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A expressão criativa nos negócios: para Gabriel Migowski, empreender é uma arte

Em 2009, o engenheiro com MBA em Stanford decidiu sair do setor de consultoria e pôr as mãos na massa: junto de amigos que se tornaram sócios, fundou a primeira empresa aérea de baixo custo da Colômbia. No trajeto, aprendeu que criar e gerir startups não é uma ciência exata, mas um ofício que exige criatividade e inovação. Movido pelo desejo de empreender e pelo instinto de arriscar, hoje Gabriel Migowski sonha em reinventar a forma com que as companhias aéreas operam seus negócios – e melhorar a experiência dos usuários.

A expressão criativa nos negócios: para Gabriel Migowski, empreender é uma arte

Engenheiro elétrico graduado pelo Instituto Militar de Engenharia (IME), Gabriel Migowski carrega no currículo nada menos do que a criação de uma empresa aérea na Colômbia. O interesse pelo setor aéreo surgiu já no primeiro emprego depois da faculdade – que o levou a um MBA em Stanford, com apoio do Instituto Ling, em 2007. Depois da formatura na pós-graduação em Stanford, partiu para a Colômbia apenas com um projeto em mãos, e junto dos sócios, transformou os 15 milhões de dólares de investimento em 100 milhões.

Natural de Bento Gonçalves, hoje mora com a família na Colômbia. Com a venda da empresa aérea VivaColombia em 2015, guinou a carreira rumo às finanças e a internet – e agora, promete revolucionar a indústria aérea unindo tecnologia e gestão.

 

Arriscando desde o início

Ao decidir cursar Engenharia, Gabriel já pensou alto.

Egresso do Colégio Militar de Porto Alegre, foi e estimulado por uma conversa em família (“Quando eu contei (ao pai) que queria fazer engenharia, ele disse para que eu tentasse o ITA [Instituto Tecnológico de Aeronáutica] ou o IME”.

À época, ser aprovado nesses institutos de ensino parecia impossível mesmo para os colegas e professores de cursinho – mas ele decidiu dobrar a aposta. “Desde sempre, tenho espírito competitivo. Fiz o vestibular tanto para o IME quanto para o ITA e entrei nos dois”, conta.

Entre o curso de aeronáutica em São José dos Campos e a faculdade de engenharia no Rio de Janeiro, ele preferiu estudar em terras cariocas, vindo a se formar em Engenharia Elétrica em 2002.

“Fui da primeira turma que teve a possibilidade de fazer a faculdade e, depois, trabalhar fora do exército, então ainda não tinha referências de carreira”, explica.

Junto dos colegas, acabou buscando inspiração e conselhos em um ex-aluno do Instituto, que havia desistido do ofício militar e ocupava um cargo em uma empresa de consultoria. “Como a maioria das empresas ficava em São Paulo, pegávamos o ônibus aos finais de semana para fazer entrevistas”.

E deu certo: graduado, assumiu como consultor na Bain & Company em 2003.

 

Uma virada na rota do voo

Logo no início da trajetória na Bain, Gabriel participou de um projeto de consultoria na área da aviação. A ideia era avaliar uma possível fusão entre a Varig e a Tam. “A fusão nunca chegou a acontecer, mas aprendi muito no processo”.

Enquanto dava os primeiros passos como consultor, começou a se afeiçoar também pelo setor da aviação. Desenvolveu projetos na Colômbia e no Canadá trabalhando junto de empresas aéreas.

Nessa época, cursar um MBA não fazia parte de seus planos de carreira. “Em muitas empresas, era um caminho comum, quase obrigatório. Como eu estava participando de projetos legais, viajando, decidi continuar”.

Quando a rotina se tornou menos estimulante, o engenheiro decidiu que era hora de voltar aos estudos – e a competitividade que o guiou no vestibular o acompanhou mais uma vez nessa troca de caminho. “Fui um pouco maluco e só apliquei para o MBA em Harvard e Stanford. Pensei que, se desse certo, era para ser”.

O resultado positivo também se repetiu: aprovado em Stanford e selecionado na turma de 2007 de bolsistas do Instituto Ling, ele seguiu para a Califórnia.

 

Em Stanford, a ideia que se tornaria realidade

Fundar uma companhia aérea ainda não era um objetivo quando ele chegou a Stanford. A ideia surgiu como um projeto para uma disciplina do MBA. “Um colega, que também tinha trabalhado na indústria aérea e fazia um curso na universidade, me enviou um email pedindo para avaliar esse projeto de empresa aérea regional na Colômbia”.

Como Gabriel tinha experiência não apenas na indústria aérea, mas também no país sul-americano, topou participar da proposta do amigo – e o que começou como um projeto para uma matéria da faculdade logo se tornou uma proposta real de empresa.

