia, as pessoas entenderam que esse é um tema que dizia respeito a todos, e não a um segmento específico. Fiquei muito feliz, já estava na hora de virar uma preocupação global – comenta. – Atualmente, o tema está na pauta de pessoas que não necessariamente trabalham com clima. Grandes corporações, fundos de investimento, bancos e a indústria finalmente estão investindo e promovendo ações ambientais, o que é muito positivo. Por estar nesta área há muito tempo, vi essa mudança acontecer e sei que só tende a melhorar.

Enquanto na perspectiva profissional o foco está na atuação dos reguladores e tomadores de decisões, na perspectiva individual Julia observa que a questão de hábitos já é uma cultura enraizada onde vive, como a economia de recursos e as práticas da população, desde reciclagem até a coleta de resíduos ou evitar uso de plásticos.

–  Como indivíduo, temos que colaborar com tudo o que é possível ser feito, cada um tem que fazer o que pode. Mas hoje em dia o problema chegou em nível de escala global, que demanda uma escala de solução também global. Tenho orgulho de poder pensar nestas questões macro e dar minha contribuição. É aquela frase clichê verdadeira: não existe planeta B, não existe plano B quando o assunto é o nosso planeta. A gente precisa pensar nisso e agir –  conclui.

04.08.2023

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