“Pela minha experiência, empresas aéreas regionais não são uma boa ideia, mas a Colômbia precisava de uma empresa de baixo custo. Conversei com um colega que tinha sido presidente da Avianca na época em que eu fui consultor, e ele se interessou. Ali, eu vi que essa não era só uma brincadeira do MBA, mas algo real”, lembra.

Em 2009, com o diploma do MBA em mãos, uma oferta de emprego para retornar à Bain & Company e ao Brasil o esperava. Mas ele resolveu arriscar mais uma vez: apostou na ideia da companhia aérea e partiu para a Colômbia com o objetivo de tirar o projeto do papel.

 

Da decolagem à aterrissagem

Foram necessários quatro anos para transformar o “papel” em realidade: a VivaColombia, primeira companhia aérea de baixo custo do país, decolou em maio de 2012.

Depois de mais de 100 apresentações para possíveis investidores, ele e os sócios conseguiram levantar o valor inicial para estruturar a empresa. Nos quatro anos à frente da VivaColombia, os parceiros converteram os 15 milhões de dólares de investimento em 100 milhões.

Na memória, a experiência na Viva ficou gravada como a prova prática de algo que Gabriel já intuía desde o período como consultor.

“Se as pessoas pudessem, estariam viajando o tempo inteiro: as empresas que mais crescem são as que oferecem voos mais baratos, porque todo mundo prefere gastar dinheiro com hotel ou no destino. O problema é que a indústria demora a entender isso”, explica.

Esteve à frente da companhia até novembro de 2012. Além de intensa em aprendizados, a trajetória foi repleta de desafios. “Você pensa que vai chegar um momento de alívio, para relaxar e curtir o que você construiu, mas sempre aparece um novo desafio. A parte mais eletrizante foi começar a operar”, conta.

 

Novos destinos

Em 2013, Gabriel passou a integrar o conselho administrativo da VivaColombia.

“Minha ideia era fazer a companhia ficar muito maior, mas tivemos diferenças importantes entre os investidores”. Assim, em 2015 a empresa foi vendida para investidores irlandeses – hoje, os aviões da Viva fazem parte da frota da Avianca.

Do setor aéreo, a carreira se direcionou para a área financeira – mas não sem carregar, é claro, diversos conhecimentos vindos da experiência de levantar uma empresa do zero.

Passou uma temporada no fundo de investimentos da Dínamo e, em seguida, trabalhou para efetivar a expansão internacional do Boticário. “Em alguns sentidos, foi mais difícil do que a empresa aérea: uma coisa é montar o seu projeto, outra é implementar mudanças em uma empresa que já é grande”.

A visão de longo prazo e um entendimento sobre as dinâmicas político-corporativas são lições que ele carrega desse desafio. De lá, partiu para a Rappi: ajudou a montar o banco da startup fora do Brasil. “O mais legal foi o contato com a tecnologia – ainda não tinha trabalhado com empresas de internet”, conta.

O cotidiano no emprego deu o estalo que Gabriel precisava para retomar sua paixão: o empreendedorismo. Hoje, o objetivo é usar esse conhecimento em tecnologia para aperfeiçoar o funcionamento do setor que o acompanha desde o início da carreira: a indústria aérea.

“A maioria das pessoas pensa que a aviação é uma indústria muito tecnológica, mas não é. A tecnologia ainda é muito antiquada, e isso reflete na forma como as empresas se organizam internamente”, explica.

Segundo ele, a quantidade de falências no setor aéreo se deve justamente a um descompasso entre a demanda dos clientes e a estruturação das empresas.

“Enquanto a maioria das passagens é vendida no mesmo mês da viagem, as empresas precisam ter contratos de aviões, de combustíveis e aeroportos de longo prazo. As empresas aéreas reagem de forma muito lenta ao mercado”, afirma.

Para os próximos anos, a expectativa é lançar um projeto que promete reinventar a forma como as empresas aéreas operam, começando pelo software.

A ideia é fornecer um aplicativo destinado aos usuários de empresas aéreas, que melhore a experiência do consumidor e injete mais tecnologia na forma de operar das companhias.

Mais do que construir empresas lucrativas e bem sucedidas, hoje, 15 anos depois da formatura do MBA, Gabriel enxerga a carreira como uma forma de empregar bem o seu tempo. Vivendo na Colômbia com a esposa e as duas filhas, comenta:

“Chega essa fase em que nos perguntamos onde queremos estar. Quero deixar um impacto positivo, e vejo construir uma empresa como criar também um espaço onde quero gastar meu tempo. É quase uma forma de arte, uma maneira de se expressar”, diz.

31.1.2025

 

